Cientistas acreditam que podemos encontrar vida extraterrestre em nuvens de estrelas fracassadas

de Merelyn Cerqueira 0

Segundo pesquisadores da Universidade de Edimburgo, Reino Unido, se realmente temos interesse em um dia encontrar vida além da Terra, precisamos saber exatamente onde procurar. Esse lugar, conforme relataram em um estudo que será publicado pelo The Astrophysical Journal, é a atmosfera superior das frias estrelas anãs marrons – objetos estelares maciços localizados em algum lugar entre planetas e estrelas maiores, mas que não possuem massa suficiente para uma reação nuclear. Logo, as pressões e temperaturas encontradas nessa região superior poderiam ser semelhantes às da Terra, permitindo assim o sucesso de micróbios, segundo informações da Science Alert.

De acordo com Jack Yates, cientista planetário envolvido no estudo, “você não necessariamente precisa ter um planeta terrestre com uma superfície” para isso. Tais anãs marrons são feitas exclusivamente de um gás turbulento, e Yates e sua equipe investigaram uma em especial, identificada como WISE 0855-0714, descoberta em março de 2013 e localizada a cerca de 7 anos-luz de distância da Terra. Cálculos foram desenvolvidos pelo notório astrônomo Carl Sagan, concebidos originalmente para trabalhar a possibilidade da existência de vida em Júpiter. Pesquisadores adaptaram-nos para funcionar com o que já se sabia sobre as nuvens de gás gigantes como WISE 0855-0714.

Sagan acreditava que organismos semelhantes aos plânctons, chamados de “platinas” (sinkers), e criaturas semelhante a um balão, chamadas de “flutuadores” (floaters) poderiam estar vivendo na atmosfera de Júpiter. Sua hipótese original dizia que tais criaturas não necessariamente precisariam de um terreno duro para sobreviver. Logo, Yates considerou que tais organismos também poderiam crescer em anãs marrons, vivendo entre os gases quentes mais baixos e as camadas exteriores mais geladas próximas ao espaço.

Também foram levados em consideração estudos sobre os plânctons terrestres, que visavam descobrir se formas semelhantes de vida seriam capazes de sobreviver às condições de uma anã marrom. “Argumentamos que uma atmosfera assentada acima de uma superfície potencialmente inabitável planetária pode ser o suficiente para sustentar a vida”, explicaram os pesquisadores no artigo. “Ao fazer isso, definimos uma zona habitável atmosférica (AHZ)”.

No entanto, muito da sugestão proposta depende da semelhança de ventos entre as estrelas fracassadas e os de Júpiter e Saturno, que seriam necessários para ajudar a manter os microrganismos mais pesados no ar. Mas, com base em observações passadas, cientistas acreditam que muitos dos ingredientes químicos para a vida já estão presentes ali, incluindo carbono, hidrogênio, nitrogênio e oxigênio. Além destes, a temperatura também provou ser um fator importante, e a estrela fracassada em questão foi escolhida porque é a anã marrom mais fria já encontrada – em algumas regiões ela pode possuir a mesma temperatura da Terra.

Em números, estima-se exista cerca de 1 bilhão de anãs marrons em nossa galáxia, sendo que algumas podem estar relativamente perto da Terra. Isso significa que poderíamos ter muito mais lugares para explorar vida alienígena no futuro, e o Telescópio Espacial James Webb, da NASA, poderia ser uma ferramenta importante para isso. Por enquanto, a ideia permanece praticamente hipotética, mas, se os pesquisadores estiverem certos, essa seria a hora de abandonarmos a ideia de que formas de vida precisam de solo e água para sobreviverem.

Para o astrobiólogo britânico Duncan Forgan, da Universidade de St. Andrews, que não esteve envolvido no estudo, algumas questões ainda precisam ser respondidas, como por exemplo, como essa vida teria sido desencadeada. “Ter pequenos micróbios que flutuam para dentro e fora da atmosfera de uma anã marrom é maravilhoso, mas você primeiro precisa colocá-los lá”, disse em entrevista à Science.

Pode ser que estes organismos tenham resultado de reações químicas de grãos de poeira que flutuam na atmosfera. Ou ainda, poderiam ter chegado ali por meio de nuvens formadas pela passagem de um asteroide. O fato é que para essa questão há apenas especulações, mas, segundo Forgan, é isso que torna a pesquisa tão promissora.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ]

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