Por que temos receptores de cheiro em várias partes do corpo e não só no nariz?

de Redação Jornal Ciência 0

Esfregue óleo de sândalo em suas mãos, e sua pele fará mais do que ser amaciada.

 

Ela irá “cheirar” seu perfume. Embora saibamos que existem receptores de cheiro em nossos narizes, uma pesquisa recente revelou que exatamente os mesmos receptores estão presentes em todos os tipos de órgãos, incluindo o coração, pulmões e testículos, assim como a pele. Pode parecer surpreendente, mas para os pesquisadores, faz sentido: o trabalho de receptores de cheiro consiste na detecção de substâncias químicas no ambiente.

 

Nós queremos ser capazes de sentir o cheiro de possíveis produtos químicos emitidos por alimentos ou até mesmo potenciais ameaças, como carne podre, e nosso nariz está perfeitamente posicionado fisicamente para fazer isso. Mas os órgãos internos também podem usar o mesmo sistema receptor para detectar uma grande variedade de compostos. Estes chamados receptores olfativos extranasais não estão ligados ao cérebro, ao contrário daqueles no nariz. Eles agem localmente, o que provoca uma resposta dentro do tecido quando acionados.

 

A pesquisa de sândalo foi liderada por Hanns Hatt, na Universidade de Ruhr, em Bochum, na Alemanha, e publicado em 2014. A equipe de Hatt informou que uma versão sintética do óleo de sândalo (chamado sandalore) pode ativar receptores de odor na pele humana, provocando a produção de novas células e acelerando a cicatrização de feridas.

 

Já em 2003, eles produziram algumas das primeiras evidências de que os receptores de cheiro fora do nariz realmente fazem algo útil: eles mostraram que o espermatozoide utiliza um receptor de odor químico para seguir seu caminho, uma habilidade que, presumivelmente, os ajuda a localizar um óvulo fértil. Em 2009, Jennifer Pluznick, na Universidade Johns Hopkins Medicine, em Baltimore, nos EUA, descobriu receptores do olfato nos rins de ratos. Sinais detectados por estes receptores podem ajudar o rim a regular os níveis de compostos importantes no interior do corpo.

 

Então, em 2014, uma equipe da Universidade de Washington, encontrou receptores de odor no interior das células do pulmão humano. Esses receptores podem detectar substâncias químicas nocivas no ar inalado, fazendo com que nossas vias aéreas diminuam para reduzir ou minimizar qualquer dano.

 

Um pouco mais tarde, naquele ano, a pesquisa com sândalo garantiu manchetes em todo o mundo. De acordo com Joel Mainland, um cientista do Monell Chemical Senses Center, na Filadélfia, o trabalho mostrou que apenas alguns tipos de sândalo poderiam ativar esses receptores, por isso parece ser uma resposta muito específica. No entanto, ele acredita que seja altamente improvável que os receptores existam na pele para detectar sândalo. Então o que eles normalmente detectaram? E o que poderia estimulá-los, além de ajudar, talvez, na cicatrização de feridas?

 

Enquanto a equipe alemã foca nos benefícios potenciais, Mainland é mais cauteloso. “O documento mostra um aumento da proliferação dos queratinócitos, mas é uma faca de dois gumes para ter aumento da proliferação. É ótimo para a cicatrização de feridas, mas terrível para o câncer. Os receptores serem expressos na pele e podendo fazendo algo é fascinante, mas qual o objetivo?”, questiona.

[ BraimDecoder ] [ Foto: Reprodução / CAPL ]

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