Descoberta de anéis em túmulo sugere reconsideração sobre história da Grécia

de Merelyn Cerqueira 0

Pesquisadores da Universidade de Cincinnati, EUA, descobriram um túmulo datado à Idade do Bronze, pertencente a um guerreiro e deixado intocado por mais de 3.500 anos.

Embalado com uma variedade de joias preciosas, armas e outras riquezas, a descoberta foi tida por especialistas como “o achado de uma vida”. Agora, um ano depois das escavações terem sido concluídas, novas análises, particularmente de quatro anéis, sugerem que os artefatos podem fornecer uma nova perspectiva sobre as origens da civilização grega.

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O casal de pesquisadores Shari Stocker e Jack Davis, juntamente com uma equipe de especialistas e estudantes da universidade, se depararam com o túmulo intacto no ano passado durante uma escavação realizada próximo a Pilos, uma cidade antiga localizada na costa sudoeste da Grécia. Dentro, eles descobriram restos bem preservados do que acreditam ser um poderoso guerreiro micênico ou sacerdote que morreu na faixa dos 30 anos e foi enterrado por volta de 1.500 a.C., próximo ao Palácio de Nestor.

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A escavação revelou mais de 2.000 objetos, incluindo quatro anéis de ouro maciço, taças de prata, pérolas, itens de marfim e uma espada. O esqueleto foi apelidado como “Guerreiro Grifo”, em razão de uma placa de marfim que trazia a gravura de um grifo – animal mítico híbrido com corpo de leão e cabeça e asas de águia.

A descoberta foi considerada notável não apenas pelas riquezas dispostas dentro da tumba, mas porque encontrar uma sepultura intacta é um feito raro e histórico. As análises sugerem que os artefatos foram feitos pela civilização Minoica, que surgiu na ilha de Creta, no Sudeste de Pilos. No entanto, os pesquisadores estão intrigados pelo fato do homem ter possuído tal quantidade de riquezas minoicas.

Teorias mais antigas sugerem que os gregos da época podem ter importado ou roubado as riquezas de uma civilização minoica que viveu em Creta. “Nós sabemos que houve extensos ataques pouco depois tempo da data da sepultura, quando os minoicos foram derrubados pelos micênicos.

No entanto, o casal de pesquisadores disse que os artefatos encontrados sugerem uma partilha cultural muito maior entre as duas civilizações do que uma simples pilhagem. Assim, eles insistem que os objetos foram cuidadosamente selecionados e colocados ali, o que revela um pouco sobre a relação entre ambas as culturas.

Tal constatação foi feita a partir de quatro anéis de sinete de ouro que carregavam iconografias altamente detalhadas da cultura minoica, o que oferece evidências de uma provável transferência cultura e “pinta uma imagem mais vívida da sociedade grega antiga”, disseram os pesquisadores.

O primeiro anel mostra um motivo muito comum entre artefatos da cultura minoica: uma pessoa pulando um touro, uma façanha que era considerada uma demonstração de destreza atlética. O segundo, considerado o maior feito de ouro conhecido no mundo Egeu, revela cinco figuras femininas em um santuário à beira-mar. O terceiro representa possivelmente uma deusa no topo de uma montanha segundando um bastão ao lado de dois pássaros. No quarto, e último, foi registrada a imagem de uma mulher oferecendo um chifre de touro a uma deusa, que por sua vez segura um espelho e está sentada em um trono alto.

A descoberta dos anéis levou os cientistas a considerarem que os micênicos poderiam entender os conceitos por trás das iconografias em questão. “As pessoas têm sugerido que as descobertas na sepultura são como o tesouro de Barba Negra, que foi enterrado com uma impressionante quantidade de seu contrabando. Nós acreditamos que neste período as pessoas do continente já entendiam muito da iconografia religiosa dos anéis e já estavam aceitando os conceitos religiosos da ilha de Creta”, disse Davis à Phys.org.

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Ainda, um espelho foi encontrado sobre o corpo do guerreiro, o que pode ser uma referência ao quarto anel. Logo, o objeto sugere que o homem tinha um significado especial para os povos micênicos. Também, uma cabeça de touro feita em bronze encontrada entre os artefatos pode sugerir seu poder e autoridade.

Em suma, a descoberta propõe uma nova compreensão do sistema de crença micênica em transição, quando a cultura minoica começava a ganhar importância na Grécia continental. Como o túmulo do Guerreiro Grifo continha apenas um esqueleto, os especialistas poderão formar uma imagem melhor a respeito de quem ele era e por que estes itens em especial foram escolhidos para acompanhá-lo após a morte.

[ Phys Org ] [ Fotos: Reprodução / Phys Org ]

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