Os 21 maiores equívocos sobre a Segunda Guerra Mundial

de Gustavo Teixera 0

A narrativa da Segunda Guerra Mundial é tão pouco aprofundada que podemos contar a história do conflito em poucas linhas: Hitler ascende, a França cai, o Holocausto começa, Pearl Harbor é bombardeado, dia D, a bomba cai.

No entanto, esta narrativa, mesmo na sua forma mais completa, representa incorretamente as razões que levaram a Guerra ao início e ao fim, bem como as datas do conflito. Esta versão também esconde números de baixas sofridas e de ataques cometidos pelos “ganhadores” e “perdedores” do conflito.

Você sabia, por exemplo, que a guerra não começou em 1939 e não acabou por causa da bomba? Você sabia que Hiroshima e Nagasaki não foram os bombardeios mais mortíferos da guerra? Que 400 mil soldados do Eixo chegaram à costa americana?  Sabia que a contagem do Holocausto é duas vezes maior do que você pensa?

Os fatos e as fotos relatadas aqui começam a revelar uma história um pouco mais completa desse conflito. Confira então os 21 mitos da Segunda Guerra Mundial que precisam ser desmascarados.

1 – As forças americanas estavam cheias de voluntários

Uma grande parte da ingênua nação americana pensa que a Segunda Guerra Mundial foi uma “boa guerra” e tem a ideia de que inúmeros jovens americanos se ofereceram para lutar porque simplesmente achavam que era a coisa certa. No entanto, considere o seguinte: durante a Segunda Guerra Mundial, dois terços das forças dos EUA foram recrutados, e não alistados livremente. No entanto, durante a Guerra do Vietnã dois terços das forças americanas foram alistados, e não recrutados.

2 – O número total de mortes do Holocausto foi de 6 milhões de judeus

É correto dizer que aproximadamente 6 milhões de judeus morreram nas mãos dos nazistas. No entanto, esse número não diz nada sobre a outra metade do total de mortes do Holocausto. Além dos 6 milhões de judeus, os nazistas usaram seus campos de extermínio para matar outros 5 milhões de civis vindos de diversos grupos, incluindo comunistas, ciganos, sérvios, intelectuais poloneses, homossexuais, deficientes e muitos outros grupos.

3 – A maior mortalidade civil foi a de judeus

Embora os 6 milhões de judeus mortos na Europa sejam um número bastante significativo, outras duas populações sofreram genocídio em massa. Estimativas atuais sugerem que o número de mortes de civis da União Soviética tenha sido de cerca de 13 milhões e que o número de mortes de civis da China – pelos japoneses – foi de cerca de 14 milhões.

4 – Soldados do Eixo nunca pisaram em solo americano

Poucos sabem que 400.000 soldados do Eixo – composto por Alemanha, Itália e Japão – desembarcaram nos Estados Unidos entre 1942 e 1945. Felizmente para os americanos, esses 400.000 eram prisioneiros de guerra. Dezenas de campos americanos de prisioneiros em todo o país abrigavam as centenas de milhares de prisioneiros que os britânicos simplesmente não tinham espaço para comportar. As condições nesses campos eram muito boas. Os prisioneiros eram pagos pelo trabalho e tinham acesso a comodidades como teatro, jogos e livros.

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5 – Os nazistas foram os únicos que cometeram crimes de guerra

Alguns estudantes podem saber dos terríveis crimes de guerra cometidos pelos japoneses, incluindo os 250.000 civis que a notória Unidade 731 submeteu a experimentos médicos, ou os 100.000 civis executados em Manila, capital das Filipinas de uma só vez, ou os milhares de prisioneiros de guerra americanos que foram torturados e mortos.

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Mas poucas pessoas sabem que os Aliados cometeram sua parcela de crimes hediondos também. Há um estudo recente que sugere que os soldados americanos estupraram aproximadamente 14.000 mulheres na Inglaterra, França e Alemanha, além de outras 10.000 em Okinawa, no Japão. Há outro fato de que 60% dos cadáveres japoneses nas Ilhas Marianas estavam sem seus crânios, devido ao fato de os soldados americanos estarem os coletando.

6 – Hiroshima e Nagasaki foram os bombardeios mais destrutivos da Guerra

Enquanto o número de mortos em Hiroshima e Nagasaki chega a 80.000 e 70.000, respectivamente, os EUA guardaram seu mais mortal bombardeio para a capital japonesa: Tóquio.

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Em 9 e 10 de março de 1945, 279 bombardeiros americanos derrubaram 1.665 toneladas de bombas na cidade, destruindo cerca de 257 quilômetros quadrados, matando pelo menos 100 mil pessoas e deixando outro milhão de feridos e desalojados.

 7 – Os bombardeios atômicos convenceram o Japão a se render

O que muitas pessoas não percebem é que no mesmo dia em que os EUA lançaram a segunda bomba atômica, a União Soviética invadiu o território japonês. Antes das bombas atômicas, os EUA já haviam incendiado 66 cidades japonesas. “Se você olhar do ponto de vista do exército japonês, realmente não faz muita diferença se as pessoas estão morrendo de bombardeio de fogo ou de bombas atômicas. São apenas dois centros urbanos destruídos” Disse Jeffery Kingston, diretor da Tokyo Temple University de Estudos Asiáticos.

