Bitcoin: 5 mitos sobre a famosa moeda que você precisa entender

de Merelyn Cerqueira 0

Lançada em 2009 por Satoshi Nakamoto, a moeda digital bitcon recentemente atingiu um preço recorde, de 17.428,42 dólares por moeda.

No entanto, devido ao seu complicado design técnico, comunidade zelosa e mistério envolvendo sua criação (seu criador ficou desconhecido por anos), muitos mitos começaram a se espalhar, permanecendo até os dias de hoje.

Abaixo, conforme informações publicadas originalmente no Washington Post pelos escritores Joseph Bonneau, professor assistente de informática na Universidade de Nova York, e Steven Goldfeder, candidato a doutorado em ciência da computação pela Universidade de Princeton, você confere cinco deles:

Mito #1: Existe um estoque infinito de Bitcoins

O Bitcoin é descrito como “ouro digital”, já que, supostamente, é impossível criar mais do que as 21 milhões de unidades já planejadas para circulação. Recentemente, o grupo financeiro Goldman Sachs publicou um relatório de pesquisa afirmando que o bitcoin tem uma quantidade de fornecimento matematicamente certa.

No entanto, não há garantias de que o fornecimento da moeda não mudará. O design original exige que estas 21 milhões de unidades sejam lentamente criadas ao longo dos próximos 100 anos.

Porém, este protocolo pode ser alterado pelo consenso da comunidade – e isso já aconteceu antes, com a maioria dos adeptos na rede bitcoin pedindo uma atualização para ajudar os usuários a especificar melhor as condições de pagamento.     

Até o momento, a comunidade defende este fornecimento finito planejado, pontuando que é notoriamente contra mudanças. Vale lembrar que, por enquanto pelo menos, é a política entre os usuários que mantém as coisas, e não a matemática. Mas, essas políticas podem mudar se os usuários concordarem com os economistas, que afirmam que a moeda atingirá a espiral deflacionária ao longo do tempo.

Os cientistas da computação também temem que o protocolo atual se torne instável à medida que as recompensas inflacionárias (que protegem o sistema usando potência de computação) sejam eliminadas em favor das taxas de transação.

Por estas razões, algumas criptografias mais recentes evitam planos de fornecimento finito de Bitcoin. Em vez disso, seguem uma versão digital da proposta de Milton Friedman para uma inflação baixa e constante.

Mito #2: Usuários são anônimos

Embora o fundador do Bitcoin tenha afirmado que a moeda oferece privacidade, uma vez que as transações não estão listadas sob identidades do mundo real e o registro público permanente de transações é feito por pseudônimos criptográficos, a grande maioria dos usuários não obtém significativamente mais privacidade do que teriam com transferências bancárias tradicionais.

Os usuários podem criar quantos pseudônimos gratuitos quiserem, e a maioria dos Bitcoins de software gera um pseudônimo exclusivo para cada transação. O WikiLeaks, por exemplo, incentiva seus doadores a usarem Bitcoin, uma vez que é anônimo e não pode ser facilmente rastreado de volta para você”.

No entanto, por meio do estudo de padrões nas chamadas blockchains (uma tecnologia que visa a descentralização como medida de segurança), é possível vincular pseudônimos com usuários.

Várias empresas de análise de blockchain já oferecem seus serviços para a aplicação da lei. Além disso, a maioria dos usuários deixa “rastros” quando compram ou vendem Bitcoin em troca de dólares ou outras moedas, e os serviços de câmbio ​​normalmente registram a identidade de seus clientes.

Usuários mais habilidosos podem ocultar suas identidades através de protocolos de mistura de moedas (usuários trocando moedas entre si), a fim de minimizar a criação de padrões. Porém, estes são raros.

Mito #3: Bitcon está fora do alcance da lei

O Bitcoin é a moeda de escolha quando falamos de um mercado de drogas que movimenta milhões de dólares, a chamado “Rota da Seda” (Silk Road), presente na Deep Web. Logo, a moeda é alvo de críticas e já foi associada a um paraíso para aqueles que procuram evadir a lei. E até mesmo os defensores do Bitcoin assumem isso, acreditando que a tecnologia está um passo à frente das leis anticorrecionais e jurisdições hostis.

A verdade, no entanto, é que toda nova tecnologia exige interpretações e atualizações dentro de estatutos e jurisprudências existentes – neste caso, as leis que envolvem o setor financeiro – e este processo, que é gradual, atualmente está em andamento para a moeda digital. Por exemplo, suas trocas hoje já são reguladas por leis específicas em alguns estados, como Nova York, e por regras sobre serviços de transmissão de dinheiro em outros lugares. Além disso, a Receita Federal dos EUA já considera o Bitcoin como uma propriedade tributável.

O mercado original da Estrada da Seda foi fechado, e as autoridades estão acompanhando o surgimento de rotas alternativas. Em países como a China, certos tipos de negócios feitos em criptografia são proibidos.

Mito #4: Bitcoin desperdiça energia

A mineração do ouro digital é um processo intensivo em energia. Qualquer pessoa pode se tornar um mineiro, mas ela precisa de hardwares especiais para trabalhar constantemente para resolver os enigmas criptográficos que criam novos blocos dentro da cadeia (blockchain). No entanto, devido à sua natureza descentralizada, ninguém sabe exatamente a quantidade de energia gasta com este tipo de processo.

Estima-se que provavelmente haja vários gigawatts envolvidos, algo próximo de uma grande usina de energia. Portanto, não é de se admirar que críticos já tenham lamentado o impacto ambiental do Bitcoin, apresentando até mesmo relatórios hiperbólicos sugerindo que a moeda consumirá toda a eletricidade mundial em alguns anos.

Mas, quando comparamos as despesas de segurança geradas pelos bancos, o esquema de energia é basicamente o mesmo. A diferença, no entanto, é que um argumento científico aberto sobre a questão afirma que o método da moeda poderia logo ser substituída por um concorrente mais “verde”.

Mito #5: O bitcoin vai substituir cartões de crédito dinheiro

Pessoas como Kim Dotcom, criador do site Megaupload, são crentes de uma ideia utópica que sugere que o Bitcoin, em um futuro não tão distante, substituirá o papel moeda e cartões de crédito. Em cinco anos, se você tentar usar moeda, eles vão rir de você, disse o principal investidor do Vale do Silício, Tim Draper.

O problema, no entanto, é que o Bitcoin ainda não possui uma série de propriedades essenciais para seja considerado um mecanismo de pagamento universal. Em primeiro lugar, o projeto atual é limitado a algumas transações por segundo, o que não chega nem perto das dezenas de milhares de transações que as operadoras de cartão de crédito manipulam, nem as milhares feitas em dinheiro a cada segundo. Em segundo lugar, as transações de Bitcoin, atualmente gratuitas, estão cada vez mais caras em relação a demanda.

Por fim, as transações não são de efeito imediato, uma vez que estão limitadas as blockchains. Embora a cada 10 minutos, em média, novas transações sejam feitas; quando os usuários querem mais segurança podem levar até mais de uma hora.

Embora a comunidade de usuários discuta há anos planos para melhorar a capacidade do Bitcoin, até hoje nada foi acordado. Mesmo com melhorias planejadas, não está claro se a tecnologia poderá se tornar um dia um sistema de pagamento universal. O Bitcoin é visto hoje mais como uma reserva de valor, semelhante ao ouro ou papeis do Tesouro, do que uma moeda diária.

Fonte: Science Alert Foto: Reprodução / PX Here

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