Plutão está emitindo raios X e isso é uma coisa realmente estranha!

de Merelyn Cerqueira 0

Plutão, localizado cerca de mais de 5,9 bilhões de quilômetros do Sol, parece estar emitindo raios X – uma radiação de alta energia associada a gases em temperaturas de milhões de graus. Se confirmada, a descoberta, considerada surpreendente – já que Plutão não tem nenhum mecanismo natural para emitir raios X –  pode reformular nossa compreensão da atmosfera do planeta anão, segundo informações do Gizmodo.

Já era de compreensão dos cientistas que Plutão era um planeta anão frio, rochoso e sem campo magnético. Há décadas atrás, a mesma equipe, liderada por Carey Lisse, um astrofísico do Laboratório de Física Aplicada da Universidade John Hopkins, nos EUA, detectou as primeiras evidências de raios X em um comenta. Logo, eles já sabiam que a interação entre os gases que rodeiam os corpos planetários e vento solar, poderia produzir raios X.  No entanto, à medida que a sonda New Horizons se aproximou de Plutão, começou a detectar sinais de uma atmosfera e raios X de baixa energia.  

Se o Sol está emitindo partículas de alta energia, e essas partículas atingiram o gás frio, as interações atômicas poderiam criar um brilho de raios X que poderíamos ser capazes de ver”, disse Scott Wolk do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian.

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Entre fevereiro de 2014 e agosto de 2015, Wolk e seus colaboradores apontaram o telescópio Chandra X-Ray para Plutão em quatro ocasiões distintas. Eles detectaram sete fótons diferentes de luzes de raios X. As descobertas foram publicadas na revista Icarus. O mistério em questão é que as leituras do telescópio mostraram que os brilhos dos raios X são muito mais elevados do que o esperado em relação à interação entre vento solar e atmosfera.

A descoberta foi considerada especialmente surpreendente porque sugere que a atmosfera de Plutão é muito mais estável do que a atmosfera fugaz, como a de um cometa, que muitos pesquisadores acreditavam ser o caso, antes da sonda passar por ali em julho de 2015. De fato, a New Horizons descobriu que a interação do planeta anão com o vento solar é muito mais parecida com a interação que ocorre em Marte.

Também era possível que os campos magnéticos interplanetários, que concentram mais partículas do vento solar do que o esperado para a região de Plutão, tivessem aparecido nas detecções. No entanto, os fótons de raios X medidos pelos pesquisadores não tinham características solares. “Eles [raios X solares] têm temperaturas de uns milhões de Kelvin”, disse Wolk. “Isso não foi o que vimos. O que vimos foram apenas fótons que parecem ser oriundos de carbono, nitrogênio e oxigênio”.

A explicação mais provável, de acordo com ele, é que as partículas de alta energia do vento solar colidem com detritos que escapam da atmosfera de Plutão, que é feita principalmente dos três elementos mencionados anteriormente, produzindo um alargamento dos raios X visíveis. Se isso for confirmado, significará que a atmosfera de Plutão está fervendo lentamente no espaço.

A maior parte da atmosfera está muito perto da superfície. Mas acima dela, há está uma camada fina e tênue chamada exosfera”, disse Wolk. E é justamente essa camada que parece estar sendo destruída pelo vento solar, emitindo raios X no processo. Os cientistas acreditam que algo semelhante possa estar ocorrendo na atmosfera de Marte há muito tempo.

Contudo, mais investigações serão necessárias para descobrirmos exatamente o que está acontecendo na atmosfera de Plutão e quais os responsáveis. Wolk e seus colegas já estão discutindo a possibilidade de campanhas de observações de acompanhamento com o Chandra, para ver se conseguem obter mais alguns vislumbres de raios X.

Antes deste estudo, Saturno era o único corpo do sistema Solar mais distante conhecido por emitir raios X detectáveis. Se Plutão é capaz de fazer o mesmo, isso implica que os objetos localizados nas profundidades do cinturão de Kuiper também poderiam fazê-lo. 

[ Gizmodo / CCVALG ] [ Fotos: Reprodução / NASA / CXC / JHUAPL / R.McNutt ]

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