Morcegos brasileiros estão se alimentando de sangue humano

de Gustavo Teixera 0

Por mais intimidadores que pareçam, os morcegos-vampiros não costumam incomodar os humanos.

Na verdade, especialistas pensavam que a espécie se alimentava quase exclusivamente de aves. Mas pesquisadores descobriram que morcegos do Nordeste do Brasil conseguiram evoluir. Eles foram flagrados alimentando-se de seres humanos durante a noite, algo que ninguém pensava ser possível.

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“Ficamos bastante surpresos”, disse Enrico Bernard, da Universidade Federal de Pernambuco, ao site New Scientist. “Essa espécie não está adaptada para se alimentar do sangue de mamíferos”, completou Bernard. Antes que os cientistas fizessem essa descoberta bastante perturbadora, se você tivesse que escolher uma espécie de morcego para se preocupar, o Desmodus rotundus teria sido a escolha óbvia.

Existem três espécies de morcegos-vampiros, todas nativas das Américas, e o morcego-vampiro-comum é o único que prefere o sangue de mamíferos. Animais domesticados, como vacas, cavalos e porcos, são os preferidos desses animais noturnos. Além disso, apesar de terem um gosto pelo sangue de mamíferos, raramente atacam humanos. O que teoricamente deve manter os seres humanos a salvo desses morcegos é que a adaptar sua dieta de sangue é algo extremamente difícil para um morcego.

Adaptações morfológicas, fisiológicas e comportamentais são necessárias para que uma espécie passe a se alimentar de sangue e, repentinamente, mude de sangue de aves para sangue de mamífero. “O sangue de mamíferos e pássaros diferem em sua composição, principalmente em termos de nutrientes. O sangue de pássaros, por exemplo, tem maior quantidade de água e gordura, enquanto o sangue de mamífero é rico em matéria seca, principalmente proteínas”, relatou Bernard.

Estudos sobre a fisiologia alimentar do morcego D. rotundus mostraram que a espécie possui características que permitem maior eficiência no processamento de proteínas. Por outro lado, espécies com preferência por sangue de pássaro, como D. youngi e D. ecaudata, têm maior capacidade de processar e usar as grandes quantidades de gordura encontradas no sangue de suas presas.

E não são apenas desafios teóricos que parecem estar envolvidos na mudança dietética de um morcego. Como a especialista Sandrine Ceurstemont relatou para o site New Scientist, experimentos anteriores mostraram que, quando apenas sangue de porco e de cabra foi disponibilizado aos morcegos habituados ao sangue de aves, muitos optaram por não comer, invés de diversificarem a dieta, e alguns até morreram de fome.

Mas quando Bernard e sua equipe investigaram as dietas de uma colônia de morcegos-vampiros nas florestas secas da Caatinga no Nordeste do Brasil, encontraram algo estranho. A análise genética de 15 amostras fecais continha DNA de aves, conforme o esperado, mas 3 delas continham uma mistura de DNA humano e de pássaro, evidência de que esses indivíduos tinham se alimentado de ambos.

As aves domesticadas, como galinhas, apresentam uma opção mais tentadora diante das grandes aves selvagens, e como muitos dos habitantes locais mantêm suas galinhas em contato próximo, os morcegos desenvolveram um gosto diferente. “As condições domésticas em Catimbau são geralmente pobres, e os animais domésticos ficam geralmente em contato próximo com seres humanos, o que pode explicar a ocorrência de sangue de galinha e de humano em nossas amostras”, relatou a equipe de Bernard.

Há um monte de questões, e a maior delas é: como uma colônia de morcegos foi capaz de processar sangue humano? É de conhecimento geral que a espécie evoluiu para digerir sangue de pássaros, rico em gordura. A outra questão é se isso poderia representar um risco para os seres humanos.

Daniel Becker, da Universidade da Geórgia, que não estava envolvido no estudo, disse ao site New Scientist, que a espécie pode transportar o hantavírus, um gênero que agrupa vários vírus ARN, e isso pode ser fatal para os seres humanos que forem infectados por ele. A pesquisa foi publicada no site Acta Chiropterologica.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert / Wikimedia ]

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