Por que temos pesadelos?

Não há lugar tão aterrorizante quanto o lado escuro da mente humana, onde propriamente os pesadelos são formados. O que produz tais delírios noturnos e o propósito de cada um deles são questões que neurocientistas, xamãs e outros entusiastas dos sonhos ainda custam responder.

Enquanto que os significados dos pesadelos permanecem envoltos em um mistério sombrio, ao menos estamos começando a entender por que ocorrem, de acordo com a IFLScience.

O que é o pesadelo?

Segundo James Pagel, professor clínico da Faculdade de Medicina da Universidade do Colorado, EUA, há uma série de diferentes tipos de sonhos que podem ocorrer em todas as fases do sono, e nem todos podem ser considerados pesadelos. O que ele classificou como “terrores noturnos”, por exemplo, tendem a ocorrer no meio do ciclo do sono, durante a fase de sono profundo, e não possui forma ou enredo claro, apenas faz com que as pessoas acordem com uma intensa e inexplicável sensação de medo.

Já os pesadelos são experimentados durante a fase de movimento rápido dos olhos (REM) que ocorre no final do ciclo do sono, quando experimentamos sonhos mais vívidos. De acordo com Pagel, os pesadelos são simplesmente “sonhos com um enredo mais assustador”, sendo extremamente comuns e afetando quase todo mundo em qualquer momento da vida. No entanto, costumam ocorrer com maior frequência entre a infância e adolescência.

De acordo com um estudo realizado por Pagel e publicado em 2000 pela American Family Physician, apenas cerca de 5 a 8% dos adultos têm pesadelos recorrentes, enquanto que o mesmo ocorre entre 20 e 39% das crianças menores de 12 anos. Na maioria dos casos, não devem ser considerados um problema sério, uma vez que são esperados de vez em quando, especialmente quando experimentamos sensações inquietantes durante o dia – como assistir a um filme de terror, por exemplo.

No entanto, o pesadelo pode ser considerado problemático quando passa a desencadear desordens. Por exemplo, a frequência de pesadelos pode impedir que alguém durma corretamente, causando aflição durante os momentos de vigília noturna.

Então por que temos pesadelos?

O Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT) tem sido identificado como uma das causas mais comuns para as desordens de pesadelos, conforme as pessoas passam por experiências intensas e traumáticas, muitas vezes são atormentadas por medos e ansiedades. Um estudo recente feito por pesquisadores de Harvard descobriu que 80% dos que sofrem de TEPT têm pesadelos regulares, enquanto outro, descobriu que 53% dos veteranos da Guerra do Vietnã muitas vezes registravam sonhos assustadores, contra os apenas 3% da população em geral.

De acordo com Pagel, medicamentos que perturbam hormônios e neurotransmissores reguladores do sono REM também podem ser a fonte, ou seja, pessoas com distúrbios psicológicos também estão sujeitas a um número maior de pesadelos.

Agora, como tais condições causam os sonhos perturbadores ainda é um assunto que não foi totalmente compreendido pela Ciência, embora anormalidades na atividade neural tenham sido identificadas. Uma região do cérebro chamada amígdala, por exemplo, responsável por controlar o medo e o aprendizado, foi mostrada hiperativa em pacientes com TEPT, que também se queixaram de pesadelos regulares. Outra região cerebral chamada de sistema paralímbico, que também controla emoções, provou ser altamente ativa nos que experimentavam pesadelos com mais frequência.

Pesadelos podem machucar?

Para Pagel, os pesadelos são particularmente maravilhosos. “Os sonhos são basicamente um sistema de feedback cognitivo sobre como o cérebro está funcionado, e os pesadelos, mais que o os sonhos, fornecem um feedback do que está acontecendo dentro da nossa cabeça”, disse em entrevista à IFLScience. Logo, ao invés de nos prejudicar, eles fornecem uma opção para entendermos a própria psique e por esse motivo são extremamente benéficos, podendo ainda desbloquear a criatividade interior de cada um. “As pessoas com pesadelos frequentes tendem a ter personalidades mais criativas”, disse.

No entanto, ele adverte que ter pesadelos muito perturbadores pode desempenhar um papel de causa ou agravamento de TEPT, que por sua vez aumenta os riscos de suicídio. Ainda, há uma condição chamada de Distúrbio do Sono REM, ou sonambulismo. Mais comum entre homens de meia-idade, ela surge quando uma área do cérebro chamada ponte – responsável por paralisar os músculos enquanto dormimos – não funciona adequadamente, e por isso faz com que a pessoa levante ou caminhe enquanto dorme. Logo, considerando que durante um pesadelo podemos enfrentar situações de risco para preservar nossa vida, podemos concluir que um sonâmbulo correrá riscos maiores nesses momentos.

[ IFL Science ] [ Fotos: Reprodução / Pixabay ]