Conheça a história de Herculine Barbin, uma hermafrodita que confundiu a França durante o século 19

de Merelyn Cerqueira 0

Em meados do século 19, uma mulher chamada Herculine Barbin levava uma vida relativamente normal na comuna francesa de Saint-Jean-d’Angély, em Paris.

 

Filha de uma mãe amorosa e estudante de um colégio de freiras, a jovem Herculine era repleta de amigos. Como era pobre, teve de trabalhar como empregada doméstica nas horas livres para ajudar a pagar as despesas de casa. No entanto, quando completou 21 anos, começou a sentir dores incomuns na região do abdômen, e procurou ajuda médica para descobrir mais sobre o problema. O que eles descobriram após os exames deixou todos confusos, bem como mudou a vida da jovem francesa para sempre.

 

Como a Ciência ainda não era tão avançada como atualmente, os médicos não tinham pleno conhecimento da intersexualidade, então ficaram chocados ao descobrir que a francesa havia nascido com ambas as genitálias: feminina e masculina. Embora tivesse vivido 21 anos como mulher, os médicos lhe disseram que seus órgãos masculinos eram mais proeminentes. Logo, tendo retificado judicialmente suas declarações de nascimento, Herculine assumiu a identidade de Abel Barbin.

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Decidindo assumir sua identidade como homem, Abel viveu uma vida dura e solitária depois da descoberta, uma vez que era ignorado pelas pessoas – que o consideravam uma “aberração”. Em meados de 1868, morando em um pequeno e sujo quarto dentro de um complexo de apartamentos em Paris,cometeu suicídio. Quando foi encontrado, seu corpo descansava ao lado de um diário no qual havia escrito suas memórias.

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O caso de Herculine ficou mundialmente conhecido depois que o crítico literário francês, Michael Foucault republicou os escritos da jovem em um livro chamado “Herculine Barbin, o Diário de um Hermafrodita”. Segundo ele, eles revelavam uma vida repleta de tragédia e tristeza, uma vez que a francesa nunca conseguiu ser aceita pela sociedade devido à confusão relacionada ao seu gênero. Em uma passagem poderosa de seus escritos, ela afirmou ao mundo que, embora se sentisse traída, acreditava que, após sua morte, iria para um lugar muito melhor.

 

Você deve ter se lamentado mais do que eu, talvez. Eu subo acima de todas as suas inumeráveis ​​misérias, participando da natureza dos anjos, pois, como você disse, o meu lugar não está em sua estreita esfera. Você tem a Terra, eu tenho um espaço ilimitado, encadeado aqui abaixo pelos mil laços de seus sentidos grosseiros e materiais, seus espíritos não podem mergulhar naquele oceano límpido do infinito, onde, perdido por um dia em suas costas áridas, minha alma bebe profundamente”.

[ EJournals ] [ Fotos: Reprodução / EJournals ]

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