Dia Mundial da Doença de Chagas: pesquisa com medicamento pode ajudar pacientes em busca da cura

Medicamento já utilizado, a droga Benznidazol, está sendo pesquisada em um estudo de fase 2 para ser usada por menos tempo que o habitual, permitindo menos efeitos colaterais e mesma eficácia

de Otto Valverde 0

Atualmente, entre 6 a 7 milhões de pessoas no mundo estão infectadas e vivem com o parasita da doença de Chagas — o protozoário Trypanosoma cruzi. Um dos maiores problemas encontrados é a falta de um medicamento que consiga matar o parasita rapidamente ou um tratamento de curta duração para os pacientes crônicos.

Hoje (14/04) é o Dia Mundial da Doença de Chagas. Para a OMS, é uma das doenças mais negligenciadas do mundo pela falta de investimentos robustos em pesquisas, novos tratamentos e medicamentos.

O inseto conhecido popularmente como “barbeiro” é um dos responsáveis por contaminar as pessoas, mas existem outras formas pouco conhecidas. Foto: Reprodução / Shutterstock

Ao contrário do que muitos imaginam, a doença não está presente somente em áreas rurais, e milhares de pessoas em grandes centros urbanos também são contaminadas e carregam o parasita transmitido principalmente pelo inseto conhecido popularmente como “barbeiro”.

Visando facilitar o tratamento e reduzir efeitos colaterais, um novo estudo indica que a aplicação de 2 semanas do medicamento Benznidazol — que atualmente já é usado em pacientes adultos — tem eficácia semelhante, mas com significativa redução nos efeitos colaterais, ao tratamento tomando o medicamento por 8 semanas, como ocorre atualmente de forma padrão.

A pesquisa foi publicada na respeitada revista científica The Lancet Infectious Diseases e já está na Fase 2 em três centros médicos na Bolívia. O estudo foi liderado pela iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) e financiada pelo Fundo Global de Tecnologia Inovadora (GHIT), do Japão, entre 2016 e 2018.

É importante lembrar que a infecção pelo parasita que causa a doença pode causar danos ao coração e outros órgãos vitais se não tratada. Atualmente, o tratamento atual é eficaz, mas tem limitações: os comprimidos são recebidos por 8 semanas e cerca de 20% dos pacientes abandonam o tratamento por efeitos colaterais como intolerância gástrica, erupções na pele e problemas neuromusculares.

O protozoário da espécie Trypanosoma cruzi é o parasita que causa a doença de Chagas. Foto: Reprodução / Shutterstock

A doença tem cura se o paciente for diagnosticado precocemente (fase aguda). Quanto mais rápido, maiores são as chances. Quanto mais tempo o paciente estiver contaminado, menores são as chances (fase crônica), pois os medicamentos têm pouco efeito.

“Fizemos o primeiro estudo controlado, com 218 pacientes recrutados, e os pacientes foram agrupados para comparar diferentes durações e doses de tratamento com benznidazol, sozinho ou em combinação com fosravuconazol, e o grupo que recebeu apenas um placebo“, explicou o médico Sergo Sosa Estani, um dos coautores do estudo, em um comunicado.

Ele considerou os resultados “uma esperança para as pessoas afetadas por Chagas, pois um tratamento mais curto poderia eliminar algumas preocupações dos pacientes e melhorar a aceitação ao tratamento”. O estudo passará por Fase 3, ainda este ano, para confirmar se o esquema de 2 semanas é tão eficaz quanto o de 8 semanas.

O benznidazol têm como alvo apenas o parasita. Estima-se que 30% dos infectados podem ter doenças cardíacas em 10 anos ou mais após contraírem a infecção. A doença de Chagas pode levar até 30 anos para dar os primeiros sinais e sintomas.

Alguns especialistas são mais críticos e dizem que novos medicamentos deveriam ser pesquisados também para modular a resposta imunológica e inflamatória causada pela doença, pois o corpo não para de produzir anticorpos, mesmo após a morte dos parasitas, e isso contribui para o desenvolvimento das doenças no coração e outros órgãos.

O parasita pode circular pelo corpo do infectado até 30 anos antes de iniciar os sintomas. Foto: Reprodução / Shutterstock

A contaminação pode ocorrer de várias formas, especialmente pelo inseto “barbeiro”. Existe um grande mito sobre a picada do “barbeiro” ser a responsável pela transmissão.

Na verdade, ao picar, o inseto defeca. Ao sentir coceira, a pessoa esfrega sem saber as fezes contaminadas para dentro da picada, gerando assim a contaminação.

Também pode ser transmitida da mãe para o feto, por meio de transfusão de sangue contaminado com o parasita e outras formas menos comuns, como na alimentação.

Há alguns anos, houve surto de contaminação de doença de Chagas no Brasil, especialmente na região Norte, pelo consumo de açaí, onde a fruta era triturada junto com os insetos, liberando assim os parasitas no alimento. Isso fez com que fosse obrigatório a pasteurização da polpa antes do consumo.

Fonte(s): Infobae Imagens: Reprodução / Shutterstock

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