Os psicopatas são incapazes de amar seus próprios filhos

de Merelyn Cerqueira 0

A chamada Tríada da Personalidade Obscura (TPO) inclui traços como narcisismo, maquiavelismo e psicopatia.

Eles se manifestam em pessoas juntamente com amor próprio excessivo, atitudes manipuladoras e falta de empatia. Não está claro exatamente qual o número de pessoas com tais traços, no entanto, estimativas feitas por estudiosos sugerem um número entre 1% a 10% da população mundial.

Pessoas com estas características geralmente são muito narcisistas, e por isso não conseguem ver algo sob o ponto de vista de outros. Portanto, suas relações são, muitas das vezes, abusivas e controladoras. Seus parceiros tendem a ser manipulados, usados e enganados para acreditarem que estão loucos, antes de serem desvalorizados e descartados sem qualquer remorso.

Uma questão bem discutida em relação a pessoas da tríade fala sobre a maneira como estes costumam tratar os próprios filhos, já que narcisistas não conseguem amar ninguém a não ser eles mesmos. 

De acordo com Perpetua Neo, psicóloga terapeuta especializada em pessoas com TPO, “narcisistas, psicopatas e sociopatas não têm sensação de empatia, não experimentam e não desenvolverão empatia, então nunca podem realmente amar ninguém”.

E isso não muda quando têm filhos. Não há nestas pessoas um instinto primitivo de proteger ou encorajar os filhos, porque eles são vistos como uma mera ferramenta que está sempre à disposição. 

“Eles tendem a ver as crianças como uma extensão de si mesmos e uma posse”, explicou Neo. “Então, ao invés de dizer ‘eu vou cuidar para que você cresça e seja a pessoa incrível que dever ser’, eles dizem que você deve crescer e fazer o que é pedido, já que é um troféu”.

Segundo a especialista, um ambiente como este para uma criança é muito diferente do que é gerado por uma família saudável. Ao invés de ser nutrida e ensinada, a criança de um TPO cresce sem conhecer seu próprio senso de si mesma. 

“Posso verificar o seu telefone, posso fazer tudo o que eu quero fazer, posso entrar no seu quarto, basicamente, não respeitando seu senso de propriedade”, explicou Neo sobre como pessoas em DTP se comportam. “Não há limites emocionais, tampouco. Então, as crianças crescem sem saber quais são os limites”.

Ainda, eles esperam que os filhos preencham funções que, em condições normais não deveriam ter. Por exemplo, os narcisistas, que geralmente são pessoas infelizes e de baixa autoestima, tendem a descartar sua bagagem emocional de forma desnecessária nos filhos. As crianças são usadas como ouvidos para os problemas dos pais, bem como uma fonte de conforto emocional.

Segundo Neo, isso continua ao longo dos anos. “A única razão pela qual eu tive você era para que pudesse cuidar de mim pelo resto de sua vida”, disse ela, repetindo o que ouviu diversas vezes de clientes que são filhos de pessoas com TPO.

“Eles não têm permissão para ter filhos ou se casar”, acrescentou. “Os pais se intrometem em todos os relacionamentos, criando todo tipo de drama, de modo que o filho permanece solteiro”. 

Ao longo da vida, também é comum que a criança se torne um “saco de pancadas”, fisicamente ou emocionalmente. Essa situação se torna cada vez mais difícil à medida que envelhece, porque acaba se tornando mais forte e consciente, então os pais combatem isso derrubando sua autoestima, de acordo com Neo.

“À medida que os pais envelhecem e sua saúde começa a diminuir, sua sensação de autoestima se torna realmente instável”, disse.

“Então, a criança cresce, se torna mais forte, poderosa e com um senso maior de si mesma, o que é difícil para esse tipo de pai ou mãe. Logo, tudo se torna uma competição insalubre, que eventualmente coloca o filho para baixo, uma vez que tendem a ouvir dos próprios pais que são gordos, inúteis e feios, por exemplo”.

Ainda, se a criança consegue destaque em alguma atividade, os pais tendem a roubar o crédito. Por exemplo, se o filho é um bom trompetista, a única razão disso são os pais. “Tudo é sempre deles”, explica a especialista. “Então, a criança é educada pensando: não tenho senso de quem sou, não tenho opinião e não importo”.

O “filho de ouro” e o “bode expiatório”

A dinâmica desta relação muda dependendo que quantos filhos pessoas com TPO têm. Por vezes, terão mais de uma criança, o que muda a dinâmica de poder dentro da família. Na maioria dos casos, um dos filhos se torna a “criança de ouro”, enquanto o outro é sempre o motivo das coisas que dão errado.

“A criança [de ouro] pode viver com medo, porque tudo o que faz gira em torno de não desagradar os pais”, explicou. 

Já o segundo filho, usado como bode expiatório, é sempre o culpado de tudo. Tanto que os pais irão desfrutar do hábito de colocar as crianças uma contra a outra, criando uma competição desnecessária. Agora, se houver um terceiro filho, ele se tornará a criança “perdida”, negligenciada e completamente ignorada.

Monstros criam monstros?

Um dos maiores medos envolvendo crianças de pais em TPO é se se tornarão um fiel retrato de seus criadores.

No entanto, de acordo com psicoterapeuta Michelle Piper, do blog Narcissistic Mother, isso ocorre apenas na minoria dos casos. Segundo ela, pais narcisistas, por exemplo, odeiam a ideia de que seus filhos cresçam, e, portanto, tendem a mantê-los o mais próximo possível para “continuar acariciando seus egos sedentos, porém frágeis”.

“Quando você é filho de pais narcisistas, cresce acreditando existir algo de errado, mas não consegue necessariamente identificar o que é”, escreveu ela. “Você sempre esteve associado ao amor e apreciação, de acordo com as exigências de seus pais e, portanto, assume que é assim que tudo funciona”.

Entre os cenários possíveis para estas crianças quando crescem está resposta de “cerco”, em que tendem a fazer tudo o que podem para manipular os outros. “Este é mais ou menos um ataque passivo-agressivo de seus pais através de outras pessoas”. 

No entanto, segundo ela, a resposta mais comum é a de conformidade, em que o filho acostuma a colocar as próprias necessidades de lado para fazer o que lhe é pedido.

“Filhos de narcisistas tendem a ser consumidos por essa compulsão de servir os outros”, disse Neo. “É quando se tornam completamente empáticos e são usados ​​por mais narcisistas”.

“No momento em que não fazem alguma coisa, sentem-se completamente desvalorizados, insultados e repreendidos. Então assumem que seus pontos de vista e seus sonhos não são importantes”, acrescentou.

Já a criança “bode expiatório” geralmente consegue melhorar em vida quando deixa de ser fantoche dos pais.

Ela cresce e se aventura pelo mundo, descobrindo sobre o que é a liberdade. Embora todas desenvolvam sentimentos mais negativos associados aos pais em TPO, são plenamente capazes de se libertarem para criar uma vida nova e mais saudável.

Fonte: Business Insider Foto: Reprodução / Pexels

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