Cientistas ensinaram pessoas comuns a duplicarem sua memória em apenas 40 dias

de Merelyn Cerqueira 0

Embora as pessoas com supercapacidade de memorização sejam raras, um novo estudo descobriu que um cérebro humano comum pode aprender a mesma habilidade com apenas pouco mais de um mês de treinamento.

 

O estudo, publicado na revista Neuron, constatou que o cérebro de um indivíduo comum não é estruturalmente diferente de um com essa capacidade, o que significa que ainda há esperança para todos nós. Essa ideia foi proposta por pesquisadores do Centro Médico da Universidade Radboud, na Holanda, que estudaram o cérebro dos 23 melhores competidores dos Campeonatos Mundiais de Memória – em que pessoas com grandes habilidades de memorização competem para lembrar mais palavras de uma lista previamente apresentada.

 

Cérebros comuns X superdotados

Na verdade, os pesquisadores descobriram que a anatomia cerebral desses superdotados não tinha nada de especial em comparação a pessoas comuns de idade, saúde e inteligência semelhantes. No entanto, os cérebros dos competidores mostraram mudanças específicas na conectividade cerebral de regiões que trabalham juntas, mas de maneiras diferentes.

 

Como a conectividade cerebral é conhecida por ser flexível, os pesquisadores resolveram testar se as pessoas comuns poderiam ser treinadas para melhorar significantemente suas memórias. Então, após treinar 51 delas por 30 minutos durante 40 dias, a equipe descobriu que uma técnica em particular duplicou a capacidade de memorização dos participantes do estudo. Em média, de uma lista de 72 palavras, eles conseguiram lembrar cerca de 62, sendo que anteriormente a média lembrada era de 26 palavras.

 

Ainda, os pesquisadores notaram que os padrões de conectividade cerebral destes participantes comuns se tornaram mais semelhantes aos dos competidores. E quatro meses após o experimento, em que permaneceram realizando o treinamento, eles notaram que o desempenho de memorização permaneceu alto. Não só podemos induzir uma mudança de comportamento, como o treinamento também induziu padrões de conectividade cerebral semelhante aos vistos nos atletas”, explicou o neurocientista Martin Dresler, principal pesquisador do estudo.

 

Ainda, de acordo com Dresler, faz sentido que o cérebro dessas pessoas não seja diferente, uma vez que nenhuma delas nasceu com habilidades excepcionais de memória.“Eles, sem uma única exceção, treinaram durante meses e anos usando estratégias mnemônicas para atingir esses altos níveis de desempenho”, disse.

 

O treinamento

Os 51 voluntários foram divididos em três grupos: dois que foram submetidos a treinamentos cerebrais diferentes e um de controle. Depois, foram todos submetidos a exames cerebrais antes e após o treinamento. Enquanto que o primeiro grupo utilizou métodos de memória de curto prazo – em que os indivíduos deveriam recordar sequências de jogos de concentração, o segundo recebeu um de memória estratégica, ou seja, deveria lembrar, de uma forma sistemática, o padrão de listas.

 

Neste caso, o método usado foi o de loci (palácio da memória), que consistia em associar itens da lista com um lugar comum, e em seguida “navegar” por esse espaço em suas mentes, a fim de lembrar o que era pedido. Dos grupos, o que trabalhou a memória estratégica teve melhor desempenho. Notavelmente, essas mudanças pareciam centrar-se em torno de duas regiões específicas do cérebro: o córtex pré-frontal mediano – conhecido por estar ativo quando os indivíduos relacionam novos conhecimentos a outros pré-existentes – e o córtex pré-frontal lateral dorsal direito – envolvido em esforços de aprendizado estratégico.

 

Faz sentido que essas conexões sejam afetadas”, disse Dresler. “São exatamente as que queremos usar para o método loci de memorização”. É importante ressaltar que o estudo ainda está em fase inicial e foi realizado em uma amostra pequena de pessoas. Os pesquisadores admitem estar apenas começando a entender como nossa memória funciona. Logo, mais pesquisas são necessárias para termos uma ideia melhor de como o treinamento de memória estratégica pode afetar a conectividade cerebral.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ]

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