Cientistas da USP descobriram camarão que muda de cor

de Gustavo Teixera 0

Cientistas da USP descobriram camarões da espécie Hippolyte obliquimanus que possuem a característica inusitada de mudar de cor.

Os camarões medem cerca de 1,5 centímetro de comprimento e vivem em todo o litoral brasileiro, mais especificamente em bancos de algas. 

Podem ser encontrados muitos desses camarões na região de São Sebastião, no litoral paulista, vivendo em meio a algas. Eles são divididos por dois tipos morfológicos: homogêneos com variabilidade de cor (H) e os transparentes com listras, bandas de cores ou bolinhas (T).

A característica de poder mudar de cor fez com que este camarão fosse chamado pelos autores da descoberta de “carnivalshimp”, ou camarão carnavalesco. 

A descoberta foi feita pelo doutorando Rafael Campos Duarte e seu orientador, Augusto Alberto Valero Flores, ambos do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com Martin Stevens, da Universidade de Exeter, no Reino Unido.

Os resultados dessa descoberta foram originalmente publicados na revista especializada, BMC Evolutionary Biology

O que chamou a atenção dos pesquisadores foi que durante a coleta destes animais, havia muitos exemplares marrons, verdes, amarelos, rosas, vermelhos e pretos. Então, foram feitos experimentos no laboratório para estudar a capacidade e tempo de mimetização.

Os resultados mostraram que os animais do tipo H, que são os coloridos, mudavam sua cor de maneira rápida para se camuflar entre as algas. 

“Nenhum exemplar mudou de cor na presença de algas artificiais. Isso indica que existe algo que as algas liberam na água e que afeta os camarões, fazendo-os mudar de cor”, relatou Duarte. 

Quanto menos animais viverem nos bancos de algas, maior a necessidade de esses camarões terem uma camuflagem mais eficaz para não serem devorados por outros peixes.

“Mudanças de cor, como as enfatizadas nesse estudo, dizem respeito à camuflagem, na qual os camarões tendem a ficar da cor do substrato onde vivem”, afirmou Flores. 

Segundo Flores, a mudança de habitat também pode influenciar na coloração dos animais: “No Reino Unido, existe um camarão da mesma família que é verde porque as algas que predominam por lá são verdes”, disse ele.

Outro fato observado é que as colorações só aparecem durante o dia e quanto anoitece, os camarões vão perdendo a cor até ficarem transparentes. 

“A cor desses camarões é dada por pigmentos que ficam em células de cor chamadas cromatóforos. A coloração do indivíduo altera de acordo com a disposição dos cromatóforos”, explicou Duarte.

Essa não é a única espécie com essa característica no litoral do Brasil, segundo o pesquisador: “Mudanças de cor rápidas [alguns dias] são esperadas para espécies de crustáceos com exoesqueleto fino, no qual uma quantidade relativamente pequena de pigmentos pode surtir efeito”, disse ele. Além dos camarões, os pesquisadores acreditam que podem encontrar essa característica de mudança de cor em outros grupos como anfípodes e tanaidáceos.

Fonte: BMC Evolutionary Biology Fotos: Reprodução / BMC Evolutionary Biology

Jornal Ciência