Conheça o remédio que melhora as funções cognitivas do cérebro

de Merelyn Cerqueira 0

Exercícios físicos, boas noites de sono e dietas saudáveis são exemplos de atividades que você pode realizar diariamente para melhorar os níveis de energia do corpo, memória e concentração. Até mesmo o café já foi considerado benéfico para estes casos, graças à presença da cafeína, segundo informações Tech Insider.

Contudo, nem sempre tais opções parecem ser suficientes, e por vezes, você chega a procurar soluções adicionais, como uma pílula que possa providenciar energia suficiente para realizar alguma atividade. Frequentemente sabemos de casos de estudantes sobrecarregados que se arriscam a consumir fármacos como Adderall (anfetamina) e Ritalina (metilfenidato), na tentativa de potencializar as respostas cognitivas do cérebro (para melhorar o desempenho em provas ou concursos).

Porém, em uma revisão publicada recentemente na revista European Neuropsychopharmacology, cientistas de Oxford analisaram uma substância em especial, chamada modafinil, dita ser capaz de melhorar a atenção, memória, aprendizagem e outras habilidades cognitivas.

A melhora cognitiva por meio de fármacos não é uma ideia recente: faz mais de 100 anos que as pessoas usam drogas para aumentar a capacidade intelectual. Sigmund Freud, por exemplo, no início de sua carreira experimentou cocaína. A experiência descrita por ele à época era de “a melhor sensação do mundo”. O matemático Paul Erdõs, por sua vez, era um frequente consumidor de anfetaminas.

Tais substâncias, no entanto, vêm acompanhadas de efeitos colaterais negativos significativos. E é justamente neste ponto que o modafinil foi considerado interessante. Os autores da revisão, Ruairidh Battleday e Anna-Katherine Brem, descobriram que a substância parece não causar quaisquer efeitos secundários graves e também não configura susceptibilidade à dependência – embora ainda existam algumas perguntas sem respostas no estudo.

Battleday e Brem analisaram 24 estudos realizados sobre os efeitos do modafinil no cérebro de pessoas avaliadas como saudáveis. Foram considerados de um total de 267 estudos, sendo rejeitados aqueles não comparados com placebos, realizados com participantes que não fossem saudáveis ou somente com animais. O fato de que os sujeitos analisados eram saudáveis é uma distinção importante a ser considerada. Já que muitos destes estudos olham para os efeitos da droga para ajudar pessoas com deficiências cognitivas.

A partir de testes básicos eles avaliaram apenas um subcomponente de cognição responsável por tarefas mais básicas. Nestes testes, os efeitos do modafinil foram heterogêneos. Em um teste considerado complexo, os autores observaram uma melhora consistente em termos de atenção e capacidade de concentração durante a realização de uma tarefa e processamento de informações relevantes, aprendizagem, memória e função executiva – que inclui a capacidade de assimilar informações para usá-las como planos ou estratégias.

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O filme “Lucy” trabalha com o mito de que só usamos 10% do cérebro e que um remédio poderia nos ajudar a aproveitar toda nossa capacidade cerebral

Mas, será que consumir tal substância pode mesmo aumentar a inteligência?

“Raramente na vida vamos passar um dia inteiro usando um único subdomínio cognitivo – como a atenção, por exemplo. Pelo contrário, nós constantemente prevemos, planejamos e resolvemos problemas – tudo isso envolve o uso de subdomínios de cognição e a integração de suas produções – das mais variadas tarefas e dificuldades. É neste sentido que tarefas complexas podem nos aproximar das nossas tarefas de todos os dias e funcionam melhor do que tarefas simples”, escreveram os autores.

Eles indicam que ainda não sabem exatamente como o modafinil funciona. Originalmente a droga foi planejada ser usada como um tratamento para a narcolepsia, a fim de manter os pacientes acordados, mas, até o momento, ninguém pode dizer ao certo como ela afeta a cognição.

Segundo eles, a melhor ideia até agora é que, ao alterar diretamente a concentração de um grupo de substâncias químicas no cérebro, chamadas de catecolaminas, a substância “regula positivamente a atividade em redes de atenção e controle executivo do cérebro”. Tais mudanças, hipoteticamente, podem permitir aos usuários um melhor desempenho em tarefas cognitivas. “Particularmente aquelas que requerem foco e resolução de problemas”, disseram.

Logo, se você está considerando-o como uma “fonte de atenção e produtividade”, saiba que, a menos que sofra de narcolepsia, o uso não é recomendado. De acordo com o psiquiatra clínico James McGough, da Universidade da Califórnia, “seria como tomar um copo extra de café de que você não precisa”. Os pesquisadores concordam que não foram observados efeitos secundários graves, apesar da maioria dos estudos relatar ligeiros impulsos associados ao humor, insônia, náuseas, boca seca, dores de cabeça e de estômago. Em relação ao potencial de dependência, um único estudo avaliou tal possibilidade, que foi considerada “baixa”.

Contudo, há de se considerar que nenhuma das pesquisas testou o uso de modafinil a longo prazo, e, portanto, não se sabe muito sobre a segurança do remédio durante uso prolongado. Battleday e Brem também salientaram a falta de financiamento para pesquisas sobre a melhoria cognitiva de pessoas saudáveis, devido às questões éticas que envolvem o tema (basta imaginar um mundo hierarquizado em que apenas algumas pessoas pudessem ter acesso a esse tipo de medicamento). “Parece que o financiamento para estudos baseados em drogas para indivíduos saudáveis não consegue atrair bolsas e prêmios médicos”.

Logo, ambos afirmaram que foi difícil encontrar testes relevantes sobre o tema, mas que, agora, eles esperam que o trabalho realizado incentive novos pesquisadores a se aprofundarem no assunto.

[ Business Insider ] [ Fotos: Reprodução / Business Insider ]

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