Conheça o tratamento médico que permite manipular sentimentos

de Merelyn Cerqueira 0

Se você alguma vez desejou poder entrar na cabeça alguém, saiba que a ciência fez o mesmo, mas com um pequeno adendo: ela vem trabalhando nisso há anos.

O assunto recebeu atenção extra ultimamente, graças a um processo terapêutico chamado neurofeedback. Através dele, pesquisadores foram capazes de plantar sentimentos, que anteriormente não existiam, na mente de participantes. Os resultados visam tratamento de vários transtornos mentais, incluindo insônia, enxaqueca e déficit de atenção, segundo informações da All That is Interesting.

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O que é?

Neurofeedback, ou biofeedback, é uma neuroterapia que permite às pessoas alterarem suas próprias ondas cerebrais. Em um estudo realizado recentemente, cientistas da Universidade Brown utilizaram o processo para manipular emoções em participantes, resultando no desenvolvimento de sentimentos positivos ou negativos em resposta a fotografias que não haviam provocado resposta emocional poucos dias antes.

Embora a ideia soe como controle mental, o processo depende do esforço para ensinar os participantes a regularem seus próprios padrões de ondas cerebrais, em um evento referido como autorregulação, e toda a atividade cerebral é medida em tempo real. Logo, mais do que uma “lavagem cerebral”, a atividade consiste mais em um treinamento do cérebro, uma vez que os participantes são responsáveis por gerar os sentimentos por conta própria, apesar dos pesquisadores gerenciarem os controles.

Como funciona?

Em um estudo publicado pela PLOS Biology, pesquisadores pediram a 24 participantes que observassem uma série de fotografias de rostos e em seguida, classificassem as imagens como muito negativas, neutras ou muito positivas. Enquanto eles faziam essa avaliação, os pesquisadores mediam os padrões de atividade neural a partir de ressonância magnética, para que pudessem emparelhar ondas específicas com classificações particulares.

O aspecto do estudo, de cinco fases projetadas para ‘plantar emoções’, começaria assim: cada participante jogaria um jogo que envolvesse escaneamento cerebral, avaliação de fotografias e discos flutuantes. Assim, um a um, deitados, eles foram avaliados por escaneamento e pedidos que analisassem as fotos. Então, um disco flutuante aparecia, ao passo que os pesquisares pediam que participantes usassem apenas a mente para deixá-lo maior. Se conseguissem, ganhariam um prêmio em dinheiro.

Naturalmente, nenhum deles sabia como fazer isso, e tampouco precisavam aprender. O disco era capaz de ler a atividade cerebral de cada um e, conforme os pensamentos positivos e negativos causados pelas fotografias anteriores, ele crescia. Os pesquisadores repetiram o processo algumas vezes.

Em uma fase posterior, todos os participantes, incluindo um grupo de controle que não havia realizado a atividade do disco, tiveram de classificar as fotos tidas como neutras novamente. Desta vez, os que receberam o tratamento de neurofeedback classificaram-nas como pouco mais negativas ou positivas do que anteriormente.

Tratamento para doenças mentais

Em suma, o neurofeedback revelou aos pesquisadores a existência de uma única região do cérebro onde os sentimentos positivos e negativos se formam, e que estes podem ser “moldados” através de técnicas de reforço. A pesquisa também mostrou que através do processo, os indivíduos podem, mesmo que sem querer, mudar sua própria atividade cerebral, desenvolvendo emoções que não tinham anteriormente. O resultado pode significar grandes mudanças na forma como os médicos identificam e tratam condições mentais, incluindo ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático.

Segundo Takeo Watanabe, coautor do estudo, pensava-se que a técnica pudesse mudar apenas a preferência facial. No entanto, eles foram capazes de mudar muitas outras funções. “Particularmente aquelas relacionadas às causas de doenças mentais”, disse em entrevista ao The Huffington Post.

Dessa forma, ao testemunhar e monitorar a atividade cerebral dos participantes conforme os pensamentos e sentimentos surgiam e desapareciam, eles poderão utilizar a técnica para ajudar pacientes a manipular seus próprios padrões de atividades cerebrais, aprendendo a lidar com estresse extremo sem a necessidade de medicamentos. Se alguém desenvolve uma memória traumática que o faz sofrer, mesmo uma pequena redução do sofrimento seria útil”, disse Watanabe.

[ All That is Interesting ] [ Fotos: Reprodução / All That is Interesting ] 

Jornal Ciência