Por que limão e refrigerantes causam falsos-positivos em testes rápidos? Cientistas intrigados encontraram a resposta

de Redação Jornal Ciência 0

Relatórios confirmaram que determinadas bebidas, incluindo suco de limão e refrigerantes, podem ser utilizadas para produzir resultados falso-positivos ou imprecisos em testes de fluxo lateral. Ele é mais conhecido como “teste rápido”.

Os rumores sobre esse assunto foram agora confirmados. Durante a pandemia da COVID-19, um truque surgiu entre estudantes do Reino Unido para forjar testes caseiros e faltar às aulas. Esse conhecimento ganhou popularidade rapidamente entre jovens pelas mídias sociais.

Até então, muitos acreditavam ser apenas boatos, mas evidências recentes sugerem que a eficácia dos testes de fluxo lateral pode ter sua segurança questionada, de acordo com o portal IFLSCience.

Embora este tipo de teste (mostrado na imagem de capa de forma ilustrativa, com “dois risquinhos”) tenha se popularizado na pandemia, a tecnologia é usada há décadas em outras situações de diagnóstico, como em testes de HIV, gravidez, sífilis etc.

Um estudo publicado no International Journal of Infectious Diseases testou a precisão dos testes rápidos para COVID-19. O objetivo era determinar se resultados falso-positivos poderiam ser obtidos com bebidas, incluindo Coca-Cola, outros refrigerantes, energéticos, vodca, uísque e conhaque. O estudo começou a ser realizado em 2021.

Em uma reviravolta surpreendente, descobriu-se que todos os líquidos testados produziram resultados positivos imprecisos quando utilizados na ausência da solução tampão.

Vários estudos chegaram à mesma conclusão. Em estudo publicado este ano pesquisadores realizaram experimento que produziu resultados semelhantes. As descobertas revelam que uma série de refrigerantes e bebidas não alcoólicas têm o potencial de produzir resultados falso-positivos nos testes rápidos de COVID-19.

Como funciona um “teste rápido”?

Para compreender a razão por trás disso, é necessário um entendimento básico do funcionamento dos testes de fluxo lateral. A tecnologia de detecção pode identificar a presença de uma substância-alvo em uma amostra líquida.

Ela funciona detectando a substância específica e fornecendo resultados precisos. Quando se trata de testes de gravidez, um hormônio específico é detectado, enquanto os testes de COVID-19 identificam uma proteína específica presente na partícula do vírus.

A amostra de líquido (neste caso sangue) será puxada por uma almofada absorvente após a aplicação da gota. Os cientistas descobriram que uma das faixas, conhecida como linha T, que é revestida com anticorpos para a molécula alvo específica, acabará sendo alcançada.

Nas novas tecnologias criadas para os testes durante a pandemia, nanopartículas de ouro foram utilizadas para fixar estes anticorpos, que localizam o lado positivo. As minúsculas partículas de ouro, que são visivelmente vermelhas, foram empregadas para essa finalidade.

Se a substância-alvo estiver presente na amostra, os anticorpos se ligam a ela e fazem com que a linha T fique vermelha, indicando a presença do que o teste foi projetado para encontrar.

Os cientistas estão intrigados com a razão pela qual a molécula-alvo, que não se espera que esteja presente no refrigerante ou em qualquer outra bebida, está causando a reação dos anticorpos no teste, ou seja, um falso-positivo.

Qual a explicação para o erro?

Uma possível explicação para o fenômeno pode estar relacionada aos níveis de acidez das bebidas. O suco de limão tem pH de aproximadamente 2, altamente ácido pela quantidade de ácido cítrico que a fruta possui. A Coca-Cola e outras bebidas carbonatadas têm faixa de pH de 2 a 3, principalmente devido à presença de ácido fosfórico.

Uma solução ácida, como o refrigerante, tem a capacidade de romper os anticorpos presentes na linha T. Um novo avanço científico foi descoberto no campo da análise de proteínas que permitiu tal conhecimento.

Os pesquisadores descobriram que, ao desnaturar e imobilizar o anticorpo quebrado, ele pode ser facilmente detectado na tira do “positivo”. O anticorpo se acumulará na linha T, fazendo com que fique vermelha. Essa descoberta pode ter implicações significativas para a comunidade médico-científica.

De acordo com artigo de Mark Lorch, professor de Comunicação Científica e Química da Universidade de Hull, no Reino Unido, a provável explicação para o falso-positivo causado pela Coca-Cola é que os anticorpos imobilizados na linha T se ligam às partículas de ouro que passam ali.

Quanto pedaços de anticorpos são quebrados e ficam “sozinhos”, estes pedaços buscam “outro parceiro para se ligar” e manter o anticorpo unido, resultando na conexão com as nanopartículas de ouro e o falso-positivo no risco vermelho.

Como desvendar a fraude?

De acordo com o professor Lorch, existe um método simples para detectar se um teste foi adulterado. Foi descoberto um novo método para revelar o verdadeiro resultado negativo em um teste.

Lavar a linha com a solução tampão, fornecida pelos fabricantes, pode ajudar os anticorpos imobilizados na linha T a recuperar a função normal e liberar as partículas de ouro. Em última análise, isso levará a um resultado negativo mais preciso, evitando cair nas “pegadinhas” de uso de refrigerantes e limão.

Durante a pandemia da COVID-19, crianças em idade escolar e jovens que usavam a plataforma da rede social TikTok, dispersavam o conhecimento da falha nos testes rápidos, com milhares de vídeos usando refrigerantes, sucos de frutas diversas e até bebidas alcóolicas.

Embora o assunto seja complexo, os cientistas dizem que devemos, de uma certa maneira, dar o crédito para estes jovens que realizaram experimentos de “trapaça” porque foram fundamentais nos questionamentos que levaram a realização de estudos, permitindo novas descobertas no campo das ciências dos diagnósticos.

Fonte(s): IFLScience / The Conversation Imagem de Capa: Reprodução / Pixabay / Tweak Your Biz Foto(s): Reprodução / Telelab Gov

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