Papa do século XVI enterrou o corpo de um elefante dentro do Vaticano

de Merelyn Cerqueira 0

Presente do Rei Manuel I, de Portugal, ao Papa Leão X, o elefante era conhecido como Hanno. Entretanto, o animal não era apenas de estimação. Ele desempenhou um papel importante na política de expansão portuguesa e teve participação especial na Reforma Protestante.

Nenhum elefante havia sido avistado na Itália desde a queda do Império Romano, sendo assim, o elefante do Papa era considerado uma maravilha e todas as pessoas desejavam vê-lo. Hanno chegou à Itália no inverno de 1514, um ano após João de Lourenço de Médice ter sido eleito como papa.

Mesmo não sendo um elefante grande (seus ombros estavam a uma altura de pouco menos de 2 metros do chão) ele foi capaz de deixar um rastro de destruição por onde passava. Incapaz de se mover com rapidez, especialmente nas estradas mais danificadas, que acabavam machucando as suas patas, Hanno chamava atenção por onde passava. As pessoas faziam de tudo para vê-lo, chegavam a pisotear os campos, escalar muros e telhados apenas para ter um pequeno vislumbre do animal.

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No início do século XVI, a monarquia portuguesa estava expandindo o seu alcance e influência por todo o mundo, negociando com a Índia e com as Índias Orientais o controle sobre o comércio de especiarias. Graças a essa empreitada comercial, o zoológico de Lisboa estava recebendo criaturas de todas as partes do mundo. Era uma tradição portuguesa enviar animais aos papas, mas até então só haviam sido enviados papagaios, leopardos e macacos.

No momento em que Médice foi eleito papa, o Rei Manuel I vislumbrou uma oportunidade política e financeira se aproximando. Ele concluiu que poderia pedir dinheiro para expandir sua frota de navios e artilharia, além de pedir a benção do Papa para dar continuidade ao expansionismo português. Ele planejou tudo cuidadosamente: enviou tecidos, tesouros, um leopardo, uma chita, papagaios, cães, um cavalo Persa e Hanno.

A primeira aparição de Hanno ao povo e ao Papa, foi um tanto dramática, mas de boa impressão. O elefante caminhou pelas ruas de Roma completamente adornado e com uma torre de prata em suas costas. Ele se ajoelhou para o Papa, levantou-se e jogou a tromba três vezes no ar, depois encheu-a de água e molhou todos que ali estavam, inclusive o pontífice. 

A estadia de Hanno no Vaticano foi curta, porém positiva. O elefante chegou ao Papa com 4 anos de idade e morreu aos 7. Em 1516, ele começou a sentir dificuldades para respirar e demonstrava estar com muita dor. Os médicos acreditavam que ele estava constipado, e para tentar tratá-lo, criaram um supositório e com uma certa quantidade de ouro, um tratamento comum na época. No entanto, isso acabou matando ele.

O Papa lamentou muito a morte de seu elefante e chegou a escrever um hino em sua homenagem. Seu corpo foi enterrado na Cortile del Belvedere, no Vaticano, e descoberto em fevereiro de 1962 por um grupo de trabalhadores italianos que cuidava do sistema de aquecimento do lugar.

[ Atlas Obscura ] [ Foto: Reprodução / Atlas Obscura ]

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