Ligação entre autismo e sinestesia é confirmada por cientistas

Pela primeira vez, cientistas esclareceram as ligações entre autismo e sinestesia e concluíram que os pacientes que possuem as duas condições têm sensibilidade sensorial aumentada.

 

A sinestesia consiste em uma espécie de mistura de sentidos, o que faz com que o cérebro do indivíduo veja cores em uma melodia, ou sinta gosto em uma determinada palavra, por exemplo. Cerca de 3% da população do mundo sofre dessa condição, segundo os autores do estudo. Já o autismo é um distúrbio neurológico que compromete a interação social e a comunicação do paciente. Essa condição atinge cerca de 0,6% da população do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde.

 

Essa descoberta foi feita a partir de um estudo realizado por cientistas das Universidades de Sussex e Cambridge, na Inglaterra, e os resultados foram publicados recentemente na revista Scientific Reports. “A sinestesia tem sido tradicionalmente considerada mais como um talento especial do que como um comprometimento, enquanto o inverso ocorre com o autismo. Nosso estudo sugere que as duas condições têm muito mais em comum do que pensávamos, e que muitas das características sensoriais das pessoas autistas também são encontradas nas pessoas com sinestesia”, disse Jamie Ward autor do estudo.

 

Dois estudos realizados anteriormente já revelaram que a sinestesia acontece com maior frequência em pacientes com autismo. Mas, estudos específicos ainda não haviam sido realizados sobre as ligações entre as duas condições. Segundo Ward, autor do estudo, os dados preliminares mostram que a sinestesia tende a ser comum em pessoas com autismo, sendo que elas também possuem uma condição chamada savantismo, que consiste em habilidades excepcionais em matemática, artes e memória acima do normal.

 

“Embora seja ainda preciso realizar mais pesquisas, nossa compreensão sobre o autismo no contexto das capacidades sinestésicas poderá nos ajudar a desvendar os segredos de alguns dos aspectos mais positivos do autismo, como o savantismo, além de descobrir novas ligações neurológicas entre as duas condições” relatou Ward.

 

Segundo ele, os novos estudos indicam que a sinestesia está no mesmo espectro que o autismo: “Esperamos que no futuro sejamos capazes de explorar mais a fundo a relação entre os sintomas e capacidades de percepção, cognição e interação social em pessoas com autismo e sinestesia”, finalizou Ward.

[ Nature ] [ Fotos: Reprodução / The Blue Diamond Gallery ]