A princípio, cientistas acreditavam que calcular o comprimento de um único dia em Saturno parecia uma tarefa simples.

Assim como na Terra, eles acreditavam que bastava definir um ponto e observar em quanto tempo ele completaria seu eixo de rotação. No entanto, astrônomos revelaram que as coisas são mais complicadas do que parecem e que não têm ideia de quanto tempo dura um dia em Saturno, segundo informações do jornal Daily Mail.

De acordo com a pesquisadora-chefe do Instrumento Magnetômetro (MAG) da sonda Cassini, Michele Dougherty, do Imperial College of London, é como procurar várias agulhas imprevisíveis que mudam de cor e de forma dentro de um palheiro. A sonda estudou o planeta mais de perto do que qualquer outra aeronave, porém, ainda não pode definir quanto tempo dura um único dia. No entanto, de acordo com a NASA, observar características da superfície não funciona de forma igual para todos os planetas.

Como se movem em taxas diferentes, é impossível realizar medições e definir velocidade a partir das turbulentas nuvens que ocorrem em planetas gasosos, como Júpiter e Saturno. Ao invés disso, podemos usar o campo magnético e emissões de ondas de rádio para fazê-lo. Isso porque, no interior do planeta, o calor faz com que fluidos eletricamente condutores se movam, e essas correntes geram um campo magnético gigantesco que pode se estender até o espaço e, muitas vezes, sobre todo o diâmetro do planeta.

Na Terra e em Júpiter, por exemplo, o polo norte magnético é cerca de 10 graus inclinado em relação ao eixo de rotação de cada planeta, o que significa que não estão alinhados com o polo norte “verdadeiro” de qualquer outro lugar. Se observássemos o campo magnético de Júpiter ou da Terra do espaço, e acelerássemos o tempo, o campo parecerá oscilar, como um bambolê, conforme os planetas giram. Logo, como esse campo é formado no interior dos planetas, para a maioria deles, a taxa de rotação do campo magnético pode informar a taxa de rotação do próprio. Portanto, um giro completo equivale a um dia.

Enquanto que nós não podemos ver os campos magnéticos, instrumentos, como os chamados magnetômetros podem. Além disso, antenas de rádio são plenamente capazes de detectar emissões com padrões que se repetem toda vez que um planeta gira. Dessa forma, o físico Bill Kurth, da Universidade de Iowa, conseguiu definir que um único dia em Júpiter possui 9 horas e 55 minutos.

No entanto, este não parece ser o caso com Saturno. Seu campo magnético aparenta ser deslocado do eixo de rotação por um valor de menos de um grau. O que significa que seu campo magnético não gira como um bambolê. Ao invés disso, ele parece girar suavemente e sem qualquer balanço.

Os cientistas podem apenas esperar pela observação de um sinal constante de força magnética, mas isso ainda não aconteceu. O instrumento MAG, em Cassini, chegou a detectar um sinal no campo magnético de Saturno, que se parece com uma onda e se repete a cada 10 horas e 47 minutos. A repetição do sinal foi chamada de ‘periodicidade’. Contudo, ela possui valores diferentes quando observada do hemisfério norte e sul de Saturno, e também parece mudar com as estações.

Ainda, o Instrumento Magnetosférico de Imagem (MIMI) de Cassini observou partículas energéticas carregadas (prótons, elétrons e íons) sendo chicoteados periodicamente para fora do campo magnético de Saturno. Contudo, as observações das partículas, emissões de rádio e campo magnético não concordam o suficiente para que os cientistas tenham certeza sobre a taxa de rotação de Saturno, mas nem por isso os pesquisadores responsáveis por Cassini consideravam o caso como um enigma a ser resolvido.

Pensávamos que já sabíamos, porque a Voyager já havia medido”, disse Kurth a respeito dos dados da missão em questão que sugeriu que um único dia em Saturno teria cerca de 10,7 horas. Por outro lado, o magnetômetro de Cassini sugeriu um período mais curto, claro, dependendo de qual hemisfério do planeta a observação está sendo feita. “Saturno nos bloqueou”, disse Dougherty. “Sua taxa de rotação está entre 10,6 e 10,8 horas, provavelmente. Mas, o sinal que estamos vendo não nos dá certeza sobre nada”.

Uma possível causa para as oscilações observadas entre os hemisférios é que algo na atmosfera do planeta esteja interrompendo ou anulando os efeitos do verdadeiro campo magnético. Se esse for o caso, segundo Dougherty, uma aproximação poderia ajudar.

Em sua fase final, a missão Cassini dará 20 voltas por fora dos anéis principais de Saturno, algo que ocorrerá ainda este mês. Depois, outras 22 serão feitas através do espaço inexplorado entre a atmosfera superior de Saturno e seu anel mais próximo, a partir de abril de 2017. Logo, a sonda terá uma melhor chance de verificar a taxa de rotação do planeta mais claramente e, por fim, resolver esse mistério de uma vez por todas.

[ Daily Mail ] [ Foto: Reprodução / Pixabay

Jornal Ciência