Explosões sísmicas feitas para encontrar petróleo podem estar causando impactos letais em populações de plânctons

de Merelyn Cerqueira 0

O uso de rajadas de som para explorar o fundo do oceano em busca de petróleo está mantando populações de plânctons em um raio de um quilômetro de distância.

De acordo com uma nova pesquisa, o alcance total dos impactos pode ser ainda maior que as estimativas, com danos severos à vida marinha. Com informações da Science Alert.

Desde o final da década de 1960, topógrafos vêm utilizando rajadas de ar comprimido para mapear a geologia do oceano, criando ondas de som de até 255 decibéis, enquanto buscam por recursos subterrâneos, como depósitos de petróleo. 

A prática é considerada controversa porque um corpo crescente de evidências sugere que a extensão dos ruídos tem impactos significativos na vida marinha e outros componentes dos ecossistemas circundantes.

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Na pior das hipóteses, estas explosões podem estar causando grandes distúrbios às baleias e golfinhos que estão até 70 quilômetros de distância do raio do epicentro do impacto. Especula-se ainda que o uso de armas de ar poderia atingir peixes, tartarugas e grandes invertebrados marinhos que estão a quilômetros de distância.

Contudo, poucas pesquisas haviam sido feitas sobre os danos no mais baixo andar da cadeia alimentar marinha, que abriga os zooplânctons. “Pode ser que nosso foco tenha sido peneirado por causa das baleias”, disse o principal pesquisador do estudo, Jayson Semmens, da Universidade da Tasmânia.

Em 2015, Semmens e uma equipe de biólogos marinhos de várias instituições de pesquisa na Austrália realizaram um estudo na costa da Tasmânia.

Por meio de redes e sonar, eles mediram o número e diversidade dos zooplânctons vivos e mortes antes e depois do uso de uma arma de ar, semelhante à utilizada pela indústria de exploração de petróleo.

Os pesquisadores descobriram que os números absolutos de zooplânctons caíram em 64% dentro de uma hora de pesquisa, indicando duas a três vezes o número relativo de indivíduos mortos que foram encontrados após o uso da arma de ar. 

Tentativas anteriores de modelar o impacto da acústica dentro de um raio de apenas 10 metros da explosão sugeriram que o ruído era insignificante em comparação à rotatividade naturalmente elevada das populações de zooplânctons.

O estudo descobriu que o impacto real foi 100 vezes maior do que o anteriormente considerado, de até 1,2 km de distância. Com efeito, cada explosão provocada pela arma de ar pareceu gerar buracos maciços através dessas redes de zooplânctons, que demoraram dias para se fecharem novamente.

Os impactos ecológicos desta destruição ainda não estão completamente claros. Os pesquisadores ainda não sabem como exatamente os sons prejudicam fisicamente esses animais microscópicos. Uma possibilidade é que eles destruam as antenas que os plânctons usam para se orientar.

Já a exploração de petróleo é um tema polêmico em todo mundo. Em águas australianas, por exemplo, só no ano de 2014, pesquisas sísmicas atingiram uma distância de pelo menos 16.000 km em busca de petróleo a cada três meses. Estudos como este, pulicado na revista Nature Ecology & Evolution, sugerem que o efeito dessas pesquisas em ecossistemas marinhos está longe de ser compreendido, e é necessário colocá-las sob uma perspectiva ainda mais microscópica.

Fonte: Nature Ecology & Evolution Fotos: Reprodução / Wikipédia / Christian Åslund / Greenpeace

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