Do corpo à poeira: Ossos são um eterno mistério? Desvendando a decomposição e os segredos que eles guardam

Da esqueletização à diagênese: o fascinante mundo da decomposição óssea e as pistas que eles revelam para desvendar identidades, estilos de vida e segredos do passado.

de OTTO HESENDORFF 0

A decomposição de um corpo até restar apenas ossos, conhecida como esqueletização, pode levar de algumas semanas a alguns anos. Mas o que acontece com esses ossos depois?

Se eles não se decompõem, por que não pisamos em esqueletos por onde passamos? A resposta é que os ossos se decompõem, mas o processo é extremamente lento.

Essa transformação de “osso em pó” é chamada de diagênese e envolve mudanças microbianas, químicas e mecânicas, podendo durar de dias a milhões de anos.

Antigamente, pouco se sabia sobre esse processo, mas estudos recentes, como um de 2022 que enterrou costelas humanas por 12 meses para observar suas mudanças, estão lançando luz sobre a diagênese a curto prazo.

Os ossos são compostos por minerais e colágeno, uma proteína que os mantém unidos. Pesquisas revelam que a hidrólise fragmenta as ligações do colágeno, enfraquecendo-o com o tempo, enquanto os minerais se dissolvem e se recristalizam.

Sem o colágeno como “cola”, o material esquelético remanescente fica exposto e frágil, podendo ser pulverizado por fatores como temperaturas e umidade extremas, ação de animais e vento.

Os ossos que encontramos aparentemente intactos milhões de anos após a morte do animal se devem a particularidades da mineralização, um dos vários processos de fossilização.

O que os ossos podem nos revelar?

A tafonomia forense utiliza a resistência dos ossos a seu favor. Restos esqueléticos podem ajudar a reconstruir a identidade de uma pessoa falecida.

“Isso envolve a criação do que chamamos de perfil osteobiográfico, e normalmente compreende uma estimativa do sexo biológico, idade na morte, estatura, traumas potenciais que podem ter ocorrido antes, durante ou depois da morte”, explicou o especialista forense Dr. Devin Finaughty em entrevista ao portal IFLScience.

“Há também muita informação que você pode extrair do esqueleto de uma pessoa sobre seu estilo de vida. Gosto de dizer que nossas histórias de vida estão escritas em nossos ossos: os tipos de atividades que realizamos, o nível de atividade física que praticamos, o histórico de processos de doenças.”

Doenças graves, cirurgias, próteses e reparos ósseos também deixam marcas. A análise de diferentes partes do esqueleto pode revelar a dieta da pessoa em diferentes fases da vida.

“Podemos reconstruir a dieta de uma pessoa em diferentes estágios de sua vida dependendo de onde obtivemos o tecido. Mesmo quando paramos de crescer, isso não significa que seus ossos simplesmente param de funcionar. Seu corpo continua a renová-los, e ele está puxando material de sua dieta para fazer isso. Isso significa que podemos usar análise de isótopos estáveis para gerar informações baseadas em sua dieta. Tudo, desde o tipo de água que você bebia até o tipo de comida que você comia, tudo isso está escrito nos ossos”, ressalta o especialista.

Fonte(s): IFLScience / NCBI Imagem de Capa: Reprodução / XoelBurgues / Shutterstock.com via IFLScience

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