FDA considera legalizar prática que levaria bebês a ter “três pais genéticos” para evitar problemas mitocondriais!

de Bruno Rizzato 0

Um painel de cientistas publicou um relatório recomendando que o Food and Drug Administration (FDA) – regulador de medicamentos e alimentos dos EUA – aprove o teste para um procedimento médico conhecido como substituição mitocondrial, que poderia impedir doenças genéticas perigosas em recém-nascidos.

O procedimento, já aprovado na Grã-Bretanha, ainda tem um longo caminho a percorrer antes da aprovação final nos EUA. Embora os críticos digam que isso abrirá portas para a edição de genes, não há nada do tipo na substituição mitocondrial. Em vez disso, é mais como uma versão microscópica de um transplante de órgão.

As mitocôndrias são chamadas de organelas (assim como outras estruturas presentes no citoplasma), pois desempenham um papel semelhante a órgãos, quebrando moléculas para fornecer energia para o corpo inteiro. As mitocôndrias também são a única parte da célula que contém DNA além do núcleo. Alguns biólogos acreditam que isso é devido às mitocôndrias terem sido células separadas. Elas foram absorvidas em um processo chamado endossimbiose, durante uma fase antiga da evolução celular, onde os fragmentos de DNA resistiram por bilhões de anos. 

Bebês herdam a mitocôndria de suas mães, e quaisquer mutações no DNA da mãe serão transmitidas aos seus filhos, seus netos, e assim por diante. Um em cada 5.000 nascimentos tem uma mutação do DNA mitocondrial, e os sintomas variam de leves a extremos, incluindo insuficiência cardíaca, demência e morte. Não há cura conhecida para doenças causadas por mutações do DNA mitocondrial.

Na substituição mitocondrial, um doador fornece a mitocôndria para a mãe, substituindo a danificada. O DNA da mãe permanece inalterado. Existem várias técnicas para realizar isso, mas o resultado é um ovo que contém as mitocôndrias doadas e o DNA nuclear da mãe. Com a ajuda de mitocôndrias saudáveis de um doador, estes problemas seriam resolvidos, sem transmissão de mitocôndrias danificadas para os filhos, com a doença removida da linha germinal da mãe de forma permanente. Com o óvulo fertilizado, o resultado é uma criança que, tecnicamente, teria material genético de três pessoas.

Dito isto, uma bioeticista da Universidade Duke, nos EUA, chamada Nita Farahany, argumenta que a quantidade de DNA fornecida pela mitocôndria é muito pequena dizer que a criança teria três pais. Em vez disso, seria um bebê com organelas de doadores em suas células. O relatório foi solicitado pela FDA. O órgão tem analisado os méritos da substituição mitocondrial por quase dois anos e pediu à Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina que um painel de cientistas fosse convocado, para que decidissem sobre a ética de prosseguir com os testes em humanos.

O painel estipulou que com os testes completos, o procedimento deveria ser feito inicialmente apenas em embriões do sexo masculino. Dessa forma, se alguma coisa desse errado, a mitocôndria não seria repassada para a próxima geração. Apesar das garantias éticas, parece que a FDA ainda está relutante em aceitar.

A substituição mitocondrial já foi aprovada na Grã-Bretanha. Diversos outros países estão inclinados a aceitá-la. O relatório recente da FDA representa um primeiro passo importante para casais que queiram ter filhos sem medo de que eles herdem as mutações mitocondriais de suas mães.

[ Ars Techina ] [ Foto: Reprodução / D. Burnette, J. Lippincott-Schwartz / NICHD ]

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