Há um certo ar de beleza e poesia quando uma pessoa decide que seus momentos de vida devem ficar apenas na memória de entes queridos sem a necessidade de existir um corpo para chorar posteriormente?
Avanços tecnológicos e mudanças na mentalidade da população parece tornar inquietante uma pergunta: colocar uma pessoa dentro de um caixão é a única forma ou opção como “descanso final”?
Alguns moradores de Washington, nos EUA, têm uma nova visão sobre a resposta, e dizem que devamos retornar à terra.
Um projeto de lei patrocinado pela Assembleia Legislativa do estado ode tornar Washington o primeiro a legalizar a compostagem humana.
O projeto, apoiado por senadores como Jamie Pedersen, permite que restos humanos possam ser usados para adubar plantas – um processo que segundo eles transformaria o solo, fornecendo centenas de nutrientes.
![](https://www.jornalciencia.com/wp-content/uploads/2019/01/adubo-humano_1.jpg)
“Pessoas de todo o estado que me escreveram estão muito empolgadas com a perspectiva de fazerem parte de uma árvore ou terem uma alternativa diferente sobre si mesmas”, disse Pedersen à NBC News.
Embora a ideia de fazer uma pessoa virar “adubo” e fazer parte de uma árvore quando ela absorver seus nutrientes não seja uma ideia completamente nova, o estado norte-americano parece estar na frente de outros estados e países que tratam este conceito com tabu.
A ideia não é apenas futurista, mas extremamente econômica. Muitos norte-americanos estão pedindo socorro nas redes sociais e também através de crowdfunding (sites especializados em “vaquinha” onde uma pessoa pode apresentar um projeto ou drama pessoal para receber ajuda financeira e doações de internautas), de acordo com a revista Forbes.
Estima-se que nos EUA um funeral de custo médio alcance a incrível cifra de US$ 7.000 dólares (o equivalente a quase R$ 26 mil) – de acordo com dados da National Funeral Directors Association.
Mas, apesar do que se imaginava, os custos em transformar alguém em adubo não são tão baixos, podendo chegar a US$ 5.700, equivalente a R$ 20 mil.
O processo seria semelhante ao que já ocorre na agricultura. O corpo não seria embalsamado, deixando-o para ser decomposto com matéria orgânica, como lascas de madeira ou palha.
Os gases resultantes seriam sugados por uma câmara para ajudar os microrganismos a acelerar o processo e, em cerca de 1 mês, uma pessoa seria transformada em 1 metro cúbico de adubo orgânico.
Algo assim já foi realizado?
Um estudo de 5 meses usou 6 corpos de doadores para serem decompostos. A pesquisa, liderada por Lynne Carpenter-Boggs, professora da associação Agricultura Sustentável e Orgânica do Estado de Washington, mostrou que é preciso ser uma decomposição minuciosa e muito bem controlada para não espalhar vírus e bactérias nocivas – preocupação que levou uma lei semelhante de 2017 ser barrada.
O estudo de Lynne demonstrou em agosto de 2018 que os restos produzidos pelos cadáveres eram seguros. Ela planeja publicar sua pesquisa em revistas científicas agora em 2019.
Se o projeto de lei for aprovado, ele entrará em vigor no dia 1 de maio de 2020.
A ideia central é abrir novas possibilidades para as pessoas decidirem sobre o que acontecerá com seu corpo após a morte, tomando para si a responsabilidade de decidir o qual o “fim” que levará seus restos mortais.
Não está claro se a pesquisa planeja usar os restos mortais na agricultura algum dia ou ficará focada somente em árvores de cultivo para jardins e paisagismo.
Fonte: Science Alert Foto de Capa: Reprodução / Futurism