Por que algumas pessoas não conseguem urinar se alguém estiver olhando?

de Merelyn Cerqueira 0

Enquanto usar um banheiro público pode ser uma tarefa relativamente fácil para a maioria das pessoas, estima-se que para mais de 20 milhões, apenas na América do Norte, a questão não é tão simples, de acordo com NBC News. A chamada síndrome da “bexiga tímida” é uma condição real, clinicamente conhecida como parurese, e consiste no medo que uma pessoa sente ao urinar sabendo que há outras nas proximidades.

De acordo com Carl Robbins, diretor de treinamento para o Instituto de Ansiedade e Distúrbios de Stress de Maryland, nos EUA, que trabalha com pacientes paruréticos há mais de 20 anos, a preocupação que envolve estas pessoas é de que outras vão notar e formar julgamentos sobre elas – de que são estranhas, defeituosas, inferiores, ou, no caso dos homens, pouco masculinos. Segundo ele, há uma enorme vergonha e constrangimento envolvido, porque os que sofrem com a síndrome sentem que não podem urinar como os outros, e por isso tendem a manter o ato em segredo, segurando a necessidade de urinar até o limite.

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Brian Beatty, um gerente de loja de 56 anos, relatou em entrevista à NBC, sobre uma de suas piores experiências envolvendo a síndrome, que ocorreu enquanto realizava uma corrida de carro com colegas de trabalho e clientes. “Tive de segurar [a urina] por 14 horas e enquanto isto soa impossível, é uma realidade diária para indivíduos com bexiga tímida”, contou.

Ele contou ainda que duas das técnicas mais usadas pelas vítimas da síndrome envolve limitar a ingestão de líquidos segurar a vontade até chegar a um local “seguro”. Antes de procurar ajuda para tratar sua fobia, ele disse ter sido incapaz de visitar banheiros públicos a menos que tivesse certeza de que fosse o único ali dentro. Meu principal problema é a privacidade, então ficar ao lado de alguém em um mictório é algo difícil”, disse. “Não estou totalmente certo sobre o que causou isso, mas houve alguns incidentes de infância causados por amigos e bullying sofrido no banheiro da escola que me vêm à mente”.

De acordo com Robbins, em cerca de 50% de seus pacientes com parurese foram identificados incidentes traumáticos ou estressantes envolvendo intimidações ou pressão por parte dos pais. Isso cria um ciclo vicioso, que faz com que os músculos do esfíncter urinário se fechem, uma vez em que o medo toma conta da pessoa. “É claramente um problema que envolve mente e corpo”, explicou. “Você precisa interromper esse ciclo de autoperpetuação do medo”.

Para Steven Soifer, professor associado na Escola de Trabalho Social da Universidade de Maryland, EUA, e vítima da síndrome, homens, mulheres e crianças sofrem igualmente com bexigas tímidas e que locais sem privacidade, como ambientes de trabalho, militares e prisões, podem ser um verdadeiro pesadelo para os paruréticos. Ele estima que 80-90% dos pacientes consgiam uma melhora considerável através de terapias cognitivo-comportamentais, em que gradualmente são expostos à situação que temem.

De acordo com a International Paruresis Association, existem oficinas, grupos de apoio e uma série de terapeutas familiarizados com a condição. A bexiga tímida é uma desordem real”, disse Soifer. “Não é algo para ser caçoado”.

[ NBC News ] [Fotos: Reprodução / Wikimedia / Wikimedia ]

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