Por que o mundo não deveria se esquecer de Pol Pot, o terrível e brutal ditador cambojano

de Merelyn Cerqueira 0

Após sólidos 30 anos passados de prometer solenemente “nunca mais”, o mundo assistiu de pé e horrorizado a um outro genocídio se desenrolar, mas desta vez no Camboja.

Em 15 de abril de 1998, a Voice of America anunciou que o Secretário Geral do Khmer Rouge, junto ao criminoso de guerra Pol Pot, seriam extraditados.

Eles enfrentariam um tribunal internacional para serem julgados por crimes de genocídio e contra a humanidade. No entanto, pouco depois deste anúncio, Pol Pot, foi encontrado morte, possivelmente por uma overdose de remédios.  

Embora o governo cambojano tenha pedido uma autópsia, seu corpo foi apenas incinerado e suas cincas jogadas em uma floresta do país, onde outrora teria conduzido suas tropas derrotadas pelo mundo exterior após quase 20 anos de regime. 

Nascido em uma pequena vila de pescadores, sob o nome de Saloth Sar, ele teve a sorte de ser primo-irmã de uma rainha. Por meio dela, Sar teve a oportunidade de estudar em uma das mais prestigiadas escolas do Camboja.

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Mas, ele preferiu fugir desta para estudar em Paris. Lá, conheceu comunistas franceses e, depois de abandonar novamente os estudos, voltou para seu país para avaliar os partidos comunistas locais. 

Sar voltou para casa em 1953, quando começou a trabalhar como professor de literatura francesa. Durante seu tempo livre, costumava organizar seus alunos promissores em quadros revolucionários e se reunir com líderes dos três principais grupos comunistas do Camboja – que pouco depois se fundiriam para formar um de frente unida apoiada pelo Viet Minh.  

Porque grande parte de seu grupo não utilizava armas, toda a ação era concentrada em propagandas virulentas antimonarquista.

No entanto, quando cansaram a paciência do rei do país, Sihanouk, foram exilados e Sair de mudou de Phnom Penh para um campo de guerrilheiros próximo à fronteira do Vietnã. Lá, ele passou grande parte de seu tempo fazendo contatos importantes dentro do governo vietnamita no norte e aprimorando que mais tarde se tornaria a filosofia dominante do Khmer Rouge. 

O culto de Sar 

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No início dos anos 60, Sar ficou desiludido com seus aliados vietnamitas. Ele acreditava que eram fracos em apoio, lentos em comunicações e possivelmente não levando o seu movimento tão a sério. Então, resolveu se mudar novamente.

Neste posto, havia mudado de uma pessoa amigável e acessível para alguém que marginalizava os membros do comitê central em favor de um estilo de liderança mais autoritário.

Ele rompeu com a doutrina marxista tradicional sobre proletários urbanos em favor de uma versão agrário-camponesa do socialismo, uma vez que acreditava que essa mais bem ajustada à demografia do Camboja. 

Após ter perdido o apoio vietnamita e soviético, criou o Partido Comunista do Kampuchea, onde liderava de forma cada vez mais excêntrica.  Então, enquanto apertava o controle sobre o que liderava, o país a sua volta se desfazia.  

Golpe de estado e alianças estratégicas 

Em meio à guerra do Vietnã e as constantes invasões norte-americanas, os cambojanos viviam sob um crescente desespero e medo da política de esquerda do país.

O rei Sihanouk, da mesma forma, não era simpático aos esquerdistas, e cada vez mais tendia a se inclinar para a direita. Então, quando tentou organizar uma eleição que ordenasse a desintegração de todos os partidos socialistas do Camboja, acabou fazendo com que os militantes de esquerda fugissem das prisões para se juntarem aos Khmer Rouge. 

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Com a colaboração dos países estrangeiros, o rei até que conseguiu reprimir os partidos dissidentes. No entanto, porque fazia parte de um regime corrupto, acabou sofrendo um golpe de estado por um autocrata vietnamita de extrema-direita, conhecido como Lon Nol. 

O plano vietnamita era associar Sihanouk a Saloth Sar, cujo movimento agora reunia milhares de pessoas que estavam revoltadas contra Lon Nol.

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Então, deixando o ódio mútuo de lado, ambos trabalharam juntos para recuperar o Camboja.  Então, em 1975, quando o Vietnã do Sul estava sendo invadido pelo Norte, Pol Pot, como havia começado a se chamar, estava pronto para assumir o país.

No dia 17 de abril, duas semanas após a queda do então líder Saigon, quando as forças americanas e estrangeiras evacuavam a capital cambojana, o Khmer Rouge tomou o país.  

Ano Zero  

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O fato é que, Pol Pot havia assumido o controle de um país em ruínas, destruído por uma guerra civil. Tal realidade começou a piorar cada vez mais, uma vez que o ditador exigiu a expulsão de todos os estrangeiros do país e as cidades foram esvaziadas.

Os cambojanos suspeitos de deslealdade eram mortos, bem como os médicos, advogados, jornalistas e outros intelectuais. 

À serviço da ideologia de Pol Pot, o país foi transformado em República Democrática do Kampuchea e o Ano Zero foi estabelecido para a início de uma nova era.

Neste ponto, blocos de casas eram esvaziados, carros eram derretidos e milhões de pessoas eram forçadas a viver em fazendas coletivas, onde eram escravizadas até a morte. 

Crianças eram obrigadas a trabalhar como soldados e o partido punia até mesmo os menores desvios de opinião da população com tortura e morte.

Como as munições estavam escassas, isso era feito por meio sufocamento, afogamento e facadas. Pol Pot trabalhava nos erros de Sianhouk para fortalecer sua base, promovendo também um sentimento contra o Vietnã.

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No entanto, o país sofria cada vez mais, e cada dificuldade era associada à traição vietnamita.  A disputa entre os dois países se agravou em 1980, quando Pol Pot começou a reivindicar áreas fronteiriças para seu império.

O Vietnã, que embora ainda estivesse se recuperando da ocupação norte-americana, conseguiu formar uma força militar substancial, que foi usada para invadir o Camboja.  

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As forças vietnamitas invasoras expulsaram o Khmer Rouge do poder e Pol Pot podia apenas se esconder enquanto centenas de milhares de pessoas famintas fugiam de suas comunas em direção a campos de refugiados na Tailândia.

O reinado de terror do Khmer Rouge havia oficialmente acabado.  No entanto, embora estivesse oficialmente fora, Pol Pot ainda conseguiu manter o controle de seu partido derrotado por mais 15 anos.

Em meados dos anos 90, o novo governo começou a recrutar os desertores do Khmer Rouge, subvertendo a organização.  Eventualmente, Khmer Rouge mudou de cor e ideologia, e muitos dos antigos amigos de Pol Pot morreram ou fugiram para aproveitar suas anistias.

Em 1996, ele perdeu completamente o controle do movimento, e foi condenado à morte por um tribunal do Camboja. Em prisão domiciliar, ele acabou se matando, aos 72 anos de idade, quando estava próximo de responder por todos os seus crimes. 

Fonte: Ati Fotos: Reprodução / Ati

Jornal Ciência