Autópsia em programa de TV mostra as consequências da obesidade para o corpo humano

de Julia Moretto 0

A obesidade é classificada, desde 2013 pela American Medical Association, como uma doença que acomete milhões de pessoas, em todo o mundo. Mas, você tem ideia do que a obesidade pode fazer com nosso corpo, internamente?

Para debater sobre o assunto, a BBC Three transmitiu um programa em que os médicos dissecam uma mulher obesa onde seu corpo foi doado para ser estudado pela ciência.

Pesquisa

O programa apresenta uma mulher com cerca de 60 anos que morreu de insuficiência cardíaca. Ela não possui marcas no corpo ou tatuagens, para preservar sua identidade.

A única coisa que se sabia sobre a mulher é que ela bebia socialmente. Seu corpo, que estava congelado na Califórnia, foi descongelado no Reino Unido durante dez dias, ficando pronto para uma dissecção de 12 horas no Royal College of Surgeons, em Londres, realizada pelo patologista Dr. Mike Osborn e sua assistente técnica Carla Valentine.

“A menos que você seja um patologista, você nunca sabe sobre as mudanças que a obesidade provoca em seus órgãos”, comenta o Dr. Osborn.

Barriga

Como o corpo da mulher encontra-se estirado, a barriga é o sinal mais evidente de sua obesidade. Ao abri-la, a primeira coisa que pode ser vista é a camada de gordura amarela e brilhante sob a pele, com cerca de 3,81 cm de espessura. 

Dr. Osborn, que realiza cerca de 250 exames por ano em cadáveres, diz que apesar de surpreendente, a cor é completamente normal. “Em algumas pessoas a gordura é amarela e brilhante, como nesta, em outras é um tom um pouco mais cremoso”, contou.

A textura da gordura pode ser comparada à de uma manteiga, de tão escorregadia. Ela está espalhada por todo o corpo e protege os nossos órgãos. Segundo Dr. Osborn, ganhar peso não significa aumentar o número de células de gordura. 

“Na verdade, o número de células de gordura que temos permanece o mesmo depois de nossa adolescência. Mas, as células se expandem e se tornam maiores, como balões. Como os níveis de gordura sobem, elas se expandem sob a pele e podem entrar entre os órgãos, reduzindo o seu sangue, o suprimento de oxigênio e alterando o seu equilíbrio hormonal, explicou. 

Nesta mulher, o tamanho de sua barriga era um sinal de que isso estava acontecendo dentro de seu corpo.

Não é apenas sobre a quantidade de gordura que você tem. É também sobre onde ela está. Ter gordura em torno de sua barriga, é mais perigoso do que ela ficar armazenada em torno de suas coxas e na parte inferior. Há 10 ou 15 anos, pensávamos que a gordura não causaria problema. Agora sabemos que a gordura altera o equilíbrio dos hormônios, como a insulina, o que pode desencadear doenças como Diabetes, Hipertensão e realizar mudanças que podem levar à falência de órgãos, completou.

Coração

De acordo com o Dr. Osborn, os impactos da obesidade no coração são nitidamente aparentes. No caso da mulher, é possível observar que ela morreu de insuficiência cardíaca, provocada pela pressão arterial elevada e desencadeada por seu peso.

“A pressão arterial elevada desta mulher teria aumentado o volume de fluido que o coração bombeava para seu corpo, pressionando-o e deixando as paredes mais finas”, diz o Dr. Osborn.

Dessa forma, seus músculos cardíacos não teriam sido contraídos e o sangue não foi bem bombeado. O fluxo de sangue para as outras partes do seu corpo teria sido muito fraco. Ela provavelmente teria se sentido cansada e encontrou dificuldades para exercer suas tarefas.

“As alterações devem ter sido tão grandes para seu coração, que, de repente, parou de funcionar completamente”, explicou Dr. Osborn.

Embora seu coração estivesse nos estágios finais, o Dr. Osborn não encontrou sinais de que suas artérias estavam estreitando.

“Seu coração estava em uma situação ruim, especialmente porque ela tinha um pouco mais de 60 anos. Mas, por alguma razão, talvez uma combinação de genes e estilo de vida, suas artérias não apresentavam depósito de gordura”.

Pulmões

Em uma pessoa saudável com o peso normal, os pulmões serão semelhantes a esponjas secas. Ao retirar os pulmões da mulher, Dr. Osborn descobriu que eles estavam encharcados – um sintoma que muitas vezes anda de mãos dadas com insuficiência cardíaca.

“O líquido escorrendo de seus pulmões mostrou que ela estava sofrendo de um edema pulmonar muito ruim. Nesse estado, fluido se forma porque o coração não é forte o suficiente para bombeá-lo de forma eficiente”, diz ele.

“É provável que antes desta mulher morrer, ela teria tido a sensação de que estava se afogando e com problemas respiratórios”, completou. A análise mostrou que os pulmões eram pequenos e que eles poderiam ter sido comprimidos por outros órgãos, tornando a respiração mais difícil.

Estômago

Surpreendentemente, o estômago muda pouco com o excesso de peso. “O estômago é uma bolsa que se expande para receber o alimento e, em seguida, se contrai. Não é por que uma pessoa é gorda que seu estômago é enorme”, comenta o Dr. Osborn.

“Se você comer muito, o estômago pode tornar-se ligeiramente maior, mas não algo fora do comum”, completou.

Fígado

O fígado apresenta muitos sinais sobre a dieta e o estilo de vida de uma pessoa. Um fígado saudável possui a cor vermelha, é firme e tem uma superfície lisa. No entanto, como a obesidade pode mudar esse aspecto, ele pode se tornar maior, mais mole e ter cicatrizes por toda parte.

O fígado desta mulher era um terço maior do que deveria ser. Esse é o sinal de uma doença hepática gordurosa ligada ao excesso de peso, a esteatose.

Suas mudanças eram tão notáveis que a cor de seu fígado passou de vermelho para rosa. Dr. Osborn acredita que a mulher não sabia que seu fígado estava com gordura. “As pessoas, geralmente, não têm quaisquer sintomas de doença hepática gordurosa”, explicou.

Rins

Os rins são protegidos por uma delicada camada de gordura, no entanto, nesta mulher eles estavam cobertos por uma camada de gordura muito espessa. Além disso, apresentavam marcas de pressão arterial elevada.

Dr. Osborn, explica que os rins filtram o sangue e produzem a urina. “No entanto, se eles são forçados a trabalhar com muito líquido, danificam os pequenos tubos que filtram o sangue, deixando cicatrizes”.

A informação sobre os órgãos pode ser usada para ajudar outros médicos a compreender como a obesidade afeta o corpo.

“Os principais problemas que a obesidade desencadeia são hipertensão arterial, esteatose (gordura no fígado), diabetes e aumento do risco de alguns tipos de câncer. Mas, nunca é tarde para as pessoas cuidarem da saúde”aponta o Dr. Osborn.

Assista o vídeo abaixo:

Fonte: Daily Mail Fotos: Reprodução / Daily Mail 

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