Zika: ONU cria polêmica ao defender aborto em casos de microcefalia

de Rafael Fernandes 0

De um lado, a saúde pública, de outro, a fé. O debate foi levantado devido à presente situação de crise na saúde das Américas, em decorrência da epidemia de Zika que, apesar de não ser totalmente comprovado, muitos estudos apontarem ser causador do recente surto de microcefalia.

A tomada de decisão da Organização das Nações Unidas (ONU) de defender a descriminalização do aborto, deu a largada para o debate sobre os direitos reprodutivos da mulher. No dia em que fez o apelo pela legalização, a porta-voz da ONU, Cecile Pouily ressaltou à BBC que a proibição não impede que o aborto seja feito e que pelo menos 47 mil mulheres no mundo morrem em decorrência de abortos sem segurança.

Em contrapartida, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) logo se opôs e o governo brasileiro, além de não se mostrar aberto ao debate, insiste em reafirmar que o País proíbe a prática.

Atualmente, mesmo com uma legislação ultrapassada, a justiça não é totalmente inflexível. Por outro lado, mais de 70% de nossa população é irredutivelmente contra o aborto sob qualquer alegação. Entretanto, de acordo com a OMS, pelo menos 1 milhão de mulheres procurarão essas “clínicas” no período de um ano, resultando em mais de 180 mortes e 200 mil internações no SUS.

Diagnosticada com a deformação cerebral, a jornalista Ana Carolina Cárceres, 25 anos, se tornou a principal porta-voz dos que pedem pela vida das pessoas com microcefalia. Ela defende que as mães façam uma reflexão:

“Em vez de aborto, informação e investimento em tratamento. Agora tem o Zika, mas a microcefalia já existia antes. Todo mundo acha que é algo ruim, que todos os casos são graves, mas não é verdade. Isso assusta e as pessoas acabam decidindo pelo aborto. É preciso ver o outro lado da moeda, ouvir casos como o meu, de gente que vive bem.”

microcefalia_01

Representante de um grupo de ativistas que vai pedir ao Supremo Tribunal Federal um pacote de medidas de saúde pública, incluindo a flexibilização do aborto, a antropóloga Débora Diniz chamou atenção para outro ponto: o sofrimento da gravidez. Ao HuffPost Brasil, Débora diz comparar o caso ao de estupro.

“Já temos o excludente demográfico no caso de estupro, em que as condições de vida do feto não estão em jogo e na qual o Estado reconhece a situação que a mulher vive de sofrimento na gravidez. Hoje temos mulheres com um dano indevido pela não prevenção ao mosquito. Não é questão de conversar sobre o feto. Estamos em uma situação de epidemia e não estamos obrigando nenhuma mulher a tomar nenhuma opção. Mas queremos que o Estado reconheça que ela pode ter opção.”

No Brasil, o aborto é considerado crime pela lei e a pena pode ser de até 3 anos de prisão.

[ Brasil Post / Diário de Biologia] [ Foto: Reprodução / Diário de Biologia ]

Jornal Ciência