Há mais de 150 anos, desde que Charles Darwin lançou A Origem das Espécies, em 1859, a biologia evolucionária tem ajudado a entender por que o mundo é dessa forma.
No entanto, mais recentemente, uma equipe de pesquisadores propôs uma atualização para nossa compreensão atual sobre evolução – e uma que poderia mudar completamente o que sabemos sobre a evolução das espécies.
Em uma reunião anual realizada pela Royal Society, em Londres, alguns dos biólogos mais conhecidos do mundo se juntaram para discutir se já está na hora de atualizarmos uma das teorias mais fundamentais da Ciência. Obviamente, eles não estão dizendo que há algo de errado com o que sabemos. Na verdade, eles querem apenas atualizar essas informações de acordo com as descobertas mais recentes no campo da genética e biologia.
Para considerarmos essa atualização, primeiramente, devemos falar sobre a Teoria da Evolução atualmente aceita, a chamada Síntese Evolutiva Moderna (ou Síntese Moderna). Esta combina as mais famosas ideias de Seleção Natural, de Charles Darwin, com a Genética Mendeliana, desenvolvida em 1865 por Gregor Medel, que apresentava de maneira sutil a forma como herdamos traços através do DNA.
Essa síntese moderna, delineada entre as décadas de 1930 e 1940, rapidamente se tornou a teoria mais amplamente aceita pela comunidade científica – e o que atualmente ensinamos e aprendemos nas escolas. De forma geral, ela afirma que a evolução ocorre através de pequenas mudanças genéticas reguladas pela seleção natural. No entanto, novas descobertas também mostram que tais mudanças podem ser transmitidas além dos genes.
De acordo com Carl Zimmer, da revista Quanta, que participou do evento de Londres, os pesquisadores não argumentam que a ideia de Síntese Moderna esteja errada. “Apenas que ela não captura toda a riqueza da evolução”, disse. Eles também argumentam que a Seleção Natural não é, necessariamente, a força motriz da evolução. Logo, as limitações do desenvolvimento e ambientes onde vivem os organismos também poderiam desempenhar papéis importantes. Essa nova hipótese de evolução é chamada de Síntese Evolucionária Estendida, e foi delineada em um estudo publicado pela revista Proceedings of the Royal Society B, liderada pelo biólogo evolucionista, Kevin Laland, da Universidade de St. Andrews, na Escócia.
Nas últimas décadas, os cientistas mostraram que as células podem usar uma série de moléculas para controlar quais de seus genes serão ligados ou desligados através de um processo chamado epigenética. Basicamente, ter um gene não é suficiente. Ele precisa ser transformado em uma proteína para afetar um organismo. No entanto, os processos epigenéticos, como a metilação, por exemplo, podem ser usados para evitar que isso aconteça. Os pesquisadores mostraram que essas mudanças podem ser passadas para frente para que as proles se adaptem melhor a novos desafios. Tais mudanças epigenéticas são mais flexíveis que as genéticas, podendo ter um impacto enorme na aparência ou maneira como um organismo se comporta.
“A qualidade dos alimentos que uma mulher consome enquanto está grávida pode influenciar o tamanho e a saúde de seu bebê, e essas influências podem durar até a idade adulta”, escreveu Zimmer. “Além disso, o tamanho de uma mulher – influenciado em partes pela dieta de sua própria mãe – pode influenciar seus próprios filhos. Biólogos descobriram que mulheres com pernas mais longas tendem a ter filhos maiores, por exemplo”.
Enquanto a Síntese Moderna não explica essas mudanças epigenéticas, a Síntese Evolucionária Estendida o faz, podendo até mesmo ajudar alguns dos mistérios envolvendo a evolução humana. Por exemplo, por que os fósseis do gênero Homo, que aparentemente pertencem à mesma espécie, podem parecer tão semelhantes em alguns aspectos, mas tão diferentes em outros, como altura e estatura?
Além disso, a Síntese Evolucionária Estendida também poderia ajudar a explicar o nascimento da agricultura há cerca de 10 mil anos. Pelo que sabemos, os neolíticos da época começaram a domesticar animais e culturas e passaram do estilo coletor-caçador para o agrícola – lançando as bases para uma civilização moderna. No entanto, pesquisadores ainda não sabem explicar como isso aconteceu.
A Síntese Moderna sugeria que a seleção natural foi responsável por levar nossos antepassados a abandonarem o forrageio para começarem a cultivar. Mas, o cultivo de culturas levaria muito tempo para dar frutos, e por isso cientistas lutam para tentar explicar como isso, inicialmente, teria beneficiado nossos antepassados.
Uma das hipóteses fala que talvez, a mudança para a agricultura tenha ocorrido durante um evento climático relevante, quando a coleta dos caçadores foi dificultada. Porém, não há evidências que suportem a ideia. Logo, uma maneira melhor de pensar sobre a transição seria através da síntese evolucionária estendida, que sugere que os seres humanos, e não a seleção natural, dirigiram sua própria evolução, quando simplesmente começaram a cultivar, mesmo sem recompensas iniciais.
Naturalmente, a nova hipótese tem seus críticos, que durante a reunião rejeitaram a necessidade da atualização da síntese moderna, alegando que precisamos de mais evidências sobre seu funcionamento.
“Esta é provavelmente a primeira de muitas reuniões”, disse Zimmer. “Vamos fazer novas pesquisas, que é o que os críticos estão sugerindo. Vamos encontrar novas evidências”.
[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Wikipedia ]