Alguns dos mais importantes cientistas do mundo se reuniram para discutir como encontrar vida alienígena

de Merelyn Cerqueira 0

No mês passado a Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA), foi palco para o segundo Breakthrough Discuss, um debate anual que reúne alguns dos mais importantes cientistas para discutir sobre uma dúvida que há muito enfrentamos: será que realmente estamos sozinhos no Universo?  

O evento em questão faz parte de uma iniciativa audaciosa do bilionário russo Yuri Milner, a fim de impulsionar os avanços pela busca de vida alienígena.

Com informações da IFLScience. A ideia da Breakthrough Discuss não era apenas falar sobre esse tipo de empreendimento, mas também discutir uma exploração mais ampla de vida, o que inclui encontrar mundos potencialmente habitáveis em torno de estrelas próximas, como o sistema TRAPPIST-1, Encélado (sexta maior lua de Saturno), e até mesmo a possibilidade de sinais por meio do SETI. 

“Estou muito feliz com este encontro”, disse Jill Tarter, do Instituto SETI, em Mountain View, à IFLScience.

“Queremos saber qual é o nosso lugar no Universo. Fazemos parte de algo que é bastante comum, ou somos totalmente incomuns e únicos?”.

Anãs vermelhas e TRAPPIST-1

O primeiro ponto de discussão da reunião foram as anãs vermelhas e seu potencial para abrigar vida. A ideia veio à tona devido ao recém-descoberto sistema TRAPPIST-1, localizado a 40 anos-luz de distância e composto por uma série de planetas rochosos.

As anãs vermelhas são as estrelas mais numerosas de nossa galáxia e seu brilho relativamente alto, semelhante ao nosso Sol, faz com que os estudos acerca de seus planetas de órbita sejam mais fáceis.

Ainda não está claro para os cientistas se os planetas em torno de uma anã vermelha podem ser habitáveis. Essas estrelas costumam ser “temperamentais” e propensas a queimar.

No entanto, elas de fato são alvos atraentes, uma vez que são consideradas alguns dos melhores lugares para se procurar vida. 

Em uma das principais palestras do evento, por Guillem Anglada-Escudé, da Universidade Queen Mary, de Londres, foi discutido como ele e sua equipe iriam estudar as anãs vermelhas mais próximas do planeta.

Já sabemos que Proxima Centauri, a 4,2 anos-luz de distância, abriga o planeta Proxima b, embora acredite-se que ali haja outros semelhantes.

A equipe de Anglada-Escudé agora mudará seu foco para a Estrela de Barnard, a 6 anos-luz de distância, e outras anãs vermelhas próximas.

A esperança dos pesquisadores é que, até o final do ano, já saibamos se há alguma coisa ali. “Queremos fazer mais Ciência, procurar mais planetas”, disse Anglada-Escudé, que recentemente foi nomeada uma das pessoas mais influentes de Time. “Você nunca sabe o que é até procurar”.

Como procurar – e o que fazer se encontrar

Encontrar esses planetas, no entanto, é apenas a primeira parte do plano. Vários cientistas estão investigando quais técnicas poderão ser usadas para o caso de vida ser encontrada nesses lugares.

Registrar imagens diretas das superfícies é praticamente impossível, então, a única opção por enquanto é examinar as atmosferas dos planetas, estudando a luz que vem deles a partir se sua estrela hospedeira.

“Estou muito animado com os planetas em torno de estrelas de baixa massa”, disse Sir Martin Rees, astrônomo britânico e ex-presidente da Royal Society.

“E eu acho que é muito bom perceber que a corrida da próxima geração para construir gigantes telescópios terrestres vai abrir a possibilidade de obter dados espectroscópicos reais sobre os planetas mais próximos”.

Esse campo de pesquisa mudou drasticamente nos últimos anos. Em 2009, quando a NASA lançou seu telescópio Kepler ao Espaço, ainda não tínhamos certeza de como os planetas comuns estavam orbitando suas estrelas.

Agora sabemos que há milhares deles, e potencialmente habitáveis. Cada estrela agora pode hospedar pelo menos uma estrela em média – e provavelmente muito mais.

A questão de encontrar vida é o fator que impulsiona tudo isso. Não temos ideia se a vida que encontraremos será igual à nossa, ou se somos raros em um Universo essencialmente morto. Poderemos ser capazes de responder essas perguntas dentro de nosso Sistema Solar com a ajuda de Encélado e Europa, uma vez que possuem as condições necessárias para abrigar vida. No entanto, os exoplanetas carregam um fascínio semelhante.

“É um momento maravilhoso para estar envolvido na busca pela vida”, disse Lisa Kaltenegger, diretora do Instituto Carl Sagan da Universidade de Cornell, em Nova York.

“Esta é a primeira vez na história humana que temos os meios para fazê-lo, e se tivermos muita sorte de encontrar a vida em seu início em todos esses lugares, poderíamos ter a prova de que não estamos sozinhos na mão muito em breve”.

Essa ideia de que a vida pode ser algo comum no Universo levou à criação do SETI, que ao longo dos anos tem lutado por financiamento, até que, recentemente, Milner deu uma injeção de 100 milhões de dólares no projeto, que poderá continuar ativo por até 10 anos. 

Toda essa discussão, envolvendo o SETI, o projeto Breakthrough Discuss, bem como a perspectiva de encontrar um sinal de vida alienígena ainda é considerada exagerada.

No entanto, diz-se frequentemente que não encontraremos nada se não procurarmos. “Estou trabalhando na busca pela vida em outros planetas, orbitando sois estrangeiros”, disse Kaltenegger. “E nessa conferência, essa é a coisa mais conservadora sendo dita!”.

Breakthrough Starshot

O último ponto de discussão da conferência foi sobre a ideia de enviar uma aeronave para outro planeta em torno de uma estrela.

Este projeto, chamado Breakthrough Starshot, foi anunciado em abril de 2016. A ideia era alcançar Proxima b em apenas 20 anos. 

No entanto, os pesquisadores argumentaram que esta poderia ser uma missão difícil devido ao grande número de desafios aparentes.

Ainda que a espaçonave em questão chegue lá, enviar os dados de volta seria um enorme problema, os voos teriam de ser extremamente breve – após 20 anos de viagem, a nave duraria apenas alguns segundos.

Mas, mesmo que a Starshot nunca saia do papel, ela pelo menos inspirará novos pensamentos na área de viagens interestelares que ainda não foram explorados.

Até o próprio Yuri Milner pareceu desapontado com a ideia, embora tivesse explicado seu posicionamento em uma discussão fascinante e descontrolada. Ele de fato permanece comprometido com a causa, porém, claramente anseia por fazer parte de uma descoberta que tornará a vida alienígena uma possibilidade.

Para cada fantasia especulativa proposta, a conferência esteve essencialmente fundamentada na Ciência. Agora, se vamos descobrir se estamos sozinhos ou não no Universo é algo que ainda não sabemos. No entanto, é bem provável que as pessoas que estavam nesse evento serão as responsáveis.

Fonte: IFL Science Fotos: Reprodução / IFL Science

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