Localizada no sopé das Montanhas Macyo, em Aragão, Espanha, a pequena e pitoresca aldeia foi atormentada por uma maldição tão forte que somente um Papa poderia retirá-la – de acordo com a crença sobre o assunto.
Chamada de Trasmoz, ela um dia abrigou uma população de 10 mil pessoas, mas hoje restaram apenas 62 habitantes, dois quais apenas 30 vivem lá permanentemente.
Para muitos, a ruína da aldeia tem a ver com uma maldição colocada ali pela Igreja Católica há séculos, sob o estigma associado à bruxaria. A história do local está repleta de lendas de bruxas e rituais pagãos, e até mesmo um castelo em ruínas que existe ali é dito ter sido construído em uma única noite por um mago chamado Mutamín.
Lola Ruiz Diaz, guardiã do castelo, disse que os rumores de bruxaria foram iniciados pelos ocupantes do local, durante o século 13. Eles haviam começado a forjar moedas falsas para manter os moradores crentes nas lendas, contavam histórias sobre bruxas e magos, forjavam caldeirões para poções e muito mais, fazendo com que o lugar fosse visto como um refúgio para a feitiçaria.
Os boatos levantaram a ira da Igreja Católica. Nessa época, a aldeia era considerada uma próspera comunidade, cheia de minas de ferro e prata, bem como abundância de madeira e reservas de água. Era também um estabelecimento secular, o que significava que as pessoas dali não tinham de pagar taxas ou impostos para o Mosteiro de Veruela, localizado em uma região vizinha. Isso enfureceu ainda mais os membros da Igreja Católica, que na primeira oportunidade não perdeu a chance de punir todos os habitantes, solicitando que o arcebispo de Tarazona, uma comunidade próxima, excomungasse todos eles. Assim, os residentes de Trasmoz não eram mais autorizados a ir aos confessionários ou tomar os santos sacramentos na Igreja.
O arrependimento era a única maneira de remover a excomunhão, porém, ao invés disso, os moradores continuaram uma disputa antiga que tinham o Mosteiro de Veruela, que quase acabou em uma guerra aberta quando o mosteiro começou a desviar as fontes das águas da aldeia ao invés de pagar por elas. Pedro Manuel Ximenez de Urrea, considerado o Senhor de Trasmoz, estava pronto para atacar Veruela, mas antes de fazê-lo o assunto foi resolvido pelo rei Fernando II, que decidiu que Trasmoz tinha sido injustiçada pelo mosteiro.
A Igreja, no entanto, nunca conseguiu superar tal derrota e continuou propagando os rumores de bruxaria que ocorria na aldeia. Em 1511, o abade de Veruela – e com permissão do Papa Júlio II – lançou uma “poderosa” maldição sobre toda aldeia e seus descendentes. Para isso ele cantou o Salmo 108 da Bíblia e pronunciou uma maldição. Porque foi sancionada por um Papa, ela só poderia ser retirada por outro Papa, mas até hoje nenhum deles o fez e Trasmoz permanece até o momento como a única comunidade espanhola a ser excomungada pela Igreja Católica.
Nos anos que se passaram, o local entrou em declínio. O castelo foi queimado em 1520, permanecendo em ruínas por séculos, e depois que os judeus foram expulsos da Espanha, no século 15, a população local diminuiu. A maioria das casas estão em ruínas e as ruas estão constantemente vazias. Não há escolas ou qualquer loja na região.
Pelo lado positivo, Trasmoz virou um ponto turístico interessante e todos os anos centenas de espanhóis visitam o pequeno povoado para conhecer mais sobre as histórias, assistir a um festival local dedicado a feitiçaria ou conhecer um museu dedicado às bruxas.
[ BBC / ABC.es / The Identity of Aragon ] [ Fotos: Reprodução / Oddity Central ]