Um novo estudo publicado na revista Nature Communications revelou que um corante vermelho comum nos alimentos industriais pode aumentar o risco de doenças inflamatórias intestinais.
Só nos EUA, mais de 3 milhões de pessoas sofrem com doenças inflamatórias no intestino que podem ser debilitantes e de difícil tratamento, segundo a organização Crohn’s and Colitis Foundation.
O corante alimentar vermelho 40, também chamado de Red 40 ou Vermelho Allura, é encontrado na lista de ingredientes de alimentos brasileiros com a designação INS 129 ou E-129 — um corante quimicamente sintetizado sem origem natural.
Segundo reportagem do New York Post, é o corante mais utilizado em diversos “lanches” populares de origem industrial, como salgadinhos, refrigerantes, sucos, biscoitos, bolachas, balas e até em cosméticos.
Embora o uso de corantes alimentícios tenha aumentado ao longo dos anos, os estudos sobre seus efeitos no intestino são pouquíssimos. O novo estudo revoluciona o nosso conhecimento atual.
“O que descobrimos é impressionante e alarmante, pois esse corante alimentar sintético comum é um possível gatilho para doenças inflamatórias intestinais”, disse Waliul Khan, da Universidade McMaster, no Canadá, em comunicado à imprensa.
“Esta pesquisa é um avanço significativo para alertar o público sobre os potenciais danos dos corantes alimentares que consumimos diariamente”, complementou.
A equipe de Ontário, Canadá, estudou um grupo de camundongos alimentados com altas doses do corante Red 40 por 12 semanas — que os pesquisadores afirmam ser um modelo apropriado para humanos em países ocidentais, onde o corante alimentar está inserido vastamente na dieta diária.
Eles analisaram marcadores em células que desempenham papel nos sintomas de inflamação intestinal, como dor abdominal, inchaço, diarreia, desidratação e fezes com sangue.
Os camundongos que consumiram as maiores quantidades de Red 40 apresentaram níveis elevados de serotonina — que ajuda a regular movimentos intestinais e absorção de nutrientes — sofrendo interferência nas bactérias saudáveis do cólon, levando a inflamações e úlceras do trato digestivo.
Um ser humano precisaria consumir uma quantidade maior do que a recomendada do corante vermelho 40 para produzir os mesmos resultados relatados nos camundongos.
No entanto, mesmo em concentrações alcançáveis, os pesquisadores acreditam que o desequilíbrio biológico causado pela introdução do Red 40 pode tornar o corpo mais suscetível a doenças, no intestino e em outras partes do corpo. “Essas descobertas têm implicações importantes na prevenção e no controle da inflamação intestinal”, disse Khan.
“A literatura sugere que o consumo do corante Red 40 também afeta certas alergias, distúrbios imunológicos e problemas comportamentais em crianças, como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)”, acrescentou o cientista.
O FDA, Food and Drug Administration (órgão dos EUA com mesmo papel da ANVISA) estabelece limite para a quantidade de corante alimentar que pode ser usada em alimentos e cosméticos, além de estipular que a ingestão diária não ultrapasse 7 miligramas por quilo corporal (7 mg/kg) de uma pessoa.
Para uma perspectiva de comparação, apenas o Red 40 em sucos contribui com até 9% da ingestão diária aceitável para crianças com peso médio de 6 a 10 anos de idade.
Um estudo de 2014 na revista médica Clinical Pediatrics descobriu que apenas uma porção da bebida Kool-Aid’s Burst Cherry contém mais de 50 mg de vários corantes (imagem do produto abaixo), afirma o NY Post.
Estudos anteriores já alertavam sobre corantes industriais
Análise de estudos de abril de 2021, encomendada pelo estado da Califórnia, nos EUA, relatou que, dos 25 estudos sobre o assunto, 16 identificaram alguma associação entre corantes alimentícios e problemas neurocomportamentais, em particular exacerbação de problemas de atenção, como em crianças com déficit de atenção / transtorno de hiperatividade (TDAH), entre outros.
O vermelho 40, bem como o amarelo 5 (E102 ou Tartrazina) e o amarelo 6 contêm benzidina — um cancerígeno humano e animal, permitido em níveis baixos e presumivelmente seguros em corantes.
O FDA havia calculou em 1985 que a ingestão de benzidina livre aumenta o risco de câncer para níveis um pouco “abaixo do limiar de preocupação”, algo à época calculado como 1 câncer a cada 1 milhão de pessoas, de acordo com o jornal Daily Mail.
Fonte(s): Nature Communications / Daily Mail / New York Post / National Library of Medicine Imagem de Capa: Divulgação / Redes Sociais Foto(s): Reprodução / Daily Mail / MyMed