Na busca por novas terapias, cientistas criam embriões metade humanos, metade animais

de Merelyn Cerqueira 0

Um grupo de cientistas norte-americanos iniciou um experimento considerado controverso. Eles estão produzindo embriões parte humanos, parte animais.

O objetivo, no entanto, é que esses embriões, chamados de “quimeras” (em alusão à aparência híbrida da criatura da mitologia grega), possam ajudar a salvar vidas de pessoas com uma vasta gama de doenças. 

Dessa forma, esses embriões se desenvolveriam em modelos de animais para que sejam estudados em relação às doenças humanas, na forma como acontecem e como progridem.

No entanto, há ainda o objetivo que seria criar uma fazenda com esses animais, todos com órgãos humanos, que posteriormente seriam utilizados em transplantes humanos.

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Contudo, alguns cientistas e bioeticistas se mostraram preocupados com esse experimento. De acordo com eles, a criação dessas interespécies ultrapassa os limites da ciência.

“Eles estão se envolvendo em ideias inquietantes que eu considero prejudiciais para o nosso senso de humanidade”, disse o professor de biologia celular Stuart Newman, da New York Medical College.

O experimento foi considerado tão sensível que os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), impuseram uma moratória sobre a questão de financiamento,enquanto as autoridades exploram as questões éticas que ele levanta.

No entanto, os pesquisadores resolveram prosseguir com o trabalho, financiado de forma alternativa. Eles esperam que os resultados ajudem a persuadir o NIH a reconsiderar a moratória.

“Não temos o objetivo de criar algum tipo de criatura monstruosa”, diz Pablo Ross, um biólogo reprodutivo da Universidade da Califórnia. “Estamos fazendo isso para um propósito de biomedicina”.

Um dos testes envolveu a criação de um novo pâncreas, que poderia ser transplantado em um paciente diabético.

O primeiro passo envolveu a utilização de novas técnicas de edições genéticas feitas a partir de uma injeção de moléculas sintetizadas e, posteriormente, células-tronco humanas.

Isso seria feito com a finalidade de remover o gene responsável por produzir o pâncreas em embriões de suínos e, eventualmente, transformá-lo em um órgão humano. 

A incerteza, segundo Newman, é o que faz desse trabalho controverso. Os cientistas ainda não podem saber exatamente para onde essas células tronco vão.

A esperança é que elas cresçam somente no pâncreas, mas ainda há riscos de que elas possam ir para outro lugar, como o cérebro. 

“Se criarmos porcos com cérebros parcialmente humanos, teríamos animais capazes de desenvolver consciência”, diz Newman.

“Eles podem ter necessidades semelhantes às humanas”. Além disso, essa possibilidade levanta novas questões sobre a moralidade do uso de animais para experimentos.

Outra preocupação é que as células estaminais possam formar espermatozoides e óvulos humanos nas quimeras, dando à luz uma criatura híbrida.

Apesar de ter de lidar com críticas que envolvem conceitos éticos e religiosos, Ross defende seu trabalho: “Não acho que estejamos brincando de Deus ou algo do tipo. Estamos apenas tentando usar as tecnologias que desenvolvemos para melhorar a vida das pessoas”. 

Fonte: NPR Fotos: Reprodução / NPR

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