Eles e elas não concordam! Por que mulheres sentem frio e homens sentem calor?

de Merelyn Cerqueira 0

Conforme o verão se aproxima, casas, escolas, universidades e ambientes de trabalho começam a luta pela temperatura ideal, a fim de promover o bem-estar de todos os envolvidos. No entanto, as preferências pessoais variam e, muitas das vezes, acabam dividindo homens e mulheres. Mas por que será que não conseguimos concordar com a temperatura perfeita?

A pele é a grande culpada

De acordo com informações de Adam Taylor, da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, em um artigo publicado originalmente pela The Science Explorer, o fator mais importante aqui é a pele. Ela é o maior órgão do nosso corpo e é responsável por realizar uma série de funções. Age como uma barreira de proteção contra patógenos e radiação solar UV, como barreira restritiva para reter água, ajuda a sintetizar a vitamina D – que fortalece nossos ossos e regula a temperatura corporal interna – e como detector primário da temperatura externa.

Ela é composta por três camadas distintas, chamadas de epiderme, derme ultraperiférica média e, de forma mais interna, a hipoderme, também conhecida como camada de gordura subcutânea. Esta última também age como um isolante natural, projetada para nos manter aquecidos. Ao passar por todas estas camadas, geralmente atingimos os músculos.

Enquanto que as células da pele são importantes, também existem nela terminações nervosas livres que detectam as temperaturas e retransmitem as informações para o cérebro. Essas células se assentam onde a camada mais externa da pele encontra a próxima.

Todas as peles são iguais?

Visualmente falando há muitas diferenças entre as peles, e talvez a cor seja a mais notável. No entanto, de forma menos visível, a espessura delas deve ser considerada. A derme e a epiderme das nádegas, por exemplo, são mais grossas, enquanto que a das coxas e costas, mais finas.

A espessura da camada de gordura subcutânea, mais profunda, também difere. Ela é mais grossa nas nádegas e mais fina nos braços e coxas. Além disso, essa espessura também varia entre os sexos. A hipoderme dos homens é quase duas vezes mais espessa do que a das mulheres. A maior parte da gordura do corpo masculino é carregada no abdômen e em torno dos órgãos, enquanto que no feminino, por via subcutânea – debaixo da pele.

Mas se a gordura isola, por que há essa confusão relacionada a temperatura?

A primeira reação natural do corpo ao frio é tremer. Neste caso, os músculos se contraem involuntariamente para gerar calor, tal função é controlada pelos nervos do corpo.

Já foi bem documentado que os homens possuem maiores quantidades de músculos do que as mulheres, podendo gerar mais calor durante temperaturas mais frias ou enquanto descansam. O corpo masculino também possui uma taxa metabólica basal mais alta – energia gasta em repouso. Tais fatores combinam para que eles possuam uma maior temperatura enquanto parados.

Agora, quando consideramos a distribuição básica de gordura subcutânea, em teoria, o corpo feminino deveria manter o calor melhor do que o masculino, o que parece não ser o caso. Quando levamos em consideração a espessura da pele, gordura subcutânea e massa muscular, fica claro que, embora os músculos femininos tremam da mesma forma que os masculinos, sua camada de isolamento mais espessa significa que o calor leva mais tempo para chegar até a camada mais exterior da pele, onde as terminações nervosas identificam a temperatura.

Hormônios e geografia

Os hormônios, por outro lado, também desempenham um papel importante na questão da temperatura ideal, e nas mulheres causam uma mudança mais dinâmica da termorregulação do que em homens, graças ao ciclo menstrual. Há também as diferenças mais óbvias relacionadas à quantidade de gordura corporal, bem como origem étnica.

A localização geográfica pode ter um enorme impacto sobre a necessidade de camadas de hipodermes mais grossas, a fim de manter melhor a temperatura. Alguns indivíduos na Groenlândia, por exemplo, os chamados Inuit, têm 34% a mais de gordura corporal, uma vez que vivem em temperaturas médias anuais que variam entre -8 e 7°.

E o que acontece com os bebês?

No caso dos recém-nascidos, eles não tremem para obter calor porque o sistema nervoso não está suficientemente desenvolvido para regular a temperatura corporal. Para compensar essa desvantagem, eles possuem em abundância um tipo diferente de gordura, que está localizada em torno de órgãos essenciais, como o coração, rins, bem como espinha, para garantir que todo o seu interior permaneça aquecido. Essa gordura é termogênica, ou seja, cria calor, mas conforme envelhecemos, ela é substituída pela gordura convencional, que atua como acumuladora de energia.

Em suma, como nossos corpos são construídos de forma diferente, também sentimos e respondemos às mudanças de temperatura de forma distinta.

[ The Science Explorer ] [ Foto: Reprodução / Woman Way ]

Jornal Ciência