Primeiro bebê de “três pais” da Grã-Bretanha poderá nascer ainda este ano

de Merelyn Cerqueira 0

Há seis meses, quando anunciaram que um bebê de cinco meses de vida havia nascido por meio de uma técnica específica de fertilização de “três pais”, pesquisadores norte-americanos no México deram um grande e primeiro passo em relação ao controverso método.

Agora, a seu encalço, a Grã-Bretanha anunciou recentemente que recebeu autorização dos órgãos responsáveis e que ainda este ano planeja dar vida ao primeiro bebê britânico de “três pais”. Ainda, o tratamento inovador poderia ser oferecido pelo NHS (sistema de saúde pública do Reino Unido) como parte de um ensaio clínico que custará ao governo cerca de 8 milhões de euros, de acordo com informações do Daily Mail.

A autorização foi concedida à Universidade de Newcastle pela Autoridade de Fertilização Humana e Embriologia (HFEA: Human Fertilisation and Embryology Authority). Com a técnica aprovada, os primeiros pacientes da chamada terapia de reposição mitocondrial (MRT), poderiam começar a ser tratados ainda este ano. A equipe espera tratar até 25 mulheres por ano com o financiamento.

“A equipe aqui no Centro de Fertilidade de Newcastle está encantada com a decisão da HFEA de conceder à nossa clínica uma licença para oferecer tratamentos para prevenir a transmissão da doença do DNA mitocondrial”, disse Mary Herbert do Centro de Fertilidade de Newcastle.

“Muitos anos de pesquisa levaram ao desenvolvimento da transferência pronuclear como um tratamento para reduzir o risco de mães transmitirem doenças a seus filhos”. 

“É um grande passo para o sistema regulatório aqui no Reino Unido e a inovação em pesquisa pode ser aplicada em tratamento para ajudar as famílias afetadas por essas devastadoras doenças”, continuou.

A aprovação, ao que tudo indica, foi bem recebida por membros da comunidade científica britânica. Comentando sobre a decisão, o professor Simon Fishel, diretor da CARE Fertility, disse que “esta é uma excelente notícia, especialmente para aquelas pacientes do Reino Unido que há muito esperavam por tal oportunidade”. 

“Sabemos que não será fácil para todos os interessados, pois a tecnologia não é direta e o sucesso dependerá de muitos fatores”, acrescentou.

“Mas, é realmente um passo na direção certa, após um debate aprofundado e consideração de todas as questões da ciência médica para a ética”.

“Este é um tremendo exemplo do que pode acontecer se cientistas, clínicos, políticos, reguladores e grupos de apoio a pacientes trabalharem juntos para um objetivo comum”. Em contraponto, ativistas pró-vida expressaram suas preocupações sobre a aprovação da técnica.

“Não é de surpreender que a HFEA tenha aprovado a criação de embriões de ‘três pais’, dado o seu histórico de minar o respeito pelo embrião humano e da integridade da reprodução humana”, disse o especialista em bioética Dr. Anthony McCarthy, da Sociedade para a Proteção de Crianças Não Nascidas (Society for the Protection of Unborn Children).

“As duas técnicas que a HFEA decidiu permitir não são curativos de doenças mitocondriais e de modo algum ajudam aqueles que já as têm”, argumentou acrescentando que as mitocôndrias detêm apenas cerca de 0,1% do DNA de uma pessoa, que é herdado da mãe e sequer tem influencias sobre características individuais.

Como funciona a técnica de “três pais”?

A técnica permite que pais com mutações genéticas raras possam ter bebês saudáveis a partir da substituição de DNA mitocondrial defeituoso de uma mãe pelo de uma mulher saudável durante o processo de fertilização in vitro. 

Considerando que o DNA mitocondrial é sempre transmitido pela mãe, para a maioria delas com doenças genéticas, esta é a única maneira de dar à luz filhos saudáveis.

No entanto, para grande parte do mundo, o método ainda é proibido, embora a concessão da Grã-Bretanha seja um grande passo em relação à legalização de modo geral.

Embora possa ser feita de vários modos, o método mais comum consiste em uma transferência pronuclear, em que são usados os óvulos da mãe, esperma do pai e os óvulos de uma terceira doadora. 

O que ocorre é que, antes de estes dois óvulos fertilizados começarem a se dividir em um embrião, os pesquisadores substituem o núcleo do óvulo da doadora pelo da mãe, criando assim um óvulo fertilizado e com mitocôndrias saudáveis. 

Embora os pesquisadores norte-americanos no México tenham anunciado o nascimento de um primeiro bebê pelo método, relatórios sugerem que no ano passado pesquisadores na China já o teriam feito.

Fonte: Daily Mail Fotos: Reprodução / Daily Mail

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