Por que a ONU pediu que a palavra “senhorita” deixe de ser usada na língua espanhola?

A Organização das Nações Unidas, ONU, em suas instruções sobre a linguagem inclusiva, pediu a dispensa do termo para não perpetrar estereótipos de gênero.

de Redação Jornal Ciência 0

Fernando Ávila, especialista em língua espanhola, comentou a questão em sua coluna “El lenguaje en el tiempo” no jornal El Tiempo, da Colômbia. As informações são do jornal argentino La Nación.

O especialista cita um trecho (traduzido para o português) para introduzir seu raciocínio: “Onze anos se passaram desde sua estreia na TV, e ela já é uma senhorita. Tem 19 anos de idade e está brilhando com luz própria”.

A fala, dita na internet para se referir a cantora e atriz colombiana Rafaella Chávez, utiliza a palavra “senhorita” (señorita em espanhol, com mesmo significado em português) para dar ideia de crescimento físico, emocional e intelectual de uma pessoa.

Por sua vez, as jovens se orgulham de ser uma “senhorita”, segundo Ávila, demonstrando que deixaram de ser meninas e se aproximam cada vez mais de uma “mulher adulta”.

Agora, a notícia abordada pelo especialista é que a Organização das Nações Unidas, a ONU, pediu que a palavra “señorita” (senhorita) seja descontinuada e evitada.

Isso porque nas instruções de linguagem inclusiva da organização, pede-se que seja abolido o termo para não explicitar o estado civil (solteira ou casada) de uma mulher.

Da mesma forma que não se diz “señorito” para um homem, tampouco deveríamos falar “senõrita” para uma mulher.

Por outro lado, de acordo com o especialista, mulheres adultas se apropriam do termo “senhorita” para reivindicar a condição de jovens senhoras solteiras. Isso supõe que uma “senhorita” espera respeito e/ou que pode ser galanteada pelos homens.

O destaque para a moça “senhorita” foi introjetado inclusive em concursos de beleza, onde é muito comum que as participantes e ganhadoras sejam tratadas como “senhorita Bogotá”, por exemplo, citando os concursos de beleza na capital colombiana. O mesmo vale para outros países de língua espanhola.

Outro exemplo citado pelo especialista é no Country Club, do departamento de Cali, na Colômbia, onde a parte destinada ao banho turco (um tipo de sauna a vapor), existia um espaço para homens, outro para mulheres, e um terceiro apenas para “senhoritas” — demonstrando respeito.

Nas escolas mais conceituadas da Colômbia, os alunos chamam as professoras de “miss” (que seria uma outra forma de dizer “senhorita”) em sinal de respeito, mesmo que as professoras não sejam solteiras.

Em espanhol, é comum que mulheres nas ruas ou em seus trabalhos como garçonetes ou comissárias de bordo, sejam abordadas com “senhorita”: “Bom dia senhorita, pode trazer a conta, por favor?”.

O especialista termina fazendo uma reflexão irônica contra a ONU, perguntando se a abolição do termo “senhorita” irá contribuir para que exista paz no mundo ou se existirá uma guerra de ideias dos especialistas linguísticos sobre o uso da palavra “señorita” para chamar uma mulher.

Fonte(s): La Nación Imagens: Reprodução / La Nacion 

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