Cientistas criam contraceptivo masculino que garante 96% de eficácia

de Julia Moretto 0

Os cientistas criaram uma injeção de contracepção masculina que mostrou ser eficaz na prevenção da gravidez.

Essa invenção é muito significativa porque finalmente contraceptivos hormonais podem ser usados nos homens. O hormônio foi eficaz para quase 96 por cento dos homens testados, mas os efeitos colaterais relatados por alguns participantes deixaram os cientistas decepcionados.

Se você está comparando com outros métodos, ele é muito melhor do que o preservativo, fica no mesmo patamar da pílula“, disse o cientista clínico Richard Anderson, da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido. “Os resultados nos dão confiança de que isso pode ser feito“, completa.

Anderson e seus colegas avaliaram 320 participantes saudáveis ​​do sexo masculino com idade entre 18 e 45 anos. Os voluntários experimentaram a injeção projetada para reduzir a contagem de espermatozoides durante o tratamento.

A substância é composta por dois hormônios: progestagênio, que afeta a produção de esperma, agindo sobre a glândula pituitária; e a testosterona, para equilibrar os efeitos de redução de testosterona que este hormônio provoca. Os homens que testaram o contraceptivo tinham relacionamentos monogâmicos de longo prazo com parceiras do sexo feminino e possuíam contagens de esperma saudáveis no início do teste.

Cada um recebeu duas injeções a cada oito semanas, em um período de 56 semanas. Suas parceiras não tomaram qualquer contraceptivo. As amostras de sêmen mostraram que 274 dos participantes mantiveram níveis seguros durante as 24 semanas. Isso mostra que contraceptivo foi eficaz em quase 96 por cento dos usuários.

Mas o experimento resultou em quatro gravidezes, mostrando que a injeção ainda não é tão confiável quanto a pílula feminina – que é cerca de 99,9 por cento eficaz. Os pesquisadores querem deixar o hormônio masculino confiável. “O estudo descobriu que é possível ter um contraceptivo hormonal para homens que reduz o risco de gravidezes não planejadas“, disse o pesquisador Mario Philip Reyes Festin, da Organização Mundial de Saúde, em Genebra, na Suíça.

O que mais preocupa são os efeitos colaterais que alguns homens relataram durante o processo. Os principais sintomas relatados foram depressão, desordens de humor, dor no local da injeção, dor muscular, aumento da libido e acne. O suicídio de um dos participantes durante o ensaio não está relacionado com a utilização do tratamento. Mas a droga poderia ter sido ligada a uma alta dosagem de paracetamol, depressão e outros efeitos adversos.  

O fato de serem observados tantos efeitos colaterais nos deixou realmente preocupados“, comento o especialista Allan Pacey, da Universidade de Sheffield, no Reino Unido. “Para um contraceptivo masculino ser aceito por homens (ou mulheres), tem de ser bem tolerado e não causar mais problemas. Para mim, esta é a principal preocupação deste estudo“, completa.

Embora atualmente não existam contraceptivos masculinos no mercado – com exceção dos preservativos – não há escassez de pesquisas na área. Uma das drogas mais divulgadas, chamada de Vasalgel, que atualmente está em fase de ensaios clínicos, pode estar disponível em 2018. Esta semana, pesquisadores no Reino Unido anunciaram um novo tratamento à base de peptídeos, que pode afetar a locomoção dos espermatozoides. “Os resultados são surpreendentes e quase instantâneos“, contou o pesquisador John Howl, da Universidade de Wolverhampton. “Quando você tem o esperma saudável e adiciona o nosso composto, em poucos minutos o esperma não consegue se mover”.

Em relação ao estudo da injeção, os pesquisadores reconhecem que há mais trabalho a fazer, mas estão confiantes de que estamos chegando cada vez mais perto do resultado. “Mais pesquisas são necessárias para avançar este conceito, para que ela esteja disponível para os homens como um método de contracepção“, disse Festin.

Embora as injeções fossem eficazes na redução da taxa de gravidez, a combinação de hormônios necessita ser mais estudada, para que proporcione equilíbrio entre eficácia e segurança“, completou Festin. As descobertas foram publicadas na The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism.

[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Pixabay ]

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