A história da ativista antiaborto que foi “queimada” dentro do útero por sua mãe e a perdoou

de Merelyn Cerqueira 0

Gianna Jessen, 40 anos, de Los Angeles, Califórnia, nasceu em abril de 1977 após uma tentativa fracassada de aborto. Ela cresceu acreditando ter sido vítima de uma paralisia cerebral, uma vez que veio ao mundo de maneira prematura, aos sete meses, em um parto particularmente traumático.

Esta, no entanto, foi a versão que sua mãe adotiva lhe deu até atingir os 12 anos de idade, quando finalmente descobriu a verdade sobre sua vida. “Eu não estava satisfeita com as informações que tinha por algum motivo, então continuei perguntando o porquê da minha deficiência”, disse ela em uma entrevista concedida ao jornal Telegraph em 2005.

“Ela tentou me destruir gentilmente e então, assim como ela estava prestes a me dizer, eu disse: Eu fui abortada, certo? E ela disse: sim, você foi”. Minha reação foi: “bem, pelo menos eu tenho paralisia cerebral por uma razão interessante”, disse.

O que Jessen descobriu mais tarde foi que ela sobreviveu na verdade à sua mãe biológica, que à época tinha 17 anos de idade. Identificada apenas como Tina, ela decidiu fazer um aborto por meio da injeção de uma solução salina concentrada, quando estava grávida de sete meses.

No entanto, o procedimento falhou e, contra todas as probabilidades, Jessen sobreviveu, embora aos 17 meses tenha sido diagnosticada com paralisia cerebral, causada pela falta de oxigenação durante a tentativa de aborto.

“Os médicos disseram que eu estava em um estado horrível”, disse ela. “Eles disseram que eu nunca conseguiria levantar a cabeça, mas eventualmente, eu consegui. Então eles disseram que eu nunca seria capaz de me sentar corretamente, mas eu me sentei corretamente”, continuou.

“Eles disseram ainda que eu nunca conseguiria caminhar, mas aos três anos eu estava caminhando. Sou um pouco birrenta”, acrescentou.

Segundo ela, foi essa vontade de lutar que a transformou na ativista que é hoje. Embora more em Nashville, no Tennessee, nos EUA, divide seu tempo para viajar pelo mundo contando sobre sua experiência e explicando o porquê de ser contra o aborto.

Jessen contou ainda que os músculos de suas pernas se atrofiaram e, portanto, precisou fazer terapia para voltar a movê-las. 

No entanto, ela nunca culpou a mãe pela condição. Talvez, depois de suportar o trauma de quatro operações em seus primeiros 10 anos (três para resolver problemas com seu tendão de Aquiles, o quarto para unir os nervos espásticos em sua coluna) a dor de sentar-se cara a cara com a mãe que tentou matá-la seria muito grande.

“Eu nunca fiquei brava com ela porque ela é uma completa estranha”, disse. Eu não digo que a desculpo, e sei que ela teve outro aborto antes de mim, mas não me sinto triste ou amargurada, porque podemos escolher superar ou ficar com raiva”, disse. “Eu quero o primeiro”.

Sua mãe biológica se casou novamente e atualmente vive no sul da Califórnia. Embora tenha visto Jessen na televisão, nunca entrou em contato com ela.

“Eu sinto que já tenho a minha mãe – minha mãe adotiva, Diana [que a adotou quando tinha quatro anos]”, disse ela. “Neste ponto, não quero entrar em contato com minha mãe biológica. Mas não é que eu fique brava com ela. Eu a perdoo totalmente”.

No entanto, ela atesta que este perdão não veio facilmente e que teve que superar uma série de traumas que possivelmente vieram acompanhados de seu turbulento início de vida.

Ela disse, por exemplo, ter muito medo de fogo. “Eu acho que foi resultado do que aconteceu”, disse. “Um aborto com injeção salina efetivamente queima o útero de sua mãe”.

“Minha mãe tomou uma decisão que pensou afetar apenas ela e, todos os dias, eu sofro com o resultado dessa decisão por meio da minha paralisia cerebral”, disse. “Não estou dizendo isso para condená-la, mas é a verdade”.

“É mais confortável para as pessoas pensarem sobre o aborto como uma decisão política ou um direito”, disse. “Mas eu não sou um direito. Sou um ser humano. Eu sou a realidade. Gentilmente, coloco a questão: se o aborto é sobre os direitos das mulheres, então, onde estava o meu? Não havia nenhuma feminista radical gritando pelos meus direitos naquele dia”.

“É por isso que quero viver minha vida com integridade, tendo vivido o que eu professo. Meu trabalho não é mudar sua mente [se você é pro-aborto]. Meu trabalho é apresentar a verdade e deixar você decidir. Eu não acredito no aborto, ponto”, acrescentou. “Acredito na adoção. Os argumentos para o aborto estão caindo um a um”.

“Agora, em uma ala de hospital, médicos estão matando crianças no útero enquanto outros em outra ala estão tentando desesperadamente salvar um bebê do mesmo tamanho e em um útero diferente”, disse. “Isso não faz sentido. É meu valor baseado no que eu posso e não posso fazer. Se assim for, estamos vivendo um momento muito assustador”. 

Entretanto, embora não tenha nada que Jessen possa fazer a não ser falar, ela segue fazendo o possível para ser ouvida.

“Eu estou mais feliz do que nunca e posso articular isso por causa dos obstáculos que supero”, disse. “Não estou à procura de piedade”, finalizou. Veja seu emocionante relato no vídeo abaixo:

Fonte: The Telegraph Fotos: Reprodução / The Telegraph

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