A doença da vaca louca ainda é uma ameaça, mas cientistas podem finalmente ter criado algo para combatê-la

de Julia Moretto 0

Popularmente conhecida como doença da vaca louca, a  (BSE) é uma das condições mais assustadoras dos últimos 20 anos.

A doença degenerativa é difundida através do consumo da carne de vaca infectada e de transfusões de sangue, provocando a deterioração do cérebro. É uma doença fatal e não há cura. O mais surpreendente é que os médicos nunca examinaram alguns aspectos da doença e não sabem quantas pessoas poderiam ser infectadas.

Mas isso pode estar prestes a mudar, já que duas equipes de cientistas desenvolveram exames de sangue que podem detectar sua variante nos humanos, a doença de Creutzfeldt-Jakob (vCJD), que apresenta 100% de precisão, mesmo anos antes de surgirem os sintomas. Ambas as análises de sangue foram feitas apenas em pequenos grupos, por isso é muito cedo para dizer se eles serão úteis para a maioria da população. Os resultados foram publicados ao lado do outro na Science Translational Medicine e apresentam um dos primeiros grandes avanços para a cura da doença.

A famosa doença teve altos índices nos anos 90, e a condição causa a degeneração fatal do cérebro e da medula espinhal.Os primeiros sintomas são depressão e alucinações, seguidas por demência e perda de controle motor. Após um ano com os sintomas, a maioria dos pacientes morre. Mas, quanto mais os pesquisadores pesquisavam sobre a condição, mais assustadora ela parecia.

Até o momento, o que se sabe é que a doença é transmitida através de proteínas deformadas. Essas moléculas se transformam em patógenos altamente contagiosos que recrutam outros príons, agrupando-se em aglomerados que danificam o cérebro. Esses príons infeccionam as vacas quando elas comem pedaços de outras vacas – e o mesmo ocorre com a populações humana, que também desenvolve doenças provocadas por príons.

Uma vez que ficou claro que esses príons anormais estavam se espalhando através da carne de vacas infectadas, houve uma enorme preocupação com a higiene na indústria de gado. Pior ainda, os príons não são facilmente mortos por calor ou radiação, por isso os cientistas ainda não sabem como detê-los. Ainda não está claro por quanto tempo eles podem permanecer dormentes no sangue – vacas, muitas vezes levam de 2,5 a 5 anos para manifestar os sintomas, já nos seres humanos, a incubação pode durar 50 anos. 

A melhor maneira de detectar essas pessoas seria com os exames que os cientistas estão desenvolvendo. “Há uma nova tecnologia que parece promissora”, diz Jonathan Wadsworth, um bioquímico que estuda príons na University College de Londres, mas não estava envolvido no estudo. Os dois testes abordaram o tema de forma diferente, mas com a mesma ideia – eles imitam a progressão da doença em um ambiente amplificado para que pequenos vestígios de príons anormais no sangue tornem-se facilmente detectáveis.

O primeiro passo é separar as proteínas deformadas e cultivá-las ao lado de proteínas normais. Os cientistas usam ondas sonoras para agitá-las. Isso resulta em culturas frescas de proteínas modificadas que se rompem e convertem seus vizinhos, de modo que há uma grande quantidade de príons anormais agrupados.

Esses são separados e cultivados com proteínas normais. O processo é repetido até que o número de príons anormais fique detectável. O primeiro teste foi desenvolvido por Claudio Soto, na Universidade do Texas e testou a abordagem no sangue de 14 pacientes com vCJD e 137 controles, alguns eram saudáveis e outros tinham doenças neurodegenerativas. O teste foi 100% preciso na identificação da vCJD.

O segundo teste foi criado por Daisy Bougard, da Universidade de Montpellier na França. A equipe identificou com precisão 18 pacientes com vCJD, dentre 256 amostras. O teste francês também identificou a vCJD em dois pacientes antes mesmo de apresentarem sintomas. Ambos os testes identificaram um total de 32 casos de vCJD dentre 391 amostras de controle, com 100% de precisão. Os estudos baseiam-se em pequenas amostras, mas os pesquisadores esperam testar grupos maiores e continuar a ajustar a técnica.

E enquanto vCJD, ou doença de vaca louca, pode não ser uma ameaça atual, ainda não temos ideia de quantas pessoas são portadoras silenciosas da condição e que tipo de risco elas correm.

[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Agro Link ]

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