O Documentário produzido em 1992, chamado “Child of Rage” (no Brasil, “A Ira de Um Anjo”), exibiu a história real de Elizabeth Thomas, estreando no canal norte-americano CBS. Tratava-se de uma das produções mais chocantes já feitas pela televisão.
As filmagens contam a história da menina, que fez as revelações com apenas 6 anos. No mesmo ano da divulgação, foi diagnosticada com uma desordem emocional chamada Transtorno de Apego Reativo, que afeta bebês e crianças.
A principal característica dessa condição consiste na falta de sociabilidade e de empatia, essenciais antes dos 5 anos, para uma interação social adequada. Por esse motivo, ela era incapaz de se relacionar com as pessoas ou de sentir afeto.
O histórico de abuso
O psicólogo clínico Dr. KenMagig diz que tudo começou quando, com apenas 1 ano de vida, começou a ser violentada sexualmente pelo pai biológico. Beth era filha adotiva e os pais não sabiam do histórico de abuso ocorrido anteriormente.
Especializado no tratamento de crianças que passaram por esse tipo de evento traumático, ele diz que tal abuso no início da vida pode impedir que elas se conectem emocionalmente com outras pessoas.
Logo, seriam incapazes de sentir ou receber amor. Nessas condições, os portadores do Transtorno de Apego Reativo poderiam ferir ou matar sem qualquer remorso, porque não foram ensinados sobre empatia ou sociabilidade.
Após a morte de sua mãe biológica, Beth (com apenas 1 ano) e seu irmão, Jonathan (que apenas 1 mês de idade), ficaram sob a guarda do pai biológico. Foi quando o inferno começou.
Beth foi abusada pelo pai por longos 19 meses. Jonathan, muito bebê, foi negligenciado e não era cuidado pelo pai, sendo deixado de lado. Apenas após quase 2 anos, o serviço de proteção à criança salvou os dois irmãos, colocando-os para adoção.
As consequências
Como previsto, Beth acabou desenvolvendo uma personalidade psicopata. Foi no documentário que ela contou sentir desejo constante de matar a família e demostrou isso quando guardou facas de cozinha, embaixo do colchão, para cometer o crime.
O Dr. KenMagig diz que, apesar de ter sido rotulada erroneamente de psicopata, ela apenas apresentava as características da personalidade psicopata, mas não era uma. Ela era incapaz de sentir empatia, já que não recebeu empatia nos primeiros estágios de vida, e seu cérebro aprendeu a ser assim.
Elizabeth planejou diversas vezes a morte de seus pais adotivos, Tim e Julie Tennant. Sem qualquer remorso ou culpa, ela demonstrava saber o significado e resultado de suas ações, sempre desejando esfaqueá-los.
Tinha crises constantes, se cortava, e os pais adotivos eram obrigados a trancá-la no quarto à noite, com medo de que Beth pudesse matá-los durante o sono, onde estariam vulneráveis.
A adoção
O casal adotou Beth, juntamente com seu irmão mais novo, Jonathan, em fevereiro de 1984. No entanto, eles não sabiam sobre as sessões de tortura e abusos sexuais e psicológicos que o pai dos irmãos havia cometido, tampouco os traumas que ambos carregavam — e a gravidade que isso poderia acarretar para a família.
Com o passar do tempo, os pais notaram que a menina apresentava um altíssimo grau de violência, hostilidade e comportamento inadequado para sua idade.
Entre suas ações comuns, estavam: pegar um ninho de passarinho apenas para matar os filhotes; esfaquear e perfurar o cão da família, torturando-o constantemente; sufocar o irmão enquanto ele dormia e empurrá-lo da escada várias vezes, buscando matá-lo na queda.
Beth chegou a citar no documentário que abusava sexualmente do seu irmão mais novo — uma das partes mais chocantes do programa. Ela tinha apenas 6 anos quando falou abertamente, na frente das câmeras, o que pensava, planejava e executava. Ela também se insinuado sexualmente para seu avô.
Felizmente, a família adotiva jamais abandonou os irmãos e investiu muito na reabilitação de Beth. Eles oram obrigados a interná-la em uma clínica para crianças que sofriam de desordens mentais.
O tratamento
Seu tratamento era urgente e precisava ser intensivo e extensivo. Por isso foi internada. Ela podia matar uma pessoa a qualquer momento.
Um longo tratamento teve início para desfazer os efeitos dos traumas cometidos pelo pai biológico. Seu transtorno é considerado incurável, mas ela parece ter conseguido driblar ou acalmar as adversidades de sua mente caótica.
Levou décadas de terapia intensiva de apego para que Beth Thomas demonstrasse melhoras significativas. O psicólogo Dr. KenMagig foi o responsável por seu tratamento.
Como está hoje?
As últimas notícias divulgadas à imprensa, em 2021, mostram que Elizabeth Thomas tornou-se enfermeira e trabalha atuando em um hospital na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e ajuda crianças que também foram abusadas.
Além disso, tornou-se autora de livros, e viaja o mundo fazendo palestras para contar sobre sua história e de sucesso e superação. Apesar do Transtorno de Apego Reativo ser considerado incurável, Beth parece ter conseguido superar seus traumas. Mas, seria isso verdade?
Alguns psicanalistas não acreditam
De acordo com a visão de estudiosos da mente, cérebro e comportamento, Beth conseguiu, na verdade, aprender a fingir e reprimir seus instintos psicopatas para viver em sociedade.
Para Joseph Luis Cano Gil, psicoterapeuta, de Barcelona, Espanha, o tratamento imposto a Beth foi extremamente rigoroso e costumava ser usado em crianças com o mesmo transtorno ou que não seguiam as regras sociais.
Todo o trabalho feito em sua internação, no centro de recuperação, tinha como único objetivo permitir que Beth se adaptasse ao mundo, para saber como viver em sociedade, segundo o psicoterapeuta.
“Beth foi separada da sua família e submetida a uma sinistra ‘Terapia do Apego’, baseada principalmente no controle, repressão e humilhação das crianças”, revelou Joseph Luis.
Para Joseph, ela apenas aprendeu a controlar seus sentimentos de raiva, tomar consciência de seus atos através da sensibilização e autoestima, o que força desenvolver a capacidade de aceitar normas e gerenciá-las, canalizando e entendendo o motivo que a faz sentir raiva.
Terapeutas como Joseph Luis consideram que, tecnicamente, Beth aprendeu a fingir, porque sua dor e o seu ódio não foram tratados, mas somente as consequências das suas ações negativas.
As aparências enganam?
Se Beth conseguiu se curar ou manter o controle completamente, isso revela uma história inspiradora e permite aos profissionais de saúde mental a esperança de melhoria em outros casos de transtornos derivados ou acionados após abusos na infância.
Apesar dos relatos atuais sobre a saúde mental de Beth serem positivos, ninguém sabe como ela realmente se sente. Contudo, o caso lança uma luz sobre como a criação afeta a personalidade dos filhos.
Segundo informações oficiais, o Transtorno de Apego Reativo é um distúrbio psicológico grave e está listado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Se desenvolve durante a infância e não pode ser completamente curado.
Fonte(s): The Sun Imagens: Reprodução / CBS / Redes Sociais