Hibristofilia: A condição que deixa pessoas sexualmente atraídas e apaixonadas por assassinos perigosos

Para quase toda a sociedade, eles são monstros frios que nos causam medo e horror. Mas, para algumas pessoas, isso é extremamente excitante. Entenda o que é esta condição complexa da mente humana

de Redação Jornal Ciência 0

A condição da hibristofilia ocorre, em sua grande maioria, com mulheres, que sentem incontrolável atração física e sexual por homens considerados “monstros” para a sociedade, pelos crimes cometidos.

Mas, para quem possui hibristofilia, estes assassinos cruéis, torturadores e psicopatas que cometem crimes históricos e assassinatos em série, são homens irresistíveis que geram atração e paixão, quase instantaneamente, em milhares de mulheres, após o horror ser divulgado.

A atração é tão incontrolável que é comum pedidos de casamento na cadeia ou inúmeras cartas enviadas semanalmente, visitas, presentes, dinheiro e demonstrações de “amor”, mesmo presos por crimes que chocam a sociedade.

Por exemplo, o criminoso norueguês Anders Behring Breivik — terrorista que matou 77 jovens, em Oslo, capital da Noruega, em 2011, condenado a 21 anos de prisão, faz muito sucesso entre as mulheres que possuem hibristofilia.

Anders Behring Breivik

Anders Breivik foi condenado a um tipo de pena que pode ser prorrogado indefinidamente enquanto os juízes acreditarem que ele é um risco à sociedade. Mesmo assim, recebe mais de 800 cartas por ano de suas admiradoras. Apesar de ter cometido o maior massacre já registrado no país desde a Segunda Guerra Mundial, é venerado por mulheres que sonham em se casar com ele.

Uma de suas fãs mais famosas, que prefere preservar seu nome, tem 27 anos e manda cartas para ele desde os 20. Ela diz que sua voz treme quando fala de seu amor, que costuma chamar de “querido Anders”.

Ela escreve para ele toda semana, promete que irá esperá-lo até o dia que seja solto. Seu maior sonho é se casar com ele e ter uma vida junto com seu futuro marido, que considera ser extremamente atraente.

Uma das cartas que o assassino norueguês Anders Behring Breivik respondeu para uma de suas fãs apaixonadas

Em 2015, ela deu entrevista à France Press (uma das maiores agências de notícias do mundo) dizendo que, mesmo desempregada e com problemas de saúde, escrevia para ele para “levantar sua moral e autoestima”, já tendo enviado à época mais de 150 cartas, além de presentes, incluindo uma gravata azul que ele usou em seu julgamento final.

À época, em troca, recebeu 2 cartas do criminoso norueguês, enquanto todas as outras cartas que ele tentou enviar foram impedidas de serem enviadas pelos carcereiros, que julgaram que elas eram inadequadas.

Durante o julgamento de Breivik, em 2012, a revista Morgenbladet divulgou que uma garota de apenas 16 anos, no tribunal, havia pedido para que eles se casassem — o que para alguns é “loucura”, para portadores de hibristofilia são provas de que o amor que sentem é verdadeiro.

Josef Fritzl, o “monstro” da Áustria

Até mesmo Josef Fritzl tem suas fãs. Um dos criminosos mais monstruosos do mundo cometeu suas barbáries na Áustria. Conhecido como “O Monstro de Amstetten”, foi condenado à prisão perpétua desde 2008 pelo cárcere privado da própria filha, durante 24 anos no subsolo, com estupros quase diários, sem poder ver a luz do sol por mais de 2 décadas, vivendo em um ambiente úmido e insalubre.

Fritzl foi execrado pela imprensa mundial. Além dos crimes de cárcere privado (trancando-a quando tinha apenas 18 anos) e a ter estuprado mais de 3.000 vezes, teve 7 filhos com a própria filha dentro do cativeiro, que também se tornaram prisioneiros. Ele ainda assassinou uma das crianças e sua filha só conseguiu fugir em um único momento de distração que ele cometeu após quase 25 anos.

Mesmo tendo que cumprir sua pena em um hospital psiquiátrico e ser um senhor idoso de 87 anos, Fritzl não fica livre das cartas de mulheres apaixonadas. Ele recebeu inúmeras cartas, presentes e declarações de amor.

James Holmes, mesmo após matar 12 pessoas, era chamado de “fofo” no Twitter

James Holmes, que matou 12 pessoas no estado do Colorado, nos EUA, em 2015, era chamado de “fofo”, “sexy” e “sensual” no Twitter. O crime cometido funcionou como um atrativo e não como motivo de medo ou repulsa.

No Brasil, o vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, de Goiânia, que matou 39 pessoas entre 2011 e 2014, e confessou todos os crimes, além de Marcos Antunes Trigueiro, famoso como o Maníaco de Contagem, que atacava mulheres, matava e estuprava, em Belo Horizonte, são extremamente assediados nas penitenciárias com cartas e declarações de amor.

Tiago Henrique Gomes da Rocha era visto como “sexy” por milhares de fãs ao ser preso, mesmo sendo um assassino em série que matou 39 pessoas em Goiânia

Parece extremamente bizarro, mas para quem possui hibristofilia, quanto mais horrível e repulsivo for o ato criminoso cometido, mais anos de cadeia e mais sádico for o criminoso, mais atraente este homem será. Claro, existe o componente beleza física, que pode aumentar o número de “fãs”, mas isso não é o fator determinante. Mas, qual o motivo desta atração irresistível?

Marcos Antunes Trigueiro, famoso como o Maníaco de Contagem, Belo Horizonte

O que é a hibristofilia?

Conforme descrito pela American Psychological Association, isso é entendido em uma definição breve como “interesse e atração sexual por aqueles que cometem crimes”.

A hibristofilia é um nome para designar uma complexa parafilia citada por criminologistas, psicólogos e psiquiatras. Em geral, é pouquíssimo conhecida, e suas causas não são claras, embora exista relação com diversas questões que podem ter como base traumas na infância.

Se caracteriza, geralmente, por mulheres (embora possa ocorrer em homens, em menor número), que sentem fortíssima atração sexual e amorosa por assassinos violentos ou extremamente perigosos.

Estas mulheres passam a desejar o criminoso, enviam cartas, fazem promessas de amor, enviam roupas íntimas ou sensuais para apimentar a “relação”, criam um cenário romântico na cabeça e até esperam o “amado” por muitos anos até que possam sair da cadeia.

Também é conhecida como Síndrome Bonnie e Clyde, por causa de um casal que cometia crimes na década dos anos 1930, onde Bonnie Parker ficou completamente apaixonada pelo presidiário Clyde Barrow. Quando solto, iniciaram juntos uma carreira no crime, roubando carros e assaltando bancos até serem pegos pela polícia, nos EUA.

John Money, na década de 50, foi o primeiro psicólogo a fazer referência formal sobre um comportamento que ele descrevia como “atração sexual por assassinos violentos”. Ele dizia ser uma patologia rara, um tipo de parafilia (ou seja, preferências sexuais anormais) que acontecia, preferencialmente, em mulheres heterossexuais.

O sexólogo e médico Dr. John Money, em 1986, lançou estudos de casos mostrando que a atração também poderia ocorrer em casos de crimes considerados “leves”, não necessariamente assassinatos — como assaltos à mão armada. E, raramente, a pessoa que está livre aguardando o criminoso sair, vira também uma criminosa, embora possa ocorrer.

Pela falta de estudos mais aprofundados, diversas teorias foram lançadas. A escritora norte-americana Sheila Isenberg, lançou o livro “Women Who Love Men Who Kill (“Mulheres que Amam Homens que Matam”, em tradução livre) após entrevistar dezenas de mulheres completamente apaixonadas por assassinos.

Ela traçou um perfil que predomina entre elas, classificando-as como “garotas perdidas e moças traumatizadas por infâncias dolorosas”. Sheila Isenberg também notou que uma grande parcela tinha histórico de abuso sexual ou de relacionamentos extremamente violentos e, por isso, acostumaram-se a viver em um mundo de fantasia.

A autora tem uma teoria que ajuda a ciência a compreender melhor essa parafilia pouco estudada. Para Isenberg, existe um motivo para essas mulheres ficarem apaixonadas por estes homens violentos: “Não é porque são violentos, mas pelo contrário; são homens seguros. Se ele está vivendo atrás das grades, eles não podem machucá-las”, explica.

Neste caso, as mulheres portadoras de hibristofilia distorcem a realidade da personalidade destes criminosos, fantasiando algo inexistente, além de se sentirem protegidas por viverem um “amor” e, ao mesmo tempo, não correrem risco de serem agredidas.

“As mulheres estão sob uma ilusão. O que elas veem como ‘amor’ não é baseado na realidade, mas em suas fantasias, distorções, necessidades psicológicas. O ‘amor’ entre a mulher e um assassino nunca pode ser real. Não é o que poderíamos chamar de ‘amor companheiro’, mas uma ilusão sobre o amor”, explica

Em uma outra teoria, da psicóloga clínica Dra. Katherine Ramsland, é possível estabelecer outros padrões nestas mulheres, especialmente nos casos em que ocorreu, de fato, um casamento após o criminoso sair da cadeia.

Para a Dr. Ramsland, essas mulheres podem acreditar que o amor delas podem mudar e transformar a vida destes homens. De acordo com a teoria da especialista, elas acreditam que os criminosos precisam de ajuda ou salvação, e elas podem proporcionar esta oportunidade de uma nova vida.

Mas, a Dr. Ramsland ressalta que existe também outra teoria que tem caráter menos psicológico e mais estratégico. Outra razão pode ser mulheres que queiram a atenção que a mídia dá aos criminosos e, se essas mulheres perseguem a fama a todo custo, provavelmente são capazes de viver com estes assassinos para ter o holofote da mídia.

A ciência do comportamento humano entende muito pouco sobre esta parafilia. Além das informações já citadas, sabe-se que homens com hibristofilia são mais raros porque é extremamente difícil encontrar casos de mulheres que cometeram crimes de altíssima violência ou sadismo.

Além disso, quando cometem, geralmente o marido ou parceiro está envolvido no crime ou ajudou a executá-lo, o que em tese tira a possível “atração sexual” fantasiosa do homem com hibristofilia, que precisaria encontrar uma mulher que cometeu, sozinha, atos monstruosos.

Parafilias igualmente estranhas

Existem quase 500 parafilias catalogadas pela psicologia e psiquiatria. Algumas são completamente desconhecidas do grande público, como a oculofilia (excitação sexual ao lamber o olho de outra pessoa), a simforofilia (excitação sexual ao presenciar uma tragédia ou acidente), a latronudia (excitação ao ter que retirar a roupa na frente de um médico para fazer exames), além de diversas outras.

A mecanofilia, por exemplo, causa excitação por automóveis e máquinas. Já a dendrofilia gera excitação por árvores e plantas. A lista de parafilias é enorme e a cada década novos estudos revelam mais detalhes do complexo comportamento humano. ©Todos os direitos reservados. Proibida a cópia e reprodução sem autorização por escrito da PLUG Network.

Fonte(s): O Tempo / JusBrasil / El Tiempo / BBC / El País Imagens: Reprodução / Ekstra Bladet / South China Morning Post / SVT / Metro UK / The Mercury News / TV Record / Facebook

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