Sífilis está se tornando imune a antibióticos

de Gustavo Teixera 0

Médicos alertam que a sífilis pode se tornar impossível de tratar com antibióticos devido a uma nova cepa resistente aos medicamentos. “Cepa” refere-se a descendentes com um ancestral comum que compartilham semelhanças morfológicas ou fisiológicas decorrentes de mutações significativas.

A sífilis já foi a causa de morte de muitas pessoas no passado, mas a grande maioria dos casos de sífilis hoje são curáveis com injeções de penicilina. No entanto, um novo estudo revelou uma agressiva cepa que é mais generalizada do que se pensava anteriormente, e existem maneiras limitadas para controlá-la.

Existem dois tipos comuns de sífilis: Nichols e Street Strain 14 (SS14). Em uma análise de amostras de sífilis, pesquisadores da Universidade de Zurique, Suíça, encontraram que o mais comum é SS14-Ω, um subconjunto de SS14. Preocupantemente, 90% das amostras de SS14-Ω que foram analisadas eram resistentes aos antibióticos.

Embora os cientistas ainda não tenham detectado quaisquer cepas resistentes à penicilina, a descoberta é um sinal sinistro de que a doença está se adaptando à medicina moderna. Os casos da infecção bacteriana crônica aumentaram em 71% na Inglaterra desde 2011, segundo os últimos dados. Os casos de sífilis também são cada vez mais comuns nos EUA. Infecções subiram 15% entre 2013 e 14 e outros 19% de 2014 a 2015, de acordo com dados do Centro de Controle de Prevenção de Doenças.

Os cientistas estão inseguros sobre quantos destes casos podem ser causados pela cepa relativamente nova que está crescendo resistente a antibióticos. Mas dizem que o surgimento de formas resistentes aos medicamentos pode tornar a sífilis potencialmente fatal, ainda mais difícil de tratar. Um estudo de infecções sífilis em 13 países em 2012 a 2013 mostra como uma forma resistente da doença é muito mais difundida do que se pensava anteriormente. SS14-Ω é particularmente resistente à classe de antibióticos chamados macrólidos, segundo os pesquisadores da Universidade de Zurique na revista Nature Microbiology.

A possibilidade de a medicação de segunda linha para a doença – usada quando as injeções de penicilina não são adequadas – perder sua eficácia é considerada pelos cientistas. Lola Stamm, epidemiologista da Universidade da Carolina do Norte, disse que as descobertas devem servir como um aviso aos médicos para não extrapolarem nas prescrições de antibióticos.

Os médicos precisam ser extremamente cautelosos sobre o uso de macrólidos para tratar a sífilis”, disse ela. Dr.ª Stamm disse que a sífilis ainda não era resistente a vários tipos de antibióticos, mas que o cenário não poderia ser o mesmo no futuro. Os médicos dizem que a complacência e a dificuldade no tratamento de uma doença que pode permanecer sem sintomas por anos levou a um aumento dos casos em todo o mundo.

Estimativas sugerem que houve 10,6 milhões de casos em todo o mundo em 2008, e muitos portadores da doença não sabiam que estavam realmente infectados. Dr.ª Yvonne Doyle, da Public Health England, disse que o retorno da sífilis é particularmente preocupante em Londres, onde os casos aumentaram em 163% desde 2010.

“Embora tenhamos visto aumentos em muitas doenças sexualmente transmissíveis nos últimos anos, a sífilis está emergindo rapidamente como um grave problema de saúde pública na capital”, disse ela. Foram notificados casos de sífilis tanto entre heterossexuais como entre homossexuais, mas este último grupo foi mais afetado. Comumente, alguém infectado com sífilis pode desenvolver uma úlcera indolor ou erupção cutânea nos genitais, no ânus ou dentro da boca no período de um mês.

Já a sífilis secundária é caracterizada por sintomas gerais como febre, dores de cabeça e suores noturnos. Se não for tratada com antibióticos, pode progredir para a fase final da sífilis. Neste ponto, a doença causa complicações de saúde muito mais graves, que podem incluir problemas cardiovasculares, doença do nervo central ou paralisia, e pode se tornar fatal.

Os médicos dizem que os exames regulares de saúde sexual em pessoas sexualmente ativas são a chave para a prevenção da doença. Isso vem depois do estudo encomendado pelo então primeiro-ministro David Cameron, que encontrou resistência aos antibióticos – o que pode causar 300 milhões de mortes prematuras.

No mundo, pelo menos 700.000 pessoas morrem anualmente por conta da resistência a medicamentos de doenças como infecções bacterianas, malária, HIV ou tuberculose. Educação sanitária mais eficaz e prescrições melhores por parte dos médicos são duas formas fundamentais de combater o problema.

[ Daily Mail ] [ Foto: Reprodução / Buzzle ]

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