Múmias mais antigas do mundo estão se transformando em “lama gelatinosa”

de Merelyn Cerqueira 0

Múmias com pelo menos 7 mil anos, encontradas no norte do Chile, estão se transformando em uma espécie de “lama”.

Os pesquisadores do país notaram que pelo aumento dos níveis de umidade, mais de 100 delas estavam se tornando gelatinosas. As autoridades do país então solicitaram à Agência Cultural das Nações Unidas, a UNESCO, que as reconhecesse como patrimônio mundial antes da completa deterioração.

Certamente que obter o reconhecimento não ajudará a salvar as múmias, mas a esperança dos cientistas é que com a crescente atenção da comunidade internacional, outros especialistas apareçam para ajudar a encontrar soluções para impedir que se elas se transformem no limo escuro – aparentemente resultado da ação de colônias de bactérias que prosperam na pele mumificada.

Em entrevista concedida à Reuters, Sergio Medina Parra, antropólogo e chefe de departamento na Universidade de Tarapacá, no Chile, disse que o reconhecimento a partir da UNESCO não é apenas uma meta, mas o início de um processo de melhorias das ferramentas de conservação, um processo que inclui o Estado chileno e comunidade internacional.

As quase 300 múmias foram descobertas ao longo do início do século 20 entre a costa do sul do Peru e norte do Chile, e inclui corpos de adultos, crianças, bebês e fetos abortados. Com algumas datadas em 5050 a.C., estas são consideradas algumas das mais antigas do mundo.

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Elas são basicamente de um grupo de caçadores-coletores conhecidos como povo Chinchorro. O grupo estava mumificando seus mortos cerca de 2.000 antes dos egípcios antigos começarem a fazê-los com seus faraós. Enquanto os egípcios mumificavam apenas a elite, os Chinchorros aparentemente o faziam com qualquer pessoa, velha ou jovem. Tal informação sugere uma sociedade muito igualitária e democrática.

Segundo Bernardo Arriaza, da Universidade de Tarapacá, que há 30 anos lidera as escavações na área, a suspeita é que a água potável contaminada pelos vulcões próximos possa ter iniciado o ritual de mumificação, uma vez que os pesquisadores encontraram arsênico nos tecidos das múmias.

Envenenamento por arsênico pode levar a uma alta taxa de abortos espontâneos, e mortalidade infantil, e a tristeza sobre essas mortes pode ter levado esta comunidade a começar a preservar os pequenos corpos”, explicou. “A mumificação poderia ter começado com os fetos e aumentado para incluir adultos. As múmias mais velhas que temos encontrado são de crianças”.

Como foram enterrados sob as areias secas do deserto do Atacama, os corpos foram incrivelmente preservados por milhares de anos. Algumas partes de terra sequer foram tocadas pela chuva por um período de mais de 400 anos.

Nó século passado, quando descobertas, foram escavadas e transportadas para instituições de pesquisas próximas para que fossem conservadas. No entanto, no início do ano passado, preservacionistas chilenos notaram que algo estava errado e logo recorreram aos cientistas de Harvard para descobrir as causas e o que fazer.  

Na época, Ralph Mitchell, um biólogo de Harvard, disse ter sabido que as múmias estavam se degradando, mas que esse tipo de degradação nunca havia sido estudado antes. Análises de amostras de tecidos revelaram a presença de bactérias modernas, que normalmente vivem na nossa pele, mas que estavam acelerando o processo de deterioração.

Em entrevista à Live Science, Mitchell explicou que com a temperatura e umidade apropriada, as bactérias começaram a usar a pele mumificada como alimento. Assim, ele orientou os cientistas chilenos que mantivessem os corpos em condições adequadas para evitar que os microrganismos “mastigassem” as múmias até desaparecerem completamente.

A UNESCO ainda não informou se o pedido será aprovado. A esperança agora é que os pesquisadores locais encontrem a ajuda que procuram para preservar um patrimônio de 7 milênios de existência.

[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Vivien Standen ]

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