Príons: proteína cerebral mortal e contagiosa é desenvolvida pela primeira vez em laboratório

de Merelyn Cerqueira 0

Você já ouvir falar em príons? Tratam-se de partículas proteicas infecciosas que são responsáveis por uma série de doenças cerebrais devastadoras. Elas se diferem das bactérias e vírus comuns porque são desprovidas de carga genética.

Sabendo disso, pesquisadores nos EUA sintetizaram pela primeira vez na história da ciência um príon artificial em laboratório.

Mas, ao invés de fazê-lo com o intuito de criar uma “pandemia zumbi” (como os teóricos da conspiração adoram imaginar), eles o fizeram com o objetivo de desenvolver tratamentos para diversas doenças causadas pelos próprios príons.

Representação tridimensional de um príon.

De acordo com o neurologista Jiri G. Safar, da Case Western Reserve School of Medicine, até o momento, a compreensão da ciência a respeito dos príons tem sido limitada.

Logo, ser capaz de sintetizá-los poderia ajudar a alcançar um entendimento muito mais rico da estrutura e formas de replicação desta terrível forma de proteína.

Uma vez compreendido isso, os pesquisadores estariam mais bem equipados para desenvolver medicamentos capazes de retardar a ação dos príons do cérebro, impedindo uma potencial disseminação com características devastadoras.

Os príons, em outras palavras, são proteínas que “deram errado” e acabaram se dobrando de forma anormal. Então, quando se ligam a proteínas normais do cérebro, induzem estas a se tornarem anormais também.

Esse efeito cascata cria buracos microscópicos no cérebro, transformando-o em algo semelhante a uma esponja.

Esse dano cerebral incontrolável é capaz de causar demência, perda de controle corporal e até mesmo a morte, sendo clinicamente chamado de encefalopatia espongiforme progressiva em humanos ou Doença de Creutzfeldt-Jakob, mas a doença também ocorre em bovinos, onde ficou conhecida pelo nome de “doença da vaca louca”.

As doenças causadas por príons são raras, de modo que apenas cerca de 300 casos são relatados por ano nos EUA. No entanto, possuem progressão rápida e são, para todos os efeitos, incuráveis, o que as tornam particularmente assustadoras. 

No passado, pesquisadores já haviam conseguido projetar tais proteínas em ratos, mas estas não foram capazes de infectar seres humanos, uma vez que possuem diferentes estruturas e mecanismos de replicação.  

Para o recente estudo, os cientistas usaram uma proteína de príon humana geneticamente modificada, expressada em bactérias E. coli, e conseguiram sintetizá-la com sucesso em um príon humano altamente destrutivo.

Eles testaram o modelo em camundongos transgênicos e observaram quando disfunções neurológicas começaram a acometer os animais. A neuropatia sugeria que uma nova cepa de príon humano altamente tóxica havia sido criada com sucesso – animando alguns pesquisadores e assustando outros.

No processo, eles também descobriram que uma importantíssima molécula chamada Gangliosídeo GM1 – que tem o papel de “controlar” a sintetização nas células de mais príons infecciosos, além de contribuir para a transmissão da doença de príon. 

Eles verificaram ainda que são mudanças particulares nas cadeias de aminoácidos da estrutura do príon que determinam o quão rápido ele se multiplica, o quão infeccioso será e quais as estruturas cerebrais que o príon irá atacar “ferozmente”.

Os resultados, que foram publicados na revista Nature Communications, poderão ajudar os cientistas a desenvolver medicamentos capazes de inibir o Gangliosídeo GM1 e, consequentemente, impedir que a doença do príon se espalhe ou deixe um paciente saudável em processo de demência.

Fonte: Science Alert Fotos: Reprodução / Revista Pesquisa / Wikipedia / Parkinson News Today / News Medical 

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