Stranger Things: A Eleven da vida real era russa, dizia ser paranormal e virou cobaia de mais de 30 cientistas soviéticos

Ninel Kulagina era russa e afirmava mover objetos com a mente e ter poderes especiais. Logo, tornou-se cobaia de mais de 30 cientistas soviéticos durante a Guerra Fria

de Redação Jornal Ciência 0

Stranger Things: A Eleven da vida real era russa, se chamava Ninel Kulagina, dizia ser paranormal e virou cobaia de mais de 30 cientistas soviéticos

Se você está por dentro do mundo das séries, já deve ter ouvido falar (ou assistido) a quarta temporada de Stranger Things, da Netflix, que estreou dia 27/05/2022, tendo como personagem principal a “Eleven” — ou “Onze”, na versão dublada.

A atriz Millie Bobby Brown interpreta a personagem que tem fortes poderes telecinéticos, levitando objetos pequenos e enormes, batendo portas e até fechando portais para “outro mundo”. Tudo isso após ser cobaia de cientistas e desenvolver seu poder.

E, por mais maluco que isso possa parecer, algo muito parecido ocorreu na época da Guerra Fria, onde cientistas também tentaram estudar uma mulher que dizia ser paranormal, com capacidades de telecinese.

Há mais de 50 anos, Ninel Kulagina — que se autodenominava paranormal com poderes de mover objetos apenas com o poder da mente — ficou durante anos sob análise de mais de 30 cientistas soviéticos que buscam “extrair” alguma vantagem militar no suposto poder.

Stranger Things: A Eleven da vida real era russa, se chamava Ninel Kulagina, dizia ser paranormal e virou cobaia de mais de 30 cientistas soviéticos

À época, não somente a antiga União Soviética, mas também os EUA, financiaram pesquisas científicas com contextos paranormais, de acordo com vários documentos oficiais divulgados. A ideia era chegar antes do inimigo quando o assunto é tecnologia militar.

Há 50 anos, o assunto “telepatia” era levado muito a sério em diversos estudos. Os cientistas queriam entender se existia uma forma biológica de comunicação à distância. Este era o principal tema de pesquisa do Instituto de Pesquisa Cerebral da Universidade de Leningrado — hoje chamada de Universidade Estatal de São Petersburgo, na Rússia.

Os cientistas soviéticos acreditam que, entendendo a “telepatia”, podiam entrar em contato com seus submarinos de forma totalmente secreta. Além disso, pensavam em dominar o poder da “telecinese”, para desviar bombas ou mísseis teleguiados, sabotando as tentativas norte-americanas de ataque.

Foi neste ponto, em 1960, que os cientistas soviéticos encontraram a paranormal Ninel Kulagina. Nascida em 1926, em Leningrado (hoje São Petersburgo), quando adulta trabalhou na Segunda Guerra Mundial como técnica de rádio. Após um incidente que machucou seu estômago, tornou-se dona de casa e abandonou o trabalho.

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Segundo ela, seu primeiro contato com estudiosos da paranormalidade foi aos 33 anos. Ela era famosa até no Ocidente (onde era chamada apenas como Nina), e afirmava mover coisas ao seu redor quando estava brava. Em teoria, os estudiosos ajudaram-na a ter controle sobre seus poderes, através de meditação e técnicas de concentração.

Ninel Kulagina dizia que suas habilidades tinham um preço: sempre que movia alguma coisa, sentia fortíssimas dores físicas. Até mesmo mover uma simples bolinha fazia sentir fortes dores de coluna. Por mais de 20 anos, durante os anos de 1960 e 1980, Ninel Kulagina foi estudada, literalmente como cobaia, por mais de 30 cientistas soviéticos.

Um vídeo, que você pode conferir abaixo, ficou famoso após o biólogo e parapsicólogo, Edward Naumov, filmar as habilidades, que rapidamente chegaram nos jornais norte-americanos, sendo acompanhado de perto pelo exército dos EUA.

O jornal norte-americano The Pittsburgh Press, publicou uma reportagem afirmando, em 1978, que os poderes de telecinese de Nina eram incríveis, além de enxergar objetos guardados em bolsos e caixas. 

Na reportagem, o cientista russo Fenady Sergeyev chegou a afirmar que, em um dos experimentos, Nina foi levada para uma sala onde o coração de um sapo havia sido retirado rapidamente e colocado sob monitoramento com sensores em um cardiograma.

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Sob estas condições, o coração do sapo pode levar 4 horas até parar de bater. Segundo o pesquisador Sergeyev, Nina conseguiu fazer o coração do sapo bater rapidamente (taquicardia), lentamente (bradicardia), e paralisando-o completamente em minutos.

Após a reportagem, sua fama aumentou. Nina tornou-se um fenômeno, uma verdadeira celebridade em seu país, mas isso chamou a atenção de cientistas realmente céticos e especialistas em desmascarar charlatões.

Um dos críticos foi o cientista James Randi, canadense, que analisou os dados e dizia que, em absolutamente nenhum dos testes citados pelos soviéticos, havia sido feito sob condições cientificamente aceitáveis, controladas, medidas e filmadas sem deixar dúvidas.

Outro “milagre” realizado por Ninel Kulagina, segundo o canadense, era a alegação de que havia separado a gema da clara de um ovo a 2 metros de distância — o que jamais foi filmado ou registrado pelo governo soviético.

James Randi insistia que os truques vistos no vídeo onde a bússola gira, pequenas caixas movendo-se, além do famoso fósforo flutuando saindo de sua caixinha, porém aprisionado dentro de uma caixa de vidro — poderiam ser truques facilmente explicados por ilusionistas e mágicos, usando ímãs escondidos nas mãos, além de fios de nylon que são transparentes e jamais apareceriam nas filmagens de baixa qualidade da época.

Por ter sido criticada duramente por analistas que a acusavam de charlatanismo, Ninel Kulagina processou uma revista por calúnia e difamação e ganhou o processo em 1987. Estima-se que ela tenha ganhado por ter como testemunha o cientista biólogo e parapsicólogo Edward Naumov — o mesmo que filmava suas proezas e atestava cada uma dela como verdadeiras.

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Na verdade, os cientistas que usavam métodos analíticos sérios e não eram influenciados pela Guerra Fria, sempre acreditaram que Ninel Kulagina mentia. O governo norte-americanos sempre acusou o governo soviético de mentir e ser conivente com a farsa para assustar o povo norte-americano, que temia que a União Soviética poderia ter “cartas na manga” poderosas como “arma secreta”.

Após alguns anos, e se aproximando da terceira idade, ela dizia não ter mais seus poderes. Ironicamente, em 1990, apesar de supostamente ter feito o coração de um sapo bater como bem queria, controlando-o completamente, Ninel Kulagina faleceu de ataque cardíaco fulminante, aos 64 anos de idade.

A União Soviética teve seu fim no ano seguinte (em 26 de dezembro de 1991) e jamais deixou claro ou divulgou as conclusões, as análises e os dados cientificamente obtidos, com rigor e com parâmetros academicamente aceitáveis, sobre o que fizeram com Ninel Kulagina e o que descobriram.

Fonte(s): Nerdist / History / Pittsburgh Press Imagens: Reprodução / URSS / Redes Sociais

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