Por outro lado, a guerra com a União Soviética significava que os japoneses teriam que combater mais milhões de soldados, numa segunda frente. Além disso, antes que a União Soviética invadisse o Japão, os dois países tinham um acordo de neutralidade. O Japão esperava colocar os soviéticos em posição de negociar termos amistosos entre com os EUA. Mas sem essa opção, o destino do Japão foi selado.

 8 – Os EUA “salvaram o dia”

Há muitas razões pelas quais esta noção é evidentemente falsa, mas vamos direto para o maior flagrante: quando a Segunda Guerra Mundial terminou e a Guerra Fria começou, os EUA e seus Aliados Ocidentais foram relutantes em escrever uma história da guerra que atribuía a maior parte da vitória ao ex-aliado: a União Soviética.

Mais do que qualquer outro país, a União Soviética foi responsável por derrotar os nazistas. A proporção de perdas militares totais da Frente Oriental versus a Frente Ocidental foram de surpreendentes nove para um, e mais de 80% das mortes militares da Alemanha ocorreram no Leste. Isso, naturalmente, teve um custo extraordinário para a União Soviética, que perdeu cerca de 10 milhões de militares, além de cerca de 13 milhões de civis. Os EUA, por outro lado, perderam cerca de 400.000 soldados.

 9 – Forças americanas lideraram o “Dia D”

Enquanto o comandante supremo da operação, Dwight D. Eisenhower era americano, o arquiteto, chefes de serviço, comandante aéreo e comandante naval eram todos britânicos. Tanto os navios de guerra da Grã-Bretanha quanto as embarcações de desembarque ultrapassaram a marca dos Estados Unidos numa proporção maior de que quatro para um, e os aviões britânicos representaram dois terços das aeronaves utilizadas. De fato, um terço dos suprimentos usados pelas tropas americanas durante o Dia D veio da Grã-Bretanha.

10 – Foi uma grande guerra

Era o mundo contra os nazistas – ou pelo menos a História diz assim. No entanto, a verdade é uma coleção diversa de conflitos geopolíticos relacionados e não relacionados vinha se construindo por anos, até que muitos países atingiram pontos de ruptura tão graves que algo precisava ser feito. Entre esses conflitos, estavam as incursões do Japão na China, as incursões da Itália na África, as disputas entre a União Soviética e Japão, os combates entre comunistas e anticomunistas na Europa Oriental e assim por diante.

 11 – Não foi realmente uma guerra “mundial”

Enquanto os principais combatentes serem, na maior, parte das nações acima, a guerra provocou declarações oficiais de praticamente todo o mundo, com poucos países ficando neutros. Da ação naval na América do Sul aos campos petrolíferos no Oriente Médio até operações terrestres no norte da África a reforços vindos da Nova Zelândia, nenhum canto do planeta estava fora da luta.

12 – Começou em 1939

A maioria dos livros de História diz que a Segunda Guerra Mundial começou em 1 de setembro de 1939, quando os nazistas invadiram a Polônia. Mas, alguns americanos provavelmente pensam que a guerra começou em 7 de dezembro de 1941, quando o Japão bombardeou Pearl Harbor no Havaí.

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Entretanto, muitos historiadores sugerem pontos de partida mais adiantados incluindo o conflito soviético-japonês na Mongólia em maio 1939, o começo da segunda Guerra Sino-Japonesa em 1937, a invasão italiana na Etiópia em 1935, e até mesmo a invasão japonesa da Manchúria, no Leste Asiático em 1931. Mas, os vencedores de uma guerra são sempre os que escreverão sua narrativa. E assim, as potências mundiais do lado vencedor da Segunda Guerra Mundial, identificaram o início da guerra como o momento em que se envolveram.

13 – Pearl Harbor foi um ataque surpresa

O cronograma é complicado, as evidências são imprecisas e parece ser verdade que os japoneses intencionalmente lançaram o ataque sem uma declaração formal de guerra, mas chamar o ataque de “surpresa” é distorcer os fatos. As tensões entre os EUA e o Japão estavam aumentando há mais de uma década antes de Pearl Harbor, com os EUA elaborando um plano de guerra oficial contra o Japão em 1924. Treze anos depois, os japoneses até bombardearam um navio americano na China.

Quando as negociações começaram entre os dois países em 1941, todos sabiam que as coisas estavam se aproximando de um ponto insustentável. Uma pesquisa realizada em 1941, antes do ataque ao Pearl Harbor, mostrou que 52% dos norte-americanos esperavam guerra contra o Japão, enquanto somente 27% não.

14 – Os EUA ficaram fora da guerra até o ataque do Pearl Harbor

Embora os EUA não tivessem de fato declarado guerra e não tinham disponibilizado tropas antes, o país estava absolutamente envolvido na guerra. Seis meses antes do incidente de Pearl Harbor, os EUA promulgaram o programa Lend-Lease, que enviava a quantia de 659 bilhões de dólares em suprimentos para os Aliados lutarem na guerra.

Além disso, foram as sanções econômicas dos EUA contra o Japão em 1941 que precipitaram Pearl Harbor. Dito isto, sugerir que os EUA estavam sentados cuidando de seus próprios problemas antes de 7 de dezembro de 1941 não faz sentido.

15 – Os nazistas foram devidamente punidos por seus crimes

Quando documentos secretos vieram à tona apenas alguns anos atrás, dificilmente alguém percebeu que até 9.000 nazistas e colaboradores nazistas que trabalharam no Holocausto escaparam da justiça, principalmente na América do Sul.

Para comparação, apenas 6.495 criminosos de guerra nazistas já foram julgados. E muitos daqueles que escaparam o fizeram com a ajuda do governo Alemão, de países sul-americanos, e até mesmo da França. Além disso, milhares de cientistas nazistas passaram a desempenhar papéis importantes na corrida espacial e nos programas de desenvolvimento de armas para Estados Unidos e União Soviética.

16 – Foi a primeira guerra totalmente mecanizada

Enquanto a Segunda Guerra Mundial foi realmente mecanizada, cheia de aviões e tanques, ela também foi muito menos moderna tecnologicamente do que você imagina. Não pense em muito mais do que o símbolo clássico da guerra anteriormente usado: o cavalo.

Durante a guerra, a União Soviética empregou 3,1 milhões de cavalos, enquanto a Alemanha empregou 2,75 milhões, e também havia três vezes mais cavalos do que veículos quando a guerra começou.

17 – Poloneses a cavalo atacaram alemães em tanques

O dia 1º de setembro de 1939, muitas vezes é dito como o primeiro dia da guerra, mas a História diz que um grupo de soldados poloneses a cavalo imprudentemente atacou uma divisão alemã que tinha tanques, sendo eliminados facilmente.

Isso não é verdade: os tanques só chegaram depois que as forças alemãs, de fato mais equipadas, haviam despachado os poloneses, mas da forma como a máquina de propaganda nazista manipulou a história informa um estereótipo de estupidez polonesa que reverbera até hoje e ofusca uma contribuição de guerra polonesa que envolveu 400 mil soldados.

18 – A França foi covarde

A razão pela qual os alemães conquistaram a França em apenas seis semanas no início de 1940 é porque os franceses simplesmente não estavam prontos para o novo estilo de combate que os alemães estavam empregando.

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Conhecido como blitzkrieg, ou “ataque relâmpago’, unidades alemãs atravessaram linhas inimigas em velocidades incomparáveis, na esperança de cercar o inimigo. As forças britânicas em retirada na França foram capazes de escapar com centenas de milhares de tropas de volta ao longo do Canal da Mancha. No entanto, de alguma forma, a Grã-Bretanha não adquiriu uma reputação de covardia.

19 – A Resistência Francesa desempenhou um papel importante

As estimativas atuais sugerem que dois por cento da população francesa se envolveu em atividades de resistência de qualquer tipo, com uma subseção muito menor de meio por cento que assumiu missões práticas de sabotagem e outras táticas de guerra.

Além disso, como o historiador Robert Paxton escreveu na revista The New York Review of Books: “Era inevitável que a maioria das ações de resistência dentro da França falhassem. A resistência não mudou o resultado da guerra. Os Aliados foram para ganhar, independente se a Resistência Francesa os ajudou ou não”.

 20 –  Winston Churchill era um herói de guerra universalmente reverenciado

Se Churchill era o líder amado da guerra, por que ele e seu Partido Conservador sofreram a maior derrota da história britânica nas eleições de 1945, antes mesmo de o tratado com o Japão ser assinado?

Entre outras coisas, incluindo políticas que tinham diminuído o bem-estar social por quase uma década, a derrota eleitoral de 1945 seguramente tinha muito a ver com a mentalidade irracionalmente radical de Churchill quando a Guerra estava finalmente prestes a terminar. Churchill havia apropriadamente chamado uma ideia de ‘Operation Unthinkable’ em meados de 1945. Esta missão, obviamente nunca executada, queria enviar às forças alemãs, americanas e britânicas uma estratégia para uma grande invasão à União Soviética, cujas tropas ultrapassavam em número os Aliados em uma proporção quatro para um.

 21 – Os aliados ocidentais eram basicamente dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da França

Deixando de lado os colossais 10 milhões de soldados soviéticos que morreram durante a guerra, o restante dos aliados não executou o papel que você pensa.

Sim, a Grã-Bretanha e os EUA tiveram cerca de 400.000 mortes militares cada um. Mas, tristemente esquecidos, há os 300.000 mortos da Hungria, Romênia, e Iugoslávia, 240.000 baixas da Polônia, os 87.000 abatidos de Índia e os 3,5 milhões de cadáveres da China.

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