Parte da Grande Barreira de Corais já está morta, segundo cientistas

de Julia Moretto 0

Na Austrália, a Grande Barreira de Corais é considerada uma das maiores maravilhas naturais. Porém, o recife e a gama de seres que vivem próximos estão correndo perigo. Isso porque grandes sessões da barreira foram encontradas mortas devido à água estar sobreaquecida.

“Não esperávamos ver esse nível de destruição na Grande Barreira de Corais por mais 30 anos”, comentou Terry P. Hughes, diretor de um centro para estudos de recifes de coral na Universidade James Cook, da Austrália, e autor principal de um artigo sobre o assunto, capa da revista Nature.

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Danos irreparáveis

De acordo com o especialista, sua equipe ficou surpresa quando os danos. Com ajuda de exames aéreo e medidas subaquáticas, eles observaram que 67% dos corais haviam morrido em um espaço ao norte de Port Douglas. Em certos pontos, a mortalidade chegou a 83%.

Felizmente, uma tempestade ocorreu nas águas da parte central e sul do recife, ajudado a esfriar o local, além de baixar a mortalidade. Outra sessão de recifes de 800 km no norte de Cairns, Austrália, também está sofrendo com o branqueamento.

De acordo com os estudiosos, isso mostra que os corais estão em estresse térmico, mas que podem não morrer.  

Mudanças climáticas

O dano à Grande Barreira de Corais é uma calamidade que vem ocorrendo há décadas. Na visão dos especialistas, esse recente branqueamento em massa é o terceiro desde 1998, porém é o mais difundido e prejudicial. 

O estado dos recifes de coral revela como está a saúde dos mares. Suas alterações e mortes são ocasionadas por mudanças climáticas.

“A mudança climática não é uma ameaça futura”, pronunciou Hughes. “Na Grande Barreira de Corais, está acontecendo há 18 anos”.

Conjunção de fatores

Há anos os cientistas estão avisando sobre o risco aos recifes de coral devido à queima de combustível fóssil e consequentemente, a liberação dos gases do efeito estufa. 

Como as emissões continuaram a aumentar, a temperatura do fundo do oceano está elevada, colocando os recifes em risco contínuo.

Os corais necessitam de água quente para prosperar, mas são sensíveis ao calor extra. Para se ter ideia, apenas dois graus Celsius extras podem acabar com eles. Globalmente, o oceano tem aquecido cerca de um grau Celsius desde o final do século 19. Em 2016, El Niño colaborou para o aquecimento já que esquentou temporariamente parte do nosso planeta.

O que podemos fazer?

O governo australiano buscou combater as ameaças com o plano Reef 2050, freando o desenvolvimento portuário, dragagem e escoamento agrícola. Mas, segundo Hughes, com as altas temperaturas, esses esforços acabam sendo insuficientes.

“Os recifes em água lamacenta estavam tão fritos quanto aqueles em águas cristalinas”, explicou. “Isso não é uma boa notícia em termos do que você pode fazer localmente para evitar o branqueamento – a resposta é ‘não muito’. Você tem que lidar diretamente com a mudança climática”.

Com a eleição de Donald J. Trump, o Acordo de Paris pode estar em perigo. Além disso, o governo na Austrália apoia o desenvolvimento de combustíveis fósseis, como uma mina de carvão que será construída pelo Grupo Adani.

Consequências

Se os recifes de coral morrerem, perderemos uma das mais ricas vidas do oceano, além de prejudicar a economia e o turismo da região. A Austrália acredita que a Grande Barreira de Corais possa gerar cerca de 70.000 empregos e bilhões de dólares anualmente em receita.

Em países pobres, esse problema é ainda maior, pois milhares de pessoas obtêm suas proteínas de peixes de recife. Dessa forma, a perda deste suprimento se tornaria uma crise humanitária.

Extinção

A crise dos recifes não significa que as espécies de corais irão se extinguir. Os corais podem se salvar, assim como outros seres, migrando para outros locais com melhores condições.

Porém, as modificações no planeta que os seres humanos estão causando são tão rápidas que os cientistas não sabem se estas espécies conseguirão acompanhar. Mesmo que os corais sobrevivam, não significa que os recifes irão continuar a prosperar onde estão.

Fonte: New York Times Foto: Reprodução / New York Times

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