Partos por cesáreas podem estar afetando a evolução humana, sugere estudo

de Merelyn Cerqueira 0

Quando pensamos em evolução humana o que geralmente vem a mente é um processo lento que ocorre dentro de um período de milênios. No entanto, este nem sempre é o caso. 

Um estudo publicado em 2016 sugeriu que o sucesso dos nascimentos cesarianos na segunda metade do século XX poderia estar influenciando a evolução humana, segundo informações da Smithsonian.

Desde a Segunda Guerra Mundial, graças aos avanços cirúrgicos, as cesáreas tornaram-se cada vez mais populares e seguras.

Embora tenha sido criada como uma opção de emergência, ela agora virou alternativa para as mulheres que temem as dores do parto normal. Apenas no Reino Unido, cerca de um quarto das mães dão à luz por meio de cesárea, enquanto nos EUA, um terço. Contudo, um grupo de pesquisadores da Universidade de Viena acredita que a popularidade do procedimento pode começar a alterar o curso da evolução humana.

No estudo, publicado na revista Proceedings of the Natural Academy of Sciences, eles sugerem que uma das razões mais comuns para as mulheres optarem por cesáreas é a pelve estreita. E, de acordo com os pesquisadores, o número de bebês “grandes” aumentou 20% desde que o método começou a ser utilizado.

Segundo o biólogo teórico e principal autor do estudo, Philipp Mitteroecker, em entrevista à BBC, este tipo de complicação é uma das muitas razões para a qual esse tipo de cirurgia foi projetada.

No entanto, antes da invenção da cesariana, esta condição que era mortal, significava que os genes dificilmente eram transmitidos através das gerações.

“Sem a intervenção médica moderna, tais problemas eram frequentemente letais e isso, de uma perspectiva evolutiva, seletivo”, explicou Mitteroecker. “As mulheres com uma pelve muito estreita não teriam sobrevivido ao nascimento há 100 anos. Eles fazem isso agora e transmitem seus genes codificando uma pelve mais estreita para suas filhas”.

Entretanto, os pesquisadores enfatizam que o estudo é preliminar e, portanto, não podemos saber com certeza se de fato uma mudança evolutiva está acontecendo. “A equipe de Mitteroecker não produziu nenhuma evidência de que está acontecendo. O estudo foi o trabalho teórico, com base em conectar figuras observadas para a taxa de parto obstruído em seus modelos”, lembrou Clare Wilson, da The New Scientist.

Ainda, o aumento que a equipe previu é pequeno, de cerca de 3% para aproximadamente 3,6% nos dias atuais, e há muitos outros fatores que podem interferir nas conclusões. Por exemplo, muitas mulheres estão tendo bebês mais tarde na vida, o que significa que estão dando à luz quando seus corpos são menos flexíveis. Além disso, o peso e outros problemas de saúde também podem desempenhar um papel importante para um médico recomendar a cirurgia.

“Eu acho que coisas mais importantes nesta questão da evolução é o fato de que a diabetes está se tornando muito mais comum em uma idade mais jovem, então vemos muito mais mulheres ainda em idade reprodutiva com diabetes”, disse Daghni Rajasingam, um consultor de obstetrícia e porta-voz do Royal College of Obstetricians. “Isso tem consequências sobre o fato de precisarem ou não de uma cesariana”.

Embora os cientistas apontem para o vínculo, a verdade é que a cesariana, desde que começou a ser utilizada, já salvou muitas vidas. No entanto, vale lembrar que é importante entendermos melhor a história por trás da evolução de nossa espécie.

Fonte: Smithsonianmag / NCBI Fotos: Reprodução / Smithsonianmag

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