Ser diagnosticada com uma doença que ninguém pode tratar é o pesadelo para qualquer pessoa. Porém, o Hospital de Doenças Tropicais tratou um desses casos.
Corinne Little-Williams, de 54 anos, de Tiverton, Devon contou ter passado por modificações repentinas. “No outono passado, a minha voz ficou rouca, a garganta dolorida e seca e nenhum som saia quando eu falava”.
Corinne achava que seus sintomas eram de um simples resfriado, porém eles começaram a se intensificar. “Comecei a me sufocar sempre que comia, além de não conseguir respirar e ter dificuldade para engolir”, comenta. A cada meia hora, ela ficava ofegante e acordava várias vezes durante a noite com dificuldade de respirar. Em janeiro, ela foi encaminhada para o Royal Devon e Exeter Hospital.
“O médico olhou minha garganta com uma câmera, e disse a minha caixa de voz estava ‘deformada’. Em seguida, ele falou da possibilidade de ser câncer. Minha família (tenho três filhos crescidos e minha esposa Sarah tem dois) entrou em choque, porque eu já tinha perdido minha irmã mais velha e meu sobrinho para o câncer”.
Após os resultados, os médicos descobriram não ser câncer. Porém, foi observado um parasita em suas cordas vocais. Corinne foi diagnosticada com Leishmaniose Muco-cutânea. “Eu nunca tinha ouvido falar dessa doença e não tinha ideia de como tinha sido infectada. Fui encaminhada para o Hospital de Doenças Tropicais, em Londres, em maio para ser tratada por Diana Lockwood, especialista na doença”.
A doença geralmente começa com uma ferida ou úlcera, mas no caso de Corinne, nenhum sintoma foi observado. A especialista então pediu que ela tentasse se lembrar de qualquer ferida que ela teve nos últimos tempos e dos lugares em que passou as férias. “Foi quando me lembrei de uma viagem para a ilha de Zakynthos, na Grécia, em 2007. Nessa viagem, eu sofri muitas picadas”, comenta. “Agora eu percebo que provavelmente não era uma simples picada de mosquito, mas a de um mosquito-pólvora. O parasita esteve adormecido dentro de mim por anos. Já me disseram que se eu não tivesse sido tratada, poderia ter morrido dentro de seis meses”.
Para acabar com o parasita, Diana receitou o medicamento miltefosine por 30 dias. “Esta medicação me deixou enjoada quase todos os dias, mas pelo menos estava matando o monstro dentro de mim”, conta Corinne. Quatro meses após o tratamento, a voz de Corinne voltou 80%, sua tosse diminuiu e a respiração melhorou. Ela ainda está sendo monitorada, pois há uma pequena chance de a doença voltar.
A doença
Segundo Diana, a Leishmaniose é uma infecção parasitária que pode ser contraída através da picada do mosquito-pólvora. Existem dois tipos da doença: a Leishmaniose Visceral, que afeta o fígado e o baço; e a cutânea, que é mais comum, causando úlceras na pele.
Às vezes a doença é descrita como uma “comedora de carne”, mas o que realmente acontece é que o corpo responde ao parasita com muita inflamação, que, em seguida, se transforma em úlcera. Estas duas formas da doença afetam cerca de 1,5 milhão de pessoas por ano no mundo, principalmente na América do Sul, África, Índia e Mediterrâneo, especialmente Grécia e Espanha.
O primeiro sinal de doença é uma úlcera que geralmente se forma no local da picada. Ela tende a ser crônica e pode durar até 12 meses, podendo desaparecer e voltar em seguida. Elas podem variar de tamanho – de meio centímetro até cerca de 7 centímetros. É possível confundir a lesão com uma picada comum de inseto.
Se a úlcera não cura após o uso de antibióticos, é preciso retornar ao hospital. Corinne teve Leishmaniose Muco-cutânea, uma complicação do tipo Cutâneo: a doença entra no nariz, garganta e cordas vocais, levando a problemas como hemorragias nasais, congestão no nariz, dificuldade em engolir ou respirar. É provável que os parasitas tenham se espalhado através da corrente sanguínea para a laringe.
Devido ao uso de inaladores para Asma, ela suprimiu as defesas imunitárias de suas cordas vocais, permitindo que o parasita se multiplicasse. Se deixados sem tratamento, os pacientes com Leishmaniose Muco-cutânea podem ficar com furos nas cordas vocais e na traqueia, chegando até a morte.
O quadro de Corinne era grave, e se não tivesse procurado ajuda, morreria dentro de seis a doze meses. Sua condição costumava ser muito difícil de tratar, porém uma nova droga chamada miltefosine combate o parasita. A melhor prevenção é utilizar repelente de insetos.
[ Daily Mail ] [ Fotos: Reprodução / Daily Mail ]