Qual é a diferença entre um psicopata e um sociopata?

de Gustavo Teixera 0

Você os vê na tela do cinema. Você lê sobre eles no jornal. Eles são calculistas, carismáticos, e têm coração frio. Mas são psicopatas ou sociopatas?

Mesmo na Psicologia, você vai ter um monte de opiniões conflitantes entre si. Algumas pessoas acreditam que os psicopatas nascem, enquanto os sociopatas são moldados como produtos de infâncias difíceis e ambientes domésticos traumáticos. Outros dizem que “sociopata” é apenas a palavra mais recente para “psicopata”, mas na verdade não há consenso real.

Mas pode haver uma razão para isso: nem “psicopata” nem “sociopata” são diagnósticos clínicos. São termos comuns para pessoas que exibem traços de personalidade patológicos. Nos Estados Unidos, esses traços se enquadram no diagnóstico de transtorno de personalidade antissocial, ou conhecido também pela sigla APD, de acordo com a Associação Psiquiátrica Americana, que publica o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. A Organização Mundial da Saúde chama esse transtorno de personalidade dissocial, ou DPD.

APD e DPD são essencialmente a mesma coisa. Para ser diagnosticado com qualquer uma dessas condições, uma pessoa deve exibir “desrespeito e violação dos direitos dos outros.” O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais lista 6 critérios principais:

1 – Impedimentos de personalidade, incluindo a falta de remorso, egocentrismo, “estabelecimento de metas com base na gratificação pessoal”, e a incapacidade de formar relações mutuamente íntimas.

2 – Traços de personalidade patológicos, incluindo manipular, enganar, ter insensibilidade, hostilidade, irresponsabilidade, impulsividade e correr riscos.

3 – Esses traços de personalidade e deficiências devem ser estáveis e consistentes ao longo do tempo.

4 – Esses traços de personalidade e deficiências não são normais para o estágio de desenvolvimento da pessoa, sendo que muitas crianças podem ser facilmente descritas como psicopatas.

5 – A personalidade e o comportamento da pessoa não são explicados por uma condição médica ou abuso de substâncias.

6 – A pessoa tem de ter pelo menos 18 anos de idade, sendo este um critério controverso, uma vez que muitos psicólogos sentem que as crianças podem começar a exibir sinais de APD quando ainda muito jovens.

Outro “teste de psicopata” é o “Psychopathy Checklist-Revised”, ou o PCL-R, uma lista de 20 perguntas usada por pesquisadores, clínicos e tribunais para medir as tendências antissociais. Vale a pena mencionar que há uma grande diferença entre psicopatia e psicose. As duas palavras soam semelhantes e são usadas como insultos, mas é aí que a semelhança termina. Ao contrário da psicopatia, a psicose descreve a condição de perder contato com a realidade, sofrer rápidas mudanças de personalidade e ter problemas para funcionar. Os termos são tipicamente mutuamente exclusivos. A maioria das pessoas com APD nunca terá psicose e vice-versa.

Os cientistas ainda não sabem o que causa o APD. Alguns reconhecem duas formas de psicopatia, primária e secundária, cada uma com seu próprio conjunto de causas e manifestações. Infâncias traumáticas e ambientes difíceis podem definitivamente contribuir, mas há também um componente fisiológico claro. Uma variante genética chamada MAOA-L foi associada a um aumento do risco de comportamento violento e agressivo, e pesquisas cerebrais de pessoas com APD mostram baixa atividade em áreas relacionadas com a empatia, moralidade e autocontrole.

Isso não significa que todos com APD sejam violentas nem más. Muitos casos de APD não são diagnosticados porque as pessoas em questão estão vivendo vidas de maneira bem-sucedida e comum. Para provar, temos o neurologista James Fallon: Fallon passou décadas pesquisando o lado anatômico da chamada psicopatia. Sua pesquisa ajudou a identificar áreas de diferença no cérebro de pessoas com APD. Um dia em 2005, Fallon estava olhando os exames de cérebro de pessoas com APD, bem como os de pessoas com depressão e esquizofrenia.

Em sua mesa ao havia uma pilha de exames de membros da família de Fallon, feitos como parte de um estudo sobre a doença de Alzheimer. “Eu cheguei ao fundo da pilha, e vi esse exame que era obviamente patológico”, disse ele ao instituto de pesquisa e educação Smithsonian. O cérebro na imagem parecia pertencer a um psicopata, mas as pesquisas no fundo da pilha pertenciam aos membros de sua família. Confuso, ele decidiu procurar o código do exame para determinar de quem era cérebro para qual estava olhando.

Ele descobriu que era seu próprio cérebro. Fallon não podia acreditar. Seu primeiro pensamento foi que sua pesquisa tinha ficado errada, e que a baixa atividade nessas áreas cerebrais não tinha nada a ver com APD. Depois falou com a família. E o que eles falaram foi: claro que você é um psicopata. Sua mãe, esposa e filhos tinham reconhecido e vivido com seus problemas de personalidade o tempo todo.

Fallon passou por mais testes, e o diagnóstico se confirmou. Com o tempo, ele percebeu que sempre soube. Ao longo de sua vida, ele escreveu em um editorial no jornal britânico The Guardian, dizendo que estranhos tinham comentado que ele parecia “mal”, mesmo ele nunca sendo violento, e além disso ele nunca havia colocado outras pessoas em perigo. “Sou extremamente competitivo. Eu não vou permitir que meus netos percam jogos. Sou agressivo, mas minha agressão é sublimada, eu prefiro ganhar de alguém em uma discussão do que bater”, disse ao jornal.

Fallon acredita que seu relativo sucesso pode ser o resultado de crescer em um ambiente saudável e estável, com muito apoio. Ele foi criado em um lar amoroso, que, segundo ele, pode ter ajudado a superar alguns de seus piores impulsos. APD atualmente não tem cura. Encontrar métodos de tratamento bem-sucedidos é complicado, em parte porque as pessoas com APD tendem a se sentir muito confortáveis com suas personalidades e a ter pouca motivação para mudar. Ainda assim, alguns, como Fallon, estão determinados a serem pelo menos um pouco melhores.

Desde que descobri tudo isso passei a investigar, fiz um esforço para tentar mudar meu comportamento Eu tenho cada vez mais conscientemente feito coisas que são consideradas a coisa certa a fazer, e pensar mais sobre os sentimentos dos outros”, finalizou Fallon.

[ Mental Floss ] [ Foto: Reprodução / Mental Floss ] 

Jornal Ciência