Girino é capaz de ver através de globo ocular anexado em sua cauda

de Julia Moretto 0

Cientistas restauraram a visão aos girinos cegos implantando cirurgicamente os olhos em suas caudas e tratando os animais com uma droga que aumenta o crescimento do nervo.

Enquanto o procedimento de transplante soa como um trabalho louco, a técnica poderia ajudar pavimentar o caminho para o uso de órgãos artificiais complexos em seres humanos – especialmente porque o medicamento envolvido é Zolmitriptano: um composto que ativa receptores de serotonina e já é usado para tratar enxaquecas. “O cérebro é notavelmente plástico”, disse o biólogo Michael Levin, da Tufts University à Live Science.

A pesquisa é importante porque nos diz como os nervos de órgãos transplantados podem ser usados ​​para se conectar com o sistema nervoso central.

Como tal, os resultados poderiam impactar desde transplantes de órgãos até a forma como os nervos podem se regenerar após uma lesão. Porém, o processo envolve alguns procedimentos bastante grotescos.

Com isso dito, para ver o quão maleável é o sistema sensorial, a equipe de Levin analisou girinos em estágio inicial com apenas três dias de idade, removendo os olhos e cortando fendas estreitas em suas caudas.

Nessas fendas, eles enxertaram os olhos de outros girinos de três dias. A equipe havia realizado esse tipo de procedimento antes, restaurando visão parcial de girinos cegos via implantes de cauda em 2013.

Mas, desta vez eles foram mais longe para ver se o neurotransmissor poderia ajudar a aumentar a acuidade do sinal visual, promovendo a inervação – o grau de funcionamento nervoso – entre o olho implantado e o sistema nervoso central. 

Em um teste de cor, os girinos foram treinados para evitar áreas com luz vermelha, 76% dos girinos saudáveis ​passaram no teste enquanto que apenas 3% dos girinos cegos passaram.

Os girinos com enxertos de olho registraram 11% no teste, mas entre girinos com enxertos de olho e o tratamento com Zolmitriptano, 29% se classificou – evidência de que o composto impulsionou conexões neurais ao redor dos olhos implantados. 

Em outro teste ótico em que os girinos tiveram que responder aos padrões de rotação, os indivíduos tratados com Zolmitriptano novamente obtiveram pontuação significativamente maior que os girinos não tratados com enxertos oculares.

O que é notável sobre os resultados é que os girinos foram capazes de ver tão bem considerando que os olhos não tinham conexões neurais diretas para o cérebro dos animais – apenas para o sistema nervoso central. 

“O fato de os olhos enxertados em nosso sistema modelo poderem transmitir informações visuais, mesmo quando as conexões diretas com o cérebro estavam ausentes, sugere que o sistema nervoso central contém uma notável capacidade de adaptação às mudanças tanto na função e quanto na conectividade”, explica Douglas Blackiston, um dos pesquisadores.

Levando em conta que a natureza desta pesquisa e o fato de que, atualmente, os efeitos só foram demonstrados em filhotes, estamos muito longe de saber com precisão como estes resultados podem ser replicados em seres humanos. 

“Se um humano tivesse um olho implantado em suas costas e ligado à sua medula espinhal, seria capaz de ver com esse olho? Meu palpite é que provavelmente sim”, disse Levinem entrevista à New Scientist.

Embora esse cenário esteja provavelmente bem longe de nós, o mais surpreendente é que essas descobertas sugerem que órgãos complexos implantados – tais como olhos e ouvidos – não precisam necessariamente se ligar ao cérebro para fornecer insumos sensoriais. Os achados foram relatados em Regenerative Medicine.

 

 

Fonte: Science Alert Fotos: Reprodução / Science Alert

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