Embora muito consumidas atualmente, as bebidas energéticas não são uma invenção do novo milênio. As pessoas contam com elas para combater a fadiga há pelo menos um século. Hoje, sua “energia” normalmente deriva de algum tipo de estimulante neurológico.

Mas houve um momento em que as bebidas energéticas continham energia real: o ingrediente ativo nessas bebidas era o rádio, um elemento radioativo que libera energia a cada decaimento atômico. Embora a conexão entre consumir um elemento radioativo e ter um aumento de energia seja fraca, ela não impediu ninguém de consumir as bebidas no início de 1900. Além disso, hoje sabemos as desvantagens da ingestão de radioatividade e que não vale a pena arriscar a saúde a longo prazo.

Bebida radioativa

Um desses produtos era o chamado Radithor, composto simplesmente de rádio dissolvido em água. Em 1920 cada garrafa custava cerca de US$ 1 (cercbebida-toxicaa de US$ 15, em 2016). Seu fabricante alegava que a bebida não só fornecia energia, mas também curava uma série de doenças, incluindo impotência. Um artigo científico alegou que a substância poderia aumentar “a paixão sexual”. Não à toa, o Radithor era um sucesso entre os homens.

O mais famoso consumidor da bebida era Eben Byers. Byers começou a consumi-la para ajudar a curar um braço quebrado. Embora o produto não contivesse narcóticos, ele ajudou psicologicamente na cura Byers, que ficou viciado na substância. Ele continuou a consumir Radithor em grandes quantidades mesmo depois que seu braço tinha curado. É dito que Byers bebeu cerca de uma ou duas garrafas por dia, durante mais de três anos.

No final, o vício de Byers acabou levando-o a morte, em 31 de março de 1932. Infelizmente, o rádio ingerido fica preso nos ossos e toda a sua energia da radiação é depositada neles. Ele desenvolveu buracos em seu crânio, perdeu a maior parte de sua mandíbula e sofreu uma variedade de outras doenças relacionadas aos ossos.

Consequências

A verdade é que os perigos do rádio já eram conhecidos mesmo antes de Byers começar a tomar Radithor. Como descrito no livro “Strange Glow: The Story of Radiation“, a comunidade médica já tinha estudado os efeitos do rádio na saúde desde sua descoberta, em 1898. O cientista britânico Walter Lazarus-Barlow tinha publicado em 1913, um artigo que afirmava que o rádio penetrava os ossos. E em 1914, Ernst Zueblin, professor de Medicina da Universidade de Maryland, publicou uma revisão de 700 relatórios médicos, muitos dos quais mostraram que o necrose óssea e ulcerações foram um efeito colateral da ingestão frequente de rádio.

Quando Byers morreu, ele foi colocado para descansar em um caixão forrado de chumbo, para bloquear a radiação que era liberada pelo seu corpo. Trinta e três anos depois, em 1965, um cientista do MIT, Robley Evans, exumou o esqueleto Byers para medir a quantidade de rádio nos seus ossos.

Evans calculou que os ossos de Byers poderiam conter cerca de 100.000 becquerel de radioatividade. Mas, na realidade o estudo mostrou que Byers tinha um total de 225.000 becquerel. Após o estudo, Evans colocou os ossos de Byers de volta no caixão de chumbo, onde permanecem até hoje.

Substância perigosa

Embora não haja dúvida de que Byers sofreu com o rádio, o consumo dessas bebidas energéticas nunca se transformou em uma grande crise de saúde pública. E esse fato acontece por duas razões: a primeira é que ao contrário de Radithor, a maior parte das outras bebidas “energéticas” no mercado eram fraudes e não tinham rádio.

Em segundo lugar, os produtos que realmente continham rádio eram muito caros, porque essa substância era um elemento relativamente raro e precioso. Assim, só os ricos, como Byers, foram capazes de ingerir grande quantidade do elemento. Consequentemente, doenças decorrentes do consumo do elemento foram diagnosticadas apenas em pessoas que podiam pagar pela substância.

O governo federal fechou a Bailey Radium Laboratories – empresa que fazia radithor – e bebidas energéticas que contêm rádio desapareceram do mercado em 1932.

Hoje, basicamente qualquer bebida energética possui uma formula que depende da cafeína para revigorar os seus clientes e proporcionar energia que eles procuram. Cafeína – o ingrediente comum em café, chá, chocolate e cola – pode não ser tão exótica como o rádio, mas é um estimulante de verdade e não é muito perigosa para a saúde.

[ IFL Science ] [ Foto: Reprodução / Pixabay

